Das 35 mil lâmpadas que compõem a iluminação pública de Cascavel, mais de 2 mil estão queimadas e os pedidos de troca não param de chegar. “Nós temos 2 mil pedidos acumulados de troca de lâmpadas e não há prazo para atendê-los. Hoje, de cada dez reclamações que chegam à prefeitura pelo canal 156, nove são de iluminação pública. Os pedidos feitos em fevereiro começarão a ser atendidos em 30 dias e os de março, só daqui a 60 dias”, conta o gerente da área de Iluminação Pública do Município, conhecido como Tião da Copel, cuja mesa está entulhada de solicitações de moradores cansados do escuro.
Dinheiro para isso não falta. Pelo contrário. Cerca de R$ 14 milhões estão em caixa para essa finalidade. O valor foi confirmado pelo vereador Fernando Hallberg, que fez a solicitação no fim do ano passado. A reportagem consultou e insistiu com a prefeitura a atualização desses valores, mas sem sucesso.
A conta da iluminação pública é exclusiva para este fim. Ou seja, o valor pago pelos moradores na conta de luz só pode ser usado para troca de lâmpadas e postes. Historicamente, essa conta é superavitária. Alguns prefeitos até se enrolaram com o Tribunal de Contas ao tentar um jeitinho para usar o dinheiro, mas foram obrigados a devolver.
Casos se multiplicam
O problema está em todas as regiões da cidade. Mas em alguns locais a situação beira ao caos. Exemplo ocorre no Loteamento Gralha Azul. Uma moradora que pediu para não ser identificada afirma que há quadras inteiras com as lâmpadas apagadas, o que coloca em risco moradores que saem ainda de madrugada para o trabalho. Ou daqueles que voltam tarde para casa, a exemplo de estudantes.
Ajuda? Ela afirma que protocolou reclamações ainda em outubro na prefeitura e, depois de pedir ajuda a vereadores, o último prazo lhe dado para o conserto é o próximo dia 30.
Moradores do Bairro Santa Cruz também estão cansados do problema. Segundo eles, em várias ruas existem lâmpadas queimadas, inclusive perto de colégios, e que o pedido de substituição foi protocolado no início do ano, mas que até o momento não houve retorno.
Na Rua Carlos Gomes entre as Ruas São Paulo e Da Lapa, moradores contam que há pelo menos sete lâmpadas queimadas. Essa situação também já foi levada à prefeitura, mas até o momento nada foi feito.
Na região central há vários problemas. O engenheiro agrônomo Mário de Sá diz que já levou diversas situações à prefeitura e que só recebe novas promessas: “Uma promessa atrás da outra e ninguém atende a população. Na Rua Pernambuco há diversas lâmpadas queimadas. É vergonhoso! O setor está abandonado pelo poder público. O Canal 156 [Ouvidoria], supostamente meio para a população chegar à prefeitura, é uma enganação! Tem que colocar mais funcionários no setor para resolver os problemas, fazer alguma coisa concreta que dê resultado”, cobra Mário.
Problema sem solução
O gerente do setor, Tião da Copel, justifica a situação com dois motivos: falta de pessoal e qualidade do material. “Nós temos hoje cinco equipes para atender o setor de iluminação, praças, todas as quadras e as canchas esportivas do Município e dos distritos. Ou seja, é impossível! Nessa terça-feira, por exemplo, as equipes trabalharam no Lago Municipal a serviço da Secretaria de Meio Ambiente. Ou seja, nenhum pedido que chegou ao 156 foi atendido. Hoje entram em torno de 70 a 80 solicitações por dia. Se tivéssemos as cinco equipes trabalhando normalmente e só na iluminação, nós atenderíamos de 120 a 130 demandas por dia, ou seja, conseguíramos eliminar o acumulado e equilibrar a situação”, afirma Tião. Que acrescenta: “Sem contar os fatores naturais. A situação começou a apertar quando, em outubro, tivemos sete dias úteis de chuva em que não conseguimos trabalhar e em outros dois dias os funcionários passaram por treinamento. São nove dias sem atender demanda alguma. Só nesse período entraram 678 demandas [pelo 156]. Se for considerar que pelo menos 100 atendimentos seriam feitos por dia, deixamos de atender 900, que foram somados aos quase 700 novos; ou seja, nosso saldo ficou em 1.700 solicitações pendentes”.
Tião disse ainda que o corte da realização de horas extras deixou a situação ainda mais insustentável, fazendo com que mais de 2 mil pedidos se acumulem sobre sua mesa.
Sem qualidade
Já em relação ao material, as lâmpadas utilizadas, ele explica que a qualidade é baixa e que por isso a substituição é constante: “Na licitação vence quem oferece o menor valor, o que nem sempre tem relação com a qualidade. As lâmpadas hoje duram cerca de três meses, elas têm garantia e quando queimam são trocadas pela empresa, mas nós temos que refazer todo o serviço novamente, o que bate na questão da falta de efetivo e gera um problema maior como está agora”.
Substituição por LED
Há um projeto em andamento para a substituição de 8 mil das atuais lâmpadas por LED, que, além de durar mais, consome menos energia elétrica. “A licitação das lâmpadas que vai incluir a instalação também deve ser feita em no máximo 30 dias. Isso deve aliviar um pouco a situação. Logo após já estamos planejando licitar mais 10 mil da mesma forma”, explica o gerente Tião da Copel.
Atualmente, já existe lâmpada de LED na Avenida Tito Muffato e no Calçadão da Avenida Brasil. Na Avenida Tancredo Neves a instalação deve ser iniciada em breve, assim como na Rua Jorge Lacerda.
A troca das lâmpadas de toda a cidade por LED será gradual, uma vez que muitas das atuais ainda estão em bom funcionamento.
Superávit de orçamento
A reportagem tentou, mas não conseguiu descobrir o valor exato da arrecadação e dos gastos no setor de iluminação pública. A Secretaria de Comunicação informou apenas que aguardava resposta da Secretaria de Finanças.
O gerente da área de Iluminação Pública do Município, Tião da Copel, estima que sejam arrecadados por mês cerca de R$ 1,5 milhão, dos quais R$ 1 milhão são pagos à Copel e cerca de R$ 250 mil seria o custo de material e pessoal. Sobrariam então cerca de R$ 250 mil. “Há, sim, um superávit, não há como negar. E essa verba só pode ser destinada à iluminação pública. Então, verba não falta, o que falta é gente e material de boa qualidade”, enfatiza Tião.
Como citado na primeira parte da reportagem, a reportagem apurou com o vereador Fernando Hallberg que o valor de superávit da conta é de R$ 14 milhões, conforme lhe informado no fim do ano passado. Outra fonte que já teve atuação na secretaria também confirmou esses valores.