PRODUÇÃO

Relatório da Conab confirma: Tem arroz brasileiro suficiente para suprir demanda

A autarquia divulgou números da safra de arroz já finalizada em todo o Brasil, totalizando 10,4 milhões de toneladas

A autarquia divulgou números da safra de arroz já finalizada em todo o Brasil, totalizando 10,4 milhões de toneladas
A autarquia divulgou números da safra de arroz já finalizada em todo o Brasil, totalizando 10,4 milhões de toneladas

O relatório de acompanhamento da safra brasileira de grãos da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) confirmou o que todos têm alertado, mas só o governo tem ignorado: há arroz suficiente para suprir a demanda do mercado interno, indiferente ao impacto provocado pelas enchentes registradas no Rio Grande do Sul, estado responsável pela produção de 70% do cereal no País.

A autarquia divulgou números da safra de arroz já finalizada em todo o Brasil, totalizando 10,4 milhões de toneladas nos meses de fevereiro e março. Há uma sensível redução de 0,9% comparativamente ao último levantamento, estimado em 10,5 milhões de toneladas. Em contrapartida, o relatório aponta para um número superior em 3,6% ao disponível em 2022/23.

Em nota, a Conab explica: “De maneira geral, houve aumento na área plantada em comparação ao total semeado na temporada anterior, algo motivado à época da semeadura pela expectativa de bons preços praticados no mercado do cereal. Porém, o rendimento médio deverá ficar comprometido por conta dos danos às lavouras sul-riograndenses”.

Os preços no mercado internacional subiram a partir da medida adotada pela Índia, barrando as exportações de arroz. Essa decisão gerou reflexos também no Brasil, levando a saca a custar em janeiro R$ 127, provocando um maior interesse dos produtores pelo plantio.

Em recente informação encaminhada à redação do Jornal O Paraná, a Federarroz (Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul), informou que até as cheias registradas no Rio Grande do Sul, restavam apenas 17% da produção para serem colhidas. O atraso maior da colheita ocorreu na região central do estado gaúcho, coincidentemente a mais prejudicada.

A produtividade média tende a cair 2,2%, ou seja, 7.865 quilos por hectare. Na safra 2022/23, a média foi de 8.039 quilos por hectare, a segunda maior da história, superior apenas à temporada 2020/21. Mesmo assim, com todos os prejuízos registrados em razão das cheias, a produção gaúcha deverá registrar um crescimento de 2,1%, atingindo 7,08 milhões de toneladas. O resultado aponta aumento de 148,8 mil toneladas em relação aos 6,93 milhões de toneladas de 2023.

Apesar de mais essa confirmação, o governo federal insiste em realizar os leilões para a aquisição de arroz importado, sob a alegação de “segurar” os preços. Na quarta-feira, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, afirmou que, em até dez dias, o governo já deve ter um edital elaborado, que irá substituir o certame que foi anulado após uma série de polêmicas.

OUTRAS CULTURAS

A produção de grãos no ciclo 2023/2024 está estimada em 297,54 milhões de toneladas. O volume é 7% menor do que o obtido na temporada anterior, o que representa menos 22,27 milhões de toneladas a serem colhidas. A quebra é resultado das condições climáticas adversas que influenciaram as principais regiões produtoras do país. Já os cultivos de segunda safra, que tiveram a colheita iniciada, têm apresentado melhores produtividades e, ao se comparar a estimativa divulgada ontem pela Conab com a publicada no mês de maio, é verificado um aumento de 2,1 milhões de toneladas, com destaque para milho, algodão em pluma e feijão.

Principal cultura da 2ª safra, o milho tem uma estimativa de produção de 88,12 milhões de toneladas. A colheita do produto neste ciclo atinge cerca de 7,5% da área semeada, conforme indica o Progresso de Safra divulgado nesta semana pela Companhia. De acordo com o 9º Levantamento, há disparidade das condições climáticas registradas pelo país, mas foi verificado em importantes estados produtores uma melhora na produtividade das lavouras.

Enquanto que em Mato Grosso do Sul, São Paulo e parte do Paraná, a redução e/ou falta de chuvas durante longos períodos no ciclo do milho 2ª safra provocaram quedas no potencial produtivo, em Mato Grosso, Pará, Tocantins e parte de Goiás, as precipitações bem distribuídas ao longo do desenvolvimento da cultura e a tecnologia usada pelo produtor têm resultado em boas produtividades nos talhões colhidos e boas perspectivas nas áreas ainda em maturação. Com isso, a estimativa para a produção total do grão está em 114,14 milhões de toneladas.

Com a colheita finalizada, a soja tem uma produção estimada em 147,35 milhões de toneladas, redução de 4,7% ou 7,26 milhões de toneladas sobre a safra anterior. No atual ciclo, a área semeada para a oleaginosa foi maior, no entanto as condições climáticas adversas impactaram negativamente a produtividade média no país.

Polícia Federal investiga leilão do arroz

A Polícia Federal iniciou uma investigação para analisar possíveis irregularidades no leilão conduzido pela Companhia Nacional de Abastecimento para a compra de arroz importado. A própria presidência da Conab solicitou a investigação após denúncias de que empresas sem histórico no mercado de cereais haviam vencido o certame.

Além disso, a Conab requisitou à CGU (Controladoria-Geral da União) e à sua própria Corregedoria-Geral a abertura imediata de processos de apuração para investigar todos os aspectos relacionados ao leilão de arroz. Essas medidas visam garantir transparência e responsabilidade na gestão, especialmente em meio à situação de calamidade pública no Rio Grande do Sul, o maior produtor nacional de arroz, buscando manter a estabilidade dos estoques e evitar aumentos excessivos nos preços do produto.

A decisão do governo federal de anular o leilão da Conab foi anunciada na terça, cancelando a compra das 263,3 mil toneladas de arroz que seriam importadas para o país. Também no mesmo dia, o secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura e Pecuária, Neri Geller, foi desligado da função após suspeitas de conflito de interesse.

Foto: CNA/Divulgação