Opinião

A responsabilidade é de todos

Por Carla Hachmann

O Sudeste brasileiro continua sendo castigado pelas fortes chuvas que provocam desmoronamentos e enchentes. Apenas ontem mais de 20 pessoas morreram em São Paulo e no Rio de Janeiro, e outras dezenas estavam desaparecidas, muitas delas embaixo da lama.

Ontem mesmo, o prefeito do Rio foi atingido por lama na cabeça em protesto de populares devido à fala de Marcelo Crivella que disse que o povo gosta de morar nas encostas para gastar menos cano para “levar o cocô e o xixi e se ver livre disso”.

Ao se desculpar, voltou a dizer que as pessoas deixam muito lixo de maneira inadequada e, quando chove, a água leva tudo e gera entupimentos e todas essas tragédias vistas.

A população tem, sim, sua grande parcela de culpa. Basta ver a dificuldade em convencer as pessoas em manterem seus quintais limpos para conter a epidemia de dengue. Parece algo cultural. Jogar papel e lata pela janela do carro, despejar entulho em lotes baldios, depositar sacolas de lixo na beira de rios são muito comuns e em todo o País, não apenas do eixo Rio-SP.

Mas essa história também tem outro lado. A responsabilidade dos governos. Afinal, todos os anos a história se repete, dezenas de pessoas morrem, milhares de famílias perdem suas casas e seus pertences, e as grandes cidades viram o caos.

Muito disso poderia ser evitado, só que vira apenas em promessas assim que o lodo que invade as casas seca.

Ano passado, o governo federal executou apenas um terço do orçamento previsto para a prevenção de desastres naturais, volume mais baixo em 11 anos. E, para este ano, a previsão orçamentária é a metade da de 2019.

No Rio de Janeiro, na semana que antecedeu a chuva que destruiu parte da zona oeste e deixou três mortos, o prefeito remanejou verbas previstas para contenção de encostas e para drenagem. O Carnaval foi um dos destinos do dinheiro – cerca de R$ 14 milhões. Cada um precisa começar a fazer a sua parte.