Opinião

Educação: esse tema também pertence à iniciativa privada

Opinião de Rafael Segrera

Logo no início da minha gestão, tive a oportunidade de participar de um compromisso especial, alinhado às minhas prioridades sociais. Foi, de fato, tão inspirador que eu e os demais presentes pudemos renovar a energia para todo um novo ciclo.

A nosso convite, um grupo de jovens da comunidade onde estamos inseridos foi conhecer nossa empresa e entender o que nos mantém entretidos no nosso dia a dia. Tive a chance de olhar nos olhos deles, de conversar com eles e, assim, encurtar a distância que eventualmente nos separava.

Resumindo, falei sobre a importância dos estudos e contei algumas das nossas iniciativas, fazendo-os acreditar que eles podem, sim, um dia trabalhar numa organização como a nossa.

Como saída para os problemas de hoje, acredito mesmo nisto: educação, educação de qualidade – o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) número 4 (os ODSs consistem em uma agenda mundial estabelecida pelas Nações Unidas em 2015 para fomentar o desenvolvimento sustentável).

A iniciativa privada pode e deve contribuir com esse tema tão urgente, especialmente em países em desenvolvimento, a exemplo do Brasil. Muito se fala em atração e retenção de talentos, mas, antes disso, as empresas deveriam se preocupar em formá-los.

Estudos revelam que a escassez de mão de obra qualificada pode atrapalhar o desenvolvimento da economia, o que levará a uma guerra por talentos cada vez mais feroz. O assunto é sério e merece atenção.

O Brasil tem menos alunos cursando uma graduação do que alguns dos outros países da América do Sul, como a Argentina, o Chile e a Colômbia. Segundo dados de 2018 da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE, na sigla em inglês), apenas 15% dos jovens brasileiros entre 25 e 34 anos estavam matriculados em um curso do ensino superior em 2015, contra 21% da Argentina e 22% do Chile e da Colômbia.

Mas, antes da graduação, podemos falar dos cursos técnicos, que guardam, sim, grandes possibilidades.

Segundo dados de 2018 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 9 milhões de estudantes brasileiros matriculados no Ensino Médio, cerca de 800 mil frequentavam curso técnico, ou seja, menos de 9%. E, no contraponto, de acordo com uma pesquisa de 2018 encomendada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) ao Ibope, mais de 70% das pessoas formadas em cursos técnicos de nível médio conseguem emprego em até 12 meses após a conclusão.

Ainda no que se refere à educação elementar, parcerias com organizações bem estruturadas são um bom caminho.

Por meio de programas de cunho educacional desenvolvidos em conjunto com instituições renomadas, pessoas de baixa renda têm a chance de entrar no mercado de trabalho ou avançar no empreendedorismo, deixando para trás aquela condição de vulnerabilidade social a que estavam submetidas.

Entendo que as companhias também têm responsabilidade com o aperfeiçoamento, a qualificação dos seus parceiros, fornecedores, clientes. Não há dúvidas de que cursos dedicados promovem benefícios importantes: conhecimento compartilhado, confiança na capacidade técnica dos parceiros reforçada, atuação aprimorada.

Aliás, para tudo isso surtir os melhores resultados possíveis, por que não investir em um centro de treinamentos próprio? O local, com equipamentos de última geração, pode ser aberto tanto a clientes para treinamentos de calendário e/ou turmas fechadas “in company”, quanto às equipes da empresa.

E isso nos leva ao próximo ponto: educação deve ser proporcionada com regularidade também para o público interno.

Uma plataforma de cursos on-line pode ser uma ótima solução. Além disso, é fundamental oferecer programas como de mentoria, em que colaboradores trocam experiências, conhecimentos e pontos de vista, e mentoria reversa, no qual profissionais nativos digitais atuam como mentores de executivos sêniores.

Há muito a ser feito, e as organizações não podem se eximir da responsabilidade de contribuir com a educação. Poder público e iniciativa privada devem somar esforços para ter uma sociedade mais preparada, capaz de construir um futuro mais elétrico, mais eficiente.

Em um dia não tão distante, assim espero, jovens de todas as classes sociais, visitarão empresas próximas às suas casas sem a sensação de que aquele caminho nunca será por eles percorrido.

Rafael Segrera é presidente da Schneider Electric para América do Sul