Política

Coluna Contraponto do dia 04 de outubro de 2018

Cresce a fila de delatores no Paraná

Envolvidos nos grandes escândalos de corrupção que assolam o Paraná aprenderam com rapidez que o melhor caminho para se verem livres do aborrecimento de ficarem mofando por tempo indeterminado nas celas da Polícia Federal em Curitiba é mesmo negociar uma boa delação. Além de reduzirem penas (ou até mesmo ficarem completamente isentos de cumpri-las), ganham a possibilidade de preservar suas fortunas mediante pagamento de multas e devolução de parte do patrimônio ou dinheiro em espécie.

Os mais velozes

Esses que hoje gozam de liberdade – apenas um pouco restrita – apelaram e tiveram sucesso não só porque fizeram boas delações mas porque foram velozes, chegaram primeiro que outros. Vejam-se os exemplos bem-sucedidos do ex-diretor Paulo Roberto Costa, do ex-gerente Pedro Barusco, dos doleiros Alberto Youssef e Lúcio Funaro, do megaempresário Marcelo Odebrecht e tantos outros. Marcelo resistiu 2 anos e 7 meses de cana, mas acabou fazendo delação.

Atrasados

Já os “atrasados”, como o ex-deputado Eduardo Cunha e o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto foram atropelados por outros, já não têm novidades a apresentar e, condenados, não vêm luz no fim do túnel.

E por aqui…

Essas lições foram bem aprendidas pelos paranaenses enrolados. Envolvidos na Operação Integração II, que investiga as irregularidades nas concessões rodoviárias que propiciaram cornucópias de propinas e que os levou à preventiva na PF, já deram a partida rumo à delação, dispostos a cruzar a linha de chegada o quanto antes.

Quem são I

O primeiro a tomar essa providência foi o amigo-sócio Jorge Atherino, que contratou o advogado Luiz Carlos Soares – o mesmo que deu assistência a Tony Garcia, embora isso fosse necessário apenas formalmente – para conduzir as negociações para sua colaboração premiada. Não é preciso ser pitonisa para antever que, de novo, vai “sobrar” para Beto Richa.

Quem são II

Outro é o ex-chefe de Gabinete Deonilson Roldo – influente assessor que tudo conhece dos porões do grupo Beto Richa desde os tempos da prefeitura de Curitiba. Está prestes a fechar com um grande escritório de advocacia.

Mais um

O empresário Luiz Fernando Wolff de Carvalho, diretor da Triunfo Participações, também preso desde a semana passada, já se mostrou disposto e toma providências para ser o precursor dentre os grandes empreiteiros que respiram o mesmo ar do 1º andar da sede da Polícia Federal. Além de problemas empresariais, vive situações pessoais que o impelem a ser muito rápido.

Beto em dúvida

Durante pouco mais de uma hora, Beto Richa foi questionado pelos procuradores do Ministério Público que investigam a Quadro Negro sobre suas responsabilidades como governador para que não deixasse ocorrer o escândalo da liberação de R$ 28 milhões de verbas públicas (estaduais e federais) para construção e reforma de escolas – obras que, em sua maioria, não saíram do chão. Só o dinheiro saiu do caixa.

Não sei… não sabia

Boa parte das respostas de Beto são “não sei”, “não me recordo”, “não tenho conhecimento” e outras fugas do gênero. Um dos poucos momentos em que foi mais afirmativo foi quando perguntado se estaria disposto a autorizar a quebra de seus sigilos bancário e fiscal. Ele disse que sim, sem problemas.

E como fica agora?

Entretanto, a única afirmação incisiva do ex-governador caiu também por terra nos momentos finais, quando um advogado (não identificado no vídeo) interrompe para fazer uma observação: Beto Richa não estava obrigado a abrir os sigilos, argumentou com os procuradores. Foi um momento de agitação em que quase todos falavam ao mesmo tempo – apenas Beto, com olhar vago, se fazia desentendido a ponto de perguntar: “Então, devo ou não devo abrir meu sigilo?”. Por fim, venceu a tese do advogado – não deve abrir.