Diatomácea, Espirogira e Daphnia. Os nomes de algas aquáticas batizaram as três novas estações de monitoramento da qualidade de água no reservatório de Itaipu. Instaladas no final do ano passado nos braços dos rios Ocoy e São Francisco Verdadeiro, no Oeste do Paraná, as estações começam a gerar os primeiros gráficos que vão aperfeiçoar os estudos ambientais feitos pela Divisão de Reservatório (MARR.CD) da hidrelétrica.
Cada estação contém um sonda com um conjunto de sensores que medem uma série de parâmetros, como temperatura, nível de oxigênio dissolvido, turbidez, pH, entre outros. A cada três horas, a sonda desce e faz as medições em diferentes profundidades. Todo o sistema é alimentado pela energia gerada em uma placa solar.
De acordo com a bióloga Jussara de Souza (MARR.CD), o monitoramento da qualidade da água é fundamental devido às características específicas dos rios represadaos. “Quando o monitoramento é realizado com frequência, as alterações causadas pelas represas podem ser observadas no início e, se for preciso, podemos intervir”, disse. “Outro motivo é que podemos avaliar, a longo prazo, os efeitos na qualidade da água promovidos pelo programa de gestão de bacia da Itaipu”.
Este monitoramento acontece desde 1977, com as saídas a campo dos profissionais para fazer a coleta das informações manualmente. “É um trabalho demorado, leva 15 dias para fazer a coleta”, complementa a bióloga Simone Benassi (MARR.CD). “Agora, a informação chega direto no computador. Automatizamos esta parte do trabalho”.
As saídas a campo ainda acontecem para coletar dados que as estações automatizadas não medem – como quantidade de nitrogênio, fosfato, metais pesados e micropoluentes – e em outras localidades onde ainda não há a sonda. Além disso, uma equipe da MARR.CD precisa fazer a manutenção das estações a cada três meses. É preciso ir de barco até cada uma delas para fazer a limpeza da sonda e retirar o excesso de barro dos sensores.
Descobertas
As estações coletam seis parâmetros que ajudam a entender os processos limnológicos, ou seja, os aspectos químicos, físicos, biológicos e ecológicos do reservatório de Itaipu. Segundo Simone, uma das descobertas diz respeito à estratificação térmica da água, ou seja, a diferença de temperatura de acordo com a profundidade. “Nós acreditávamos que a estratificação ocorria somente entre novembro e fevereiro, mas estamos observando que isso não é verdade. Precisamos analisar um ano todo”, diz.
Simone explica que, em determinadas épocas do ano, as camadas superiores estão mais aquecidas que as inferiores. Em outros períodos, ocorre o contrário. E, em outros, não há diferenciação entre as camadas (fenômeno chamado “desestratificação”). Esta mudança de temperatura nas camadas da água ao longo do ano cria um fluxo circular vital para os organismos aquáticos, por alterar, entre outros parâmetros, o nível de oxigênio dissolvido.
Quando a temperatura da água é mais fria nas camadas superiores (no inverno, por exemplo), ela fica mais pesada e desce fazendo a água do fundo subir. Como os fitoplânctons, que produzem o oxigênio, ficam próximos à superfície, há mais oxigênio na parte superior. Então, quando ocorre a desestratificação, a camada inferior (com menos oxigênio) sobe e permanece na superfície, podendo afetar a vida aquática.
“Acompanhar este fluxo é importante porque, se tiver água sem oxigênio no fundo do reservatório, ela vai subir e matar os peixes que vivem na parte superior”, resume Simone. Segundo ela, o nível de oxigênio dissolvido deve ter uma quantidade mínima de 5 mg de oxigênio por litro de água.
Outro parâmetro alterado pelo fluxo da água é o pH, que precisa estar entre 6 e 9 (neutro). Já a turbidez afeta a fotossíntese dos fitoplânctons – se a água estiver muito turva, vai reduzir a entrada da luz e, por consequência, a fotossíntese. Finalmente, a condutividade é uma medida indireta para identificar, entre outras coisas, a poluição por esgotos.
O objetivo da área, agora, é colocar, em parceria com a margem direita de Itaipu, uma estação maior no corpo central do reservatório, próximo à barragem. Por não estar protegida nos braços dos rios, a estação precisa ser uma plataforma mais robusta, que aguente o movimento da água e os ventos, diz Simone.