Opinião

Coluna Amparar: a sacralidade da intimidade

Na coluna de hoje, queremos tratar da sexualidade como um fenômeno sagrado

Coluna Amparar: a sacralidade da intimidade

Tratamos na coluna da semana passada do caráter misterioso que envolve a sexualidade. No encontro sexual, fazemos uma experiência única: o prazer do orgasmo faz “desaparecer” nosso “eu” para fazer surgir o “nós” do casal. É a prefiguração mais perfeita do sentido da vida a dois.

Na coluna de hoje, queremos tratar da sexualidade como um fenômeno sagrado. “Sagrado”, em seu sentido latino originário, refere-se a qualquer experiência humana separada da cotidianidade.

Bert Hellinger, quando trata do ato sexual, chama a atenção ao seu caráter de vulnerabilidade. Em nenhum outro lugar, afirma, mostramo-nos tão despidos nem nos revelamos de forma tão desprotegida. Por isso, continua ele, também nada protegemos com pudor mais profundo do que o lugar onde o homem e a mulher se encontram amorosamente, mostram e confiam mutuamente o que possuem de mais íntimo.

Dado esse caráter de sacralidade que envolve a sexualidade, a vida sexual do casal deve ser protegida da curiosidade das outras pessoas. Na experiência da sexualidade, acontece a forma mais extrema da intimidade. É onde cada um dos parceiros se expõe ao máximo ao outro.

Na intimidade do encontro sexual, acontece a forma mais completa da entrega. Mostramo-nos por inteiro à outra pessoa, não apenas no corpo despido, mas, sobretudo, nas nossas fragilidades. Em nenhum outro contato humano estamos tão expostos, revelamos nossos segredos mais íntimos de forma mais plena; em uma palavra: somos vulneráveis.

Aqui queremos alertar para o efeito devastador sobre a relação de casal quando alguém revela a intimidade vivida no encontro sexual para as outras pessoas. É uma quebra de confiança muitas vezes irreparável. É uma infidelidade, uma “traição” em relação ao parceiro. Pelo fato de, na experiência da sexualidade estarmos na mais completa vulnerabilidade, “fofocar” os detalhes íntimos da vida sexual é um abuso, uma violação. A gravidade e o impacto na pessoa são similares ao abuso sexual praticado em uma criança vulnerável e indefesa.

Quando “fofocamos” nossa intimidade, destruímos o mistério que envolve a sexualidade e a tornamos algo de domínio público. Toda beleza que cerca a experiência se perde com isso. Torna-se algo banal, disponível a qualquer um.

Os vídeos e as fotos da intimidade de casais que circulam na internet são expressões claras dessa banalização da vida sexual, de sua disponibilização pública.

A preservação do segredo da intimidade sexual é uma exigência que se estende inclusive para as relações anteriores. Nesse caso, incluem tanto os vínculos permanentes com ex-parceiros que deram ou não origem a filhos, quanto os relacionamentos casuais. Quando tornamos públicos os detalhes íntimos vividos na experiência de vulnerabilidade do encontro sexual com ex-parceiros, algo se destrói dentro de nós mesmos. A mesma experiência que cria o vínculo mais profundo na relação do casal é também aquela que pode cavar o abismo intransponível entre eles.

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JOSÉ LUIZ AMES E ROSANA MARCELINO são terapeutas sistêmicos e conduzem a Amparar.

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