Política

Coluna Contraponto do dia 26 de maio de 2018

Brasileiros não são bonzinhos; nem solidários

Quem viu supermercados cheios em Curitiba e fila de gente comprando produtos básicos a rodo, com medo de escassez, descobriu que somos um povo sem qualquer traço de solidariedade: em caso de farinha pouca o meu pirão primeiro. Também somos bobinhos, ingênuos e absolutamente despreparados para enfrentar qualquer emergência que atinja o confortável (e periclitante, como se viu) modo de vida rotineiro, com tudo nos seus devidos lugares. E aí pode incluir a classe média inteirinha, capaz de passar por cima da mãe, e voltar duas vezes, para defender o tanque do carro cheio e a picanha do churrasco de domingo.

Povinho difícil

E nada como uma greve de caminhoneiros de 4 ou 5 dias para mostrar o lado desprezível da força: ninguém pensa que, se comprar uma quantidade de arroz muito maior do que a costumeira, vai provocar a falta do produto (e o aumento do preço) com rapidez muito maior. E, pior, que a médio ou longo prazo de uma catástrofe, todo o mundo será atingindo, sem perdão. Povinho difícil, o nosso.

Pesquisas…

Além do voto e do eleitor, a presença mais garantida nas eleições paranaenses é pesquisa mandrake. Gasta-se mais em “comprar” resultado do que em obter um resultado. Nessa sexta-feira inglória, a divulgação dos números da Radar Inteligência foi contestada por vários partidos, entre eles dois adversários em outubro, o PDT de Osmar Dias e o PP da família Barros e quatro pedidos de impugnação.

Sem lastro

Divulgar pesquisas sem lastro e com evidentes sinais de manipulação é tão criminoso como as famigeradas fake news. Mas é um argumento fundamental para se convencer o eleitor que o “Ratinho está forte”, mote que o candidato quer marcar desde o início da maratona.

Partidos contestam

A pesquisa de intenção de voto realizada pela Radar Inteligência e divulgada ontem apresenta falhas que podem mascarar o resultado do levantamento. O Tribunal Regional Eleitoral recebeu quatro pedidos de impugnação da pesquisa, entre eles o do PDT. Rede, Partido da Mulher Brasileira e PP também questionaram o levantamento.

Problemas

Entre os problemas apresentados estão o fato de a empresa alegar gasto com a pesquisa que representa 50% do seu capital social; não respeitar critérios técnicos estabelecidos na legislação eleitoral, fazendo adaptações irregulares; além da omissão de nomes de pré-candidatos. “Entendemos que a forma como se apresenta a pesquisa trará números distorcidos, não condizentes com a realidade, podendo beneficiar algum pré-candidato”, diz nota divulgada pelo PDT do Paraná. O TRE ainda vai analisar o mérito dos quatro questionamentos, mas preferiu não proibir a divulgação da pesquisa.

Radar & Traiano

Uma página no Facebook de nome “contrainteligência política” denunciava, em dezembro de 2014, que o Instituto Radar mantém forte ligação com o deputado Ademar Traiano, presidente da Assembleia Legislativa. A começar pelo fato, aparentemente mais do que circunstancial, de a sede da empresa ser em Francisco Beltrão, município que é o principal reduto político do parlamentar. Embora do PSDB, Traiano tem atuado politicamente em favor do deputado Ratinho Jr.

Eleições adiadas?

Pelo menos parte dos partidos de esquerda brasileiros avalia que o movimento dos caminhoneiros – se a comprovação da participação das grandes empresas do setor se concretizar – pode levar ao adiamento das eleições gerais de outubro. Se a situação continuar insustentável e houver uma intervenção, caminha-se para isso, constitucionalmente falando.