Opinião

A verdade não se apaga

Por Carla Hachmann

Em meio à polêmica sobre a indicação do documentário Democracia em Vertigem ao Oscar, no qual já foram listados mais de 45 erros factuais na história que conta sob outro ponto de vista o impeachment de Dilma Rousseff e a prisão de Lula, um dos desvios apontados no roteiro é a forma “en passant” com que trata a crise econômica na qual o País mergulhou e ainda reluta em sair.

Como a distância entre o cinema e a realidade é gigante, os fatos da vida real são bem mais difíceis de serem maquiados ou refutados. Um dos exemplos são as perdas do setor produtivo.

Em meio a dificuldades de manter o ritmo de recuperação da produção, a indústria de transformação encolheu significativamente no País nos últimos anos. Pelo menos 17 indústrias fecharam as portas por dia no Brasil ao longo de quatro anos. De 2015 a 2018, um total de 25.376 unidades industriais encerraram suas atividades. Os números são de levantamento feito pela CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), divulgados pelo Estadão esta semana.

Nesse caso, não tem como romantizar: a extinção de unidades industriais é resultado do acúmulo de perdas na produção da indústria de transformação brasileira entre 2014 e 2016. E os reflexos continuam. Com dificuldades para repor as perdas passadas, a indústria de transformação opera 18,4% abaixo do pico alcançado em março de 2011.

O estudo da CNC mostra que o País tinha 384.721 unidades industriais de transformação em 2014. Desceu a 359.345 indústrias em 2018, queda de 6,6% no total de unidades.

Depois de tantos anos patinando, a expectativa para a produção industrial nos próximos meses é favorável. Mas até recuperar o que se perdeu levará um bom tempo.