Toledo - Uma pesquisa desenvolvida no Hub de Inovação AgriTech Symbiosis da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), campus de Toledo, está transformando um dos principais resíduos da cadeia da tilápia em um ingrediente de alto valor agregado: o colágeno. Iniciado em 2025, o projeto investiga rotas tecnológicas para a produção de colágeno hidrolisado a partir da pele e das escamas do peixe, com foco em sustentabilidade, inovação e fortalecimento da bioeconomia no Paraná.
A iniciativa surgiu a partir de uma demanda da empresa paranaense Oestegaard Kontinuer, especializada no desenvolvimento de equipamentos para o reaproveitamento de subprodutos de origem animal. A empresa busca aprofundar o conhecimento técnico sobre processos industriais de obtenção de colágeno, segmento ainda não explorado em seu portfólio, mas com grande potencial de inovação e mercado, especialmente no Brasil, um dos maiores produtores mundiais de tilápia.
O programa incentiva a integração entre universidade, empresas, governo e sociedade, com o objetivo de agregar tecnologia aos processos produtivos e fomentar o desenvolvimento socioeconômico regional.
Tecnologia
Para Vinicius Torquato, diretor da Oestegaard Kontinuer, a iniciativa do Programa Ageuni/Unioeste promove não somente o agronegócio da região, mas também coloca o Brasil em um patamar de desenvolvedor de tecnologia.
“Apesar de o Paraná ser destaque nacional na produção de tilápia, ainda não há registros de produção industrial de colágeno ou colágeno hidrolisado a partir da pele e das escamas dessa cadeia produtiva no país. Boa parte desses subprodutos é destinada à produção de farinha de peixe para exportação ou simplesmente descartada em aterros sanitários”, explica a professora Mônica Lady Fiorese, coordenadora do projeto.
A pesquisa busca justamente transformar esse cenário. Atualmente, apenas 30% a 40% do peso vivo da tilápia é aproveitado para alimentação humana. Pele e escamas, por outro lado, são consideradas subprodutos de baixo valor comercial. Transformá-las em colágeno representa não apenas o aproveitamento integral da matéria-prima, mas também a geração de emprego, inovação e agregação de valor em um setor estratégico para a economia paranaense.
O colágeno extraído da tilápia apresenta importantes diferenciais em relação às fontes tradicionais, como bovinos e suínos. Segundo Mônica Fiorese, trata-se de um produto com alta biocompatibilidade, baixo risco de contaminação por zoonoses e estrutura molecular semelhante ao colágeno humano, o que favorece sua absorção, especialmente no caso do colágeno hidrolisado. Além disso, o produto atende a consumidores que evitam ingredientes de origem suína ou bovina por motivos religiosos, culturais ou alimentares.
Outro ponto de destaque é a sustentabilidade. O reaproveitamento da pele e das escamas reduz o desperdício, diminui a pegada ambiental do setor aquícola e se alinha aos princípios da bioeconomia e da circularidade produtiva, cada vez mais exigidos pelos mercados globais.
Projeto
O projeto está sendo conduzido em etapas. Inicialmente, as atividades ocorrem em ambiente laboratorial, no campus da Unioeste em Toledo, com foco na definição de condições ideais para pré-tratamento físico-químico, extração, hidrólise enzimática, concentração e secagem do colágeno. Paralelamente, os produtos gerados passam por caracterização físico-química e funcional.
Posteriormente, será definido o melhor processo, e o escalonamento. Os resultados preliminares já indicam frentes com potencial de escalabilidade e viabilidade industrial. A expectativa da equipe é apresentar, ao final da pesquisa, um modelo tecnológico apto à transferência para o setor produtivo.