Cotidiano

Com economia retraída, varejo não espera alta nas vendas

O setor varejista ainda está com movimento muito tímido

 Timidez no comércio indica que recuperação econômica ainda não chegou.
Foto:Aílton Santos
Timidez no comércio indica que recuperação econômica ainda não chegou. Foto:Aílton Santos

Cascavel – O comércio varejista não anda muito otimista quando o assunto são as expectativas de vendas para a Páscoa e para o Dia das Mães na região oeste do Paraná. Com a Páscoa na reta final do mês, ou seja, época de pouco (ou nenhum) dinheiro no bolso, e mais próxima do Dia das Mães do que de costume – a Páscoa será no dia 21 de abril e o Dia das Mães dia 11 de maio, ou seja, 20 dias depois -, a expectativa do varejo é de que o ticket médio seja menor ou que muita gente escolha uma data em detrimento da outra ou pior, fique sem presentear em nenhuma delas.

Somada à proximidade das comemorações, outro fator também preocupa bastante. “A economia não reagiu como se esperava. O setor varejista ainda está com movimento muito tímido, não temos sentido a recuperação no emprego, as pessoas ainda estão pagando as contas que não param de aumentar. Até projetávamos há alguns meses vendas de 3% a 5% maiores para o Dia das Mães, mas concluímos que, se elas empatarem com o ano passado, já está de bom tamanho”, destaca o presidente do Sindilojas (Sindicato dos Lojistas e do Comercio Varejista de Cascavel e região Oeste do Paraná), Leopoldo Furlan.

Outro agravante nisso tudo está o endividamento das famílias. Como a expectativa de melhora na economia era grande no fim do ano passado e se pensava que ela ocorreria de forma imediata, muitos se aventuraram e caíram de cabeça nas compras na Black Friday, no fim de novembro, e nas de Natal. O resultado, segundo Furlan, é a volta de muita gente à restritiva lista do SPC (Serviço de Proteção ao Crédito). “Isso é um ingrediente histórico. As pessoas saem do SPC e do Serasa lá por outubro, novembro e retornam em março, abril… Falta planejamento. Já aqueles que têm planejamento, se tiver um dinheiro em caixa, preferem pagar as contas, os impostos que ainda não acabaram ou vão segurar para uma emergência. Enquanto isso, a economia continua travada”, exemplifica.

Inadimplência cresce 11%

O avanço da inadimplência é constatado, no caso de Cascavel, em números. As inclusões no SPC avançaram 11% no primeiro trimestre deste ano em comparação com igual período de 2018. De janeiro a março, foram 15.252 inclusões na lista dos maus pagadores; no mesmo período do ano passado haviam sido 13.762, segundo os registros do SPC na Acic (Associação Comercial e Industrial de Cascavel).

O mês com maior número de inclusões, entre os três primeiros do ano, foi março, com 5.452. “Isso é o reflexo das compras de Natal”, destaca Leopoldo Furlan.

Por outro lado, o número de exclusões também cresceu em 11%. No primeiro trimestre deste ano foram 9.735 contra 8.805 em 2018, mesmo assim, o número de pessoas que limparam o nome é bem inferior aos que ficaram com o nome sujo no período. A diferença entre inclusões e exclusões somente no primeiro trimestre deste ano foi de 5.517 maus pagadores.

Para Furlan, não dá para projetar melhoras em curto prazo. “Sabemos que alguns segmentos têm mostrado uma possível recuperação, ao menos com crescimento nas cotações de preços, mas negócios mesmo ninguém está fechando. Os financiamentos estão parados. Então a regra é cautela e espera”, considera. “De todo modo, qualquer melhora, quando vier, será bem-vinda. E a gente espera que venha logo”.

Corrida pela venda de ovos de chocolate

Entre os setores que revelam certo otimismo nas vendas está o de ovos de chocolate. O crescimento esperado nas vendas é de algo próximo dos 5%, mas, para garantir ao menos esse percentual, tem supermercado parcelando em até dez vezes a guloseima. Ou seja: chega o Papai Noel e a conta do Coelhinho ainda não estará paga.

Não é para menos, já que os ovos estão cerca de 6% mais caros que no ano passado e os preços estão salgados para a maioria dos bolsos.

Para se ter ideia, um ovo de 600 gramas custa mais de R$ 60. Se a aquisição fosse em barras de chocolate, esse mesmo valor permitiria a compra de dois quilos e ainda sobrava troco para uns bombons.

Mas há quem não dispense o produto, que deve ter a procura intensificada a partir deste fim de semana, afinal, falta uma semana para a Páscoa. “Até agora eles foram peças decorativas no mercado. Nesta semana deve começar as vendas para valer”, conta o gerente de uma grande rede de supermercados, Dario Zimerman.

A expectativa é para que até sábado da próxima semana as araras estejam vazias.

Aos poucos os promotores de vendas intensificam o apelo comercial. Para quem não abre mão dos ovos de chocolate, mas não quer gastar tanto, a dica é ficar atento às promoções, Elas também devem ficar mais intensas a partir da Sexta-Feira Santa e no sábado de Aleluia. “Tudo para agradar o cliente, não deixar ninguém sem e ainda pode parcelar no cartão”, segue o gerente.

“Mas é importante lembrar que, caso você opte pelo parcelamento de ovos de chocolate em dez vezes, você vai passar o Natal pagando pelos doces da Páscoa; é isso o que você deseja?”, brinca a economista Regina Martins.

“A dica é simples, se não cabe no bolso o ovo de chocolate, substitua por uma barra, por uma caixa de bombom. É preciso comprar com consciência para ter crédito e dinheiro para outras contas e para outros desejos. A Páscoa vai passar com ou sem os chocolates caros. O Dia das Mães também. Nenhuma mãe vai ficar furiosa com o filho porque ele não quis se endividar lhe dando um presente caro. É importante pensar nisso e na saúde financeira, acima de tudo”, completou a economista.

Supermercados esperam zerar estoques de ovos nesta reta final para a Páscoa: mas preço está salgado. FotoAílton Santos

Reportagem: Juliet Manfrin