Reportagem: Cláudia Neis
A reação econômica percebida em junho pelo aumento de 10% na emissão de notas fiscais em comparação com 2019 (registrado pela Receita Federal) e pela melhora na arrecadação de ICMS (observado pelo Estado) impacta o setor de transportes. O volume de mercadorias transportadas se aproxima dos patamares pré-pandemia. “A recuperação foi nacional. A queda no Brasil havia sido em torno de 49% no volume de cargas transportadas. No Paraná, em função do agronegócio, o impacto foi menor, não chegou a 30%. Sentimos queda nas cargas fracionadas e relacionadas à indústria, mas, por conta da supersafra, o volume das cargas agrícolas aumentou e minimizamos os impactos. Agora, conseguimos uma boa recuperação em junho, e estamos em torno de 15% abaixo do que registrávamos em março”, explica o presidente do Sintropar (Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística do Oeste do Paraná), Wagner Adriani de Souza Pinto.
Ele acredita que os números devem se manter bons em julho, apesar de parte do Estado ter entrado em quarentena. “Os comerciantes conseguiram se organizar para continuar vendendo pela internet e, mesmo com o fechamento temporário de empresas, a economia continua girando. O que vimos foi uma queda brusca no início da pandemia, que refletiu na redução do volume de cargas, mas o mercado teve tempo para se ajustar e acredito que não deve haver nova queda brusca. As empresas que tinham que encerrar as atividades já o fizeram e as que continuam mudaram o processo de venda, então a quarentena deve impactar pouco nesse sentido. Se não houver fato novo, acredito que, além da recuperação da economia, podemos acreditar, inclusive, em crescimento econômico”, diz, otimista, o líder sindical.
Desoneração da folha
Um novo drama ronda o setor produtivo: o veto do presidente Jair Bolsonaro à prorrogação de desoneração da folha de pagamento até 2021.
Segundo Wagner Pinto, há uma união das entidades de classe para que o veto seja derrubado, pois a medida terá impacto drástico nas empresas e pode causar demissões em massa. “Estamos nos mobilizando para que esse veto seja derrubado no Congresso, pois o recolhimento de cerca de 1,5% [de impostos], passa para 20%. Fica impossível manter”, alerta, citando setores como transporte e construção civil, que seriam bastante prejudicados.
Transporte perdeu mais de 20 mil empregos em maio
Conforme levantamento feito pela CNT (Confederação Nacional do Transporte), o segmento fechou 20.852 vagas de trabalho com carteira assinada em maio deste ano, o quarto pior saldo da série histórica. A maior perda foi registrada no transporte rodoviário de passageiros, com 12.342 (59,2%) vagas fechadas; e de cargas, com 7.955 (38,1%) empregos formais perdidos.
De março a maio de 2020, foram perdidos 56.117 postos, valor próximo das 60.541 vagas que a atividade transportadora perdeu ao longo de um ano completo de recessão econômica no País, em 2015.
Segundo a análise da CNT, a quantidade de demissões poderia ter sido ainda maior se não fossem as alternativas de suspender temporariamente os contratos de trabalho e de recorrer à redução temporária proporcional de jornada e salários disponibilizada pelo governo federal.