Opinião

Empurrando com a barriga

Por Carla Hachmann

Um assunto que volta e meia assombra o Brasil, uma nova greve dos caminhoneiros voltou a ser cogitada ontem, após a publicação da nova tabela de frete mínimo, a quarta desde a paralisação da categoria, em maio de 2018.

A principal reivindicação dos caminhoneiros na época, a tabela não consegue se fazer valer. E os motivos são vários. Um dos principais é a falta de fiscalização por parte da ANTT, que se justifica, ameaça, mas não passa disso.

Outro, é a própria legalidade da medida. Desde a primeira publicação entidades questionam sua constitucionalidade, mas o STF (Supremo Tribunal Federal) sentou sobre as ADIs, como se o assunto não fosse importante ou não implicasse em qualquer risco real ao País.

Há pouco tempo, um movimento chegou a ser aquecido e o próprio presidente Jair Bolsonaro precisou intervir para evitar que o País voltasse ao caos vivido há 14 meses. Com seu jeitinho brincalhão e amistoso, Bolsonaro conseguiu reverter, fez algumas promessas, mas a bomba continua acesa.

Agora, a nova publicação anula a primeira, e “corrige distorções”. Para boa parte da categoria, só piorou a situação e os líderes mais esquentadinhos voltaram aos grupos de WhatsApp com a promessa de nova organização.

É burrice tentar sobrepujar a categoria que literalmente carrega nas costas a maior parte da economia do Brasil. É ingenuidade acreditar que palavras amistosas vão compensar a falta de dinheiro para pagar as contas. É perigoso não tratar o assunto com a seriedade que ele demanda.

Nenhuma das constatações feitas durante a greve sobre os problemas de logística foi levada a cabo e o Brasil continua refém do transporte rodoviário tanto quanto lá atrás. Estamos exatamente na mesma situação de 14 meses atrás. Com uma diferença: hoje todos sabem o poder que os caminhoneiros têm e o estrago que eles podem fazer.