Cascavel – Nem o dólar voltando aos R$ 4 animou o mercado da soja. No mercado interno, o cereal era vendido essa semana a R$ 68 a saca de 60 quilos, apesar da quebra de quase 15% das lavouras na região oeste. A desvalorização nos últimos seis meses soma 16%, considerando que em setembro, com a tensão eleitoral, o dólar chegou a R$ 4,2, e a saca da soja batia os R$ 80,5.
O economista Luiz Eliezer, do Sistema Faep, destaca que, apesar de a safra dar sinais de encolhimento no Paraná, o Brasil deve registrar a segunda melhor da história.
A baixa cotação tem feito especialistas orientarem produtores a evitar as transações comerciais por enquanto. E o produtor tem ouvido. Tanto que, no oeste, o Deral (Departamento de Economia Rural) calcula que apenas 32% da safra de verão 2018/2019 foi comercializado até agora. Os 68% restantes estão estocados, volume que representa 2,1 milhões de toneladas, uma verdadeira fortuna de mais de R$ 2,4 bilhões guardada em silos e armazéns.
Segundo o economista, a orientação ao produtor segue no sentido de analisar bem o mercado. “Nesta semana, com as instabilidades políticas em Brasília, o dólar voltou a subir, mas ocorre que o bushel [unidade de medida usada na bolsa de Valores e que representa 27,2 quilos] está em US$ 8,8, mas alcançou US$ 10 ano passado. Além disso, existem os estoques internos e os mundiais que estão equilibrados. O que acaba segurando o preço. O sojicultor deve levar tudo isso em consideração para vender no melhor momento”, explica.
Ocorre que o cenário tem sido bastante incerto. De toda soja exportada hoje pelo Brasil, 85% vai para a China. No Paraná, essa realidade se assemelha em percentuais com aumento nas transações no complexo ano após anos. A pauta foi responsável, somente ano passado, por quase US$ 600 milhões em divisas para o Estado. “Se houver a aproximação comercial da China com os Estados Unidos, pode ser que os americanos vendam mais soja para a Ásia. Isso pode afetar o mercado brasileiro, mas é preciso ficar atento à demanda chinesa também, que tem crescido muito”, lembra.
Além dos estoques, o cenário político brasileiro não tem colaborado com os ânimos do mercado. “Se essa instabilidade seguir, o dólar pode continuar a subir. Nessas condições, a soja pode subir de preço, mas ainda temos a safra brasileira que está em plena colheita e ótimas expectativas de produção. Assim, o momento é de observação constante dos cenários”, reforçou.
Reportagem: Juliet Manfrin