Brasil - Nunca se aplicou tão bem a frase: a galinha dos ovos de ouro. Depois do café, cujos preços chegaram a registrar 40% de aumento no ano passado, o vilão da vez é o ovo. O preço da dúzia não para de subir, afastando cada vez mais os consumidores dessa seção. Entretanto, há quem depende dessa matéria-prima para sobreviver, como é o caso dos comerciantes do segmento da panificação e confeitaria. Esses, não têm alternativa senão a de adquirir o produto, repassando esses custos aos seus clientes. No caso do ovo vermelho, o aumento é de 55% em um mês. Do ovo branco, o percentual absurdo de 62%.
Em um supermercado de Cascavel, há cerca de dois dias, a dúzia de ovos custava R$ 12. Na quinta-feira, a mesma quantidade e marca já era comercializada a R$ 16,43. Já para adquirir a caixa com 20 ovos, é preciso desembolsar a quantia de R$ 30. Nos Estados Unidos, uma dúzia de ovos chegou a custas US$ 12, o equivalente a mais de R$ 60. Lá, a crise é de abastecimento por consequência da gripe aviária e no Brasil, a alta é atribuída principalmente à proximidade da Quaresma, período de jejum e preparação que antecede a Páscoa em que a maioria dos católicos acaba optando por peixe e ovos como proteína em vez de carne vermelha.
Sazonal
Em nota encaminhada para a Redação de O Paraná, a ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal) esclarece que a alta registrada no preço dos ovos é uma situação sazonal, comum ao período pré e durante a quaresma. Após longo período com preços em baixa, a comercialização de ovos aqueceu pela demanda natural da época, quando há substituição de consumo de carnes vermelhas por proteínas brancas e por ovos.
A ABPA ressalta que os custos de produção acumularam alta nos últimos oito meses, com elevação de 30% no preço do milho e de mais de 100% nos custos de insumos de embalagens. Ao mesmo tempo, as temperaturas em níveis históricos têm impacto direto na produtividade das aves, com reflexos na oferta de produtos.
Mesmo com estes fatores, os produtores esperam que o mercado deverá se normalizar até o fim do período da quaresma, com o restabelecimento dos patamares de consumo das diversas proteínas. Embora em alta, as exportações de ovos têm efeito praticamente nulo sobre a oferta interna, já que representa menos de 1% das 59 bilhões de unidades que deverão ser produzidas este ano, o que deve gerar um consumo per capita de 272 unidades anuais – mais de 40 unidades acima da média mundial de consumo.
O Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Esalq/USP lembra que houve um ajuste no mercado de ovos. Ao longo de quase todo o ano passado, os preços ficaram pressionados uma alta produção, o que levou a uma restrição de oferta no campo agora. Somente no quarto trimestre de 2024, a produção de ovos no país foi 11% superior ao mesmo período de 2023, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Na quinta-feira, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, pretende se reunir com os atacadistas em busca de uma força-tarefa para baixar os preços dos alimentos no Brasil.
Supermercados
Há pelos menos 10 dias, a Abras (Associação Brasileira dos Supermercadistas), emitiu uma alerta sobre a alta repentina dos ovos. “Desde a segunda quinzena de janeiro, a combinação de alta demanda e oferta restrita tem levado a reajustes significativos; nesta semana, a elevação já chega a 40% em diversas regiões do país”, comenta a Abras.
Em entrevista à equipe de reportagem do Jornal O Paraná, o economista Vander Piaia, essa alta do ovo é muito comum nesta época do ano. “A oferta de ovos do Brasil está estabilizada, ou seja, existe oferta de ovo disponível. Não é a carência do ovo que tem provocado esse reflexo de alta”, descreve. Para Piaia, o principal fator é a expectativa de aumento das exportações, a partir de um acordo a ser selado com os Estados Unidos. “A esperança é de que nos próximos dias, os preços dos ovos se estabilizem e se coloquem em um novo patamar, porque realmente, eles estão bastante defasados, entretanto, a tendência é de que eles não continuem aumentando”, destaca o economista. Enquanto o preço dos ovos não baixa, a alternativa encontrada pelo consumidor e passar reto – quando possível – recorrer a outras proteínas menos nociva ao bolso do consumidor.
Famílias mantêm cautela com gastos no início de 2025, aponta pesquisa
O início do ano tem se mostrado um período desafiador para as famílias paulistas, com uma série de despesas impactando significativamente o orçamento doméstico. Entre os principais gastos estão o IPTU, IPVA e material escolar, que, somados à alta da inflação, têm pressionado a renda familiar. Uma pesquisa realizada pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomércio) revelou uma queda no consumo das famílias, refletindo a necessidade de cautela e contenção de despesas.
O Índice de Confiança do Consumidor (ICC), medido pela Fecomércio, registrou 123,5 pontos em janeiro, representando uma queda de 7,3% em relação ao mesmo mês do ano anterior. Comparando janeiro de 2025 com dezembro de 2024, a queda foi de 1,7%. Apesar disso, o Índice de Intenção de Consumo das Famílias apresentou um aumento de 3,1% em relação a dezembro, alcançando 111 pontos. No entanto, no comparativo anual, houve uma redução de 1,7%.
A Fecomércio destaca que os dados de janeiro refletem as dificuldades enfrentadas pela população devido ao aumento das despesas típicas do início do ano. Além disso, a previsão econômica para 2025 não é otimista, com projeções de inflação em torno de 55%, o que deve continuar a desafiar os consumidores nos próximos meses.