Cotidiano

Monitoramento de sedimentos ajuda a prever a longevidade do reservatório

Desde 2001, quando começou o monitoramento dos rios nos moldes atuais, a vazão dos rios da região não era tão baixa

Monitoramento de sedimentos ajuda a prever a longevidade do reservatório

Foz do Iguaçu – A água, matéria-prima para a produção de energia pela usina hidrelétrica de Itaipu, esteve escassa no último ano. Desde 2001, quando começou o monitoramento dos rios nos moldes atuais, a vazão dos rios da região não era tão baixa. O Rio Iguatemi, por exemplo, cuja vazão média anual na seção de medição de sedimentos é de aproximadamente 200 m³/s, registrou meros 89 m³/s em 2020. Mas essa estiagem severa, que, a princípio, poderia parecer um problema para a usina, acabou tendo também seu lado positivo.

“Eventos extremos, como cheia e estiagem, são importantes para que possamos ter dados mais precisos para nossos estudos sobre o comportamento dos rios e dos sedimentos que a água leva para dentro do reservatório, especificamente, as areias, os siltes e as argilas”, explica o engenheiro civil e mestre em Sedimentologia Anderson Braga Mendes, da Divisão de Reservatório (MARR.CD) da Itaipu. O trabalho é fundamental para a avaliação da segurança hídrica do reservatório.

A Itaipu faz medições em 15 estações, em seções diferentes do Rio Paraná e de alguns de seus afluentes. Além dos dados coletados por aparelhos e por parceiros locais, cada estação é visitada em média seis vezes ao ano pela equipe responsável pelo monitoramento de sedimentos da usina, para estudos mais detalhados. É um processo trabalhoso, porém essencial.

Os dados coletados são utilizados para a elaboração de gráficos que correlacionam as vazões de cada rio com o transporte de sedimentos. Também permitem fazer estimativas mais precisas do carreamento dos sedimentos nos instantes que a equipe não está em campo medindo, reduzindo drasticamente os custos envolvidos. Dados coletados durante cheias e estiagens são preciosos porque mostram como os sedimentos se comportam em situações hidráulicas extremas e de difícil ocorrência, logo, de rara observação.

Segundo Anderson, “durante os meses de cheia os rios transportam grandes volumes de sedimentos, podendo chegar a até 90% de todo o volume do ano, dependendo do rio em questão. Já na estiagem, esse transporte cai muito, porém esse período também precisa ser investigado, por responder por várias semanas do ano. É importante termos esses dois extremos na curva de transporte de sedimentos para podermos fazer estimativas mais precisas e chegar a dados mais corretos, sem precisar apelar para extrapolações matemáticas”.

 

Muitos anos de vida

Ao longo dos anos, os sedimentos levados pela água vão se depositando no fundo do reservatório, reduzindo sua capacidade de armazenamento e, consequentemente, a vida útil operacional da usina. Por isso, a Itaipu conta com uma equipe especializada para estudar essa questão e acompanhar os montantes anuais de sedimentos que chegam ao reservatório, bem como sua evolução ao longo do tempo.

“O último cálculo que fizemos apontou uma vida útil de 189 anos para o reservatório desde o momento em que foi formado, em 1982. Isso nos coloca numa posição excelente, pois atualmente usinas de grande porte mostram-se economicamente viáveis se possuírem vida útil entre 50 e 100 anos”, afirmou Anderson Mendes.

De modo a diminuir os reflexos do processo de assoreamento sobre a vida útil do reservatório, a Diretoria de Coordenação da empresa desenvolve uma série de medidas, tais como ações destinadas à correta utilização do solo, a correção de estradas vicinais, manutenção e recuperação de vegetações ciliares e projetos de saneamento rural.