HOJE EXPRESS

Lago Azul: A novela de “uma história sem fim!”

Moradores do Lago Azul enfrentam desespero com a falta de progresso nas obras de asfalto que começaram há quatro anos - Foto: Paulo Alexandre/O Paraná
Moradores do Lago Azul enfrentam desespero com a falta de progresso nas obras de asfalto que começaram há quatro anos - Foto: Paulo Alexandre/O Paraná

Cascavel - Quando uma situação está há muito tempo sem solução, o dito popular diz que “aí tem sapo enterrado”. Pesquisando a origem, a expressão é um dito de Portugal que significa estar “no limbo”, “no esquecimento” ou com “pouca esperança” de resultado positivo, sempre usada em contextos ou situações da “falta de progresso”. A expressão é usada para descrever um estado de apatia, de falta de ação ou mesmo de “desespero”.

Desespero é o sentimento que nesta semana voltou a bater a porta dos moradores do Bairro Lago Azul amanheceram sem as máquinas do progresso. O tão sonhado asfalto no bairro novamente passou a ser aquele pesadelo que deixou de ser um sonho perto da realidade. A esperada obra foi iniciada há exatos 4 anos, em março de 2021 com “grande evento de lançamento”! Afinal, o maior desejo do bairro estava sendo concretizado e o pontapé inicial da pavimentação do bairro não poderia deixar de ser comemorado.

Paulo Alexandre/O Paraná

Revolta e frustração

“Não conseguimos entender como pode acontecer isso, tanto problema para uma obra tão simples. Nós moradores estamos com um grande sentimento de revolta, de desânimo e todos estão frustrados porque temos pó no calor, barro na chuva e apenas uma promessa que nunca se cumpre”. O desabafo é do presidente da Associação de Moradores do Bairro Lago Azul, Roberto Zorzan que, bastante desanimado, conversou com a reportagem do Jornal Hoje Express.

O líder comunitário que acompanha a obra todos os dias, conta que não consegue acreditar, mas a empresa retirou todas as máquinas do local, deixando apenas uma grande quantidade de manilhas. E contou que funcionários da empreiteira relataram que o problema foi que “a Prefeitura não pagou o que foi executado” e que, por isso, a empresa teria abandonado a obra. “Eles pagaram por todas essas manilhas que tem mais de um metro de diâmetro, com certeza não iam deixar assim se este não fosse o motivo”, acusou Zorzan.

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“Pinguela abandonada”

Zorzan descreveu ainda que das duas ruas que deveriam já estar pavimentadas, apenas a Rua Lagoa Rodrigues de Freitas é que teve a camada de asfaltou executada, mas ainda falta toda execução da calçada e do meio fio. Já na Rua Lagoa da Pinguela, nada ainda foi feio e o material foi todo abandonado ao longo da “via”, uma coleção de buracos e desníveis. O serviço tinha sido terceirizado pela empresa que contratou funcionários da cidade e dos bairros próximos para que a obra fosse executada dentro do prazo, porém, o cenário é de completo abandono.

Duas obras, só uma “anda”

Logo no início do bairro uma grande placa descreve que a obra estava acontecendo. A placa descreve a reconstrução e a reurbanização das duas vias, que são as principais do bairro, com valor de R$ 4.389.961,50. A informação registrada é que o início foi no dia 30 de setembro de 2024 a conclusão definida para o dia 3 de março deste ano.

De fato a obra iniciou nos primeiros dias de outubro do ano passado, mas pelos os cálculos dos moradores que são os “fiscais de plantão”, não chegou a atingir 50%. A reportagem que esteve no bairro verificando in loco a situação, identificou que no terreno aonde funcionava o pátio de máquinas da obra, tem apenas um caminhão faltando alguns pneus. Além disso, o nome da empresa que estava estampado na placa de entrada do bairro foi retirado.

A empresa que venceu a licitação para fazer a obra é a Executar, de São Paulo, mesma empresa que está executando as obras da Rua Jacarezinho, na Região Leste da cidade, próximo ao Shopping Catuaí, que estão já em fase final. A obra já havia parada durante o recesso do fim do ano passado, mas foram retomadas no dia 23 de janeiro.

“A abandonada” – Parte II

A novela do abandono foi reeditada nesta semana, já que a primeira empresa que venceu a licitação, ainda no começo de 2021, antes da pandemia do Covid-19, também desistiu da que foi iniciada com a previsão de ser concluída em até um ano, ou seja, março de 2022, mas foram paralisadas diversas vezes, aumentando a ansiedade dos moradores.

No final de 2022 a Sesop (Secretaria Municipal de Serviços e Obras Públicas) anunciou que as obras seriam retomadas e um novo prazo foi dado, prorrogando a entrega para 2023. Mesmo assim, o prazo não foi cumprido o que acabou levando o Município a rompendo o contrato, considerando abandono da obra.

A obra, então, estava com apenas 33% executada. Na época a empresa alegou o aumento muito elevado no preço dos materiais decorrentes da crise gerada pela pandemia e, mesmo com realinhamento de preço, que passou de R$ 4,6 para R$ 5,2 milhões, a empreiteira não teve capacidade para conduzir a execução dos trabalhos. O bairro, hoje incorporado a zona urbana, anteriormente, pertencia à zona rural, onde não foi exigida a infraestrutura que hoje se faz necessária para atender condições mínimas de conforto e segurança para os moradores.

O que diz a Prefeitura?


Procurado pelo o Jornal Hoje Express, o secretário municipal de Serviços e Obras Públicas, Sandro Rocha Rancy, disse que a empresa que veio de São Paulo, participou da licitação “porque quis” e que “ninguém a obrigou a fazer serviço para o Município”, porém, se comprometeu a executar a obra do Lago Azul e que, obrigatoriamente, precisa executar a obra para que a fiscalização possa fazer a medição e efetuar os pagamentos. “Depois disso, nós então encaminhamos toda essa documentação para a Caixa Econômica Federal para, aí sim, a Caixa também dar sua validação e fazer o pagamento”, destacou.

Segundo Rancy, ele acredita que ainda nesta semana deve sair a validação do serviço que foi executado pela empresa e que, pela lei, só pode parar com os serviços depois de 90 dias sem qualquer tipo de medição ou recebimento. O secretário disse ainda que a empresa tem que ter consciência que todas as instâncias administrativas previstas em contrato precisam ser cumpridas. “O Município não obriga ninguém a prestar serviço para Prefeitura de Cascavel, mas é necessário entender que há regras, há um contrato a ser seguido e há um cronograma que está sendo cobrado. Não teve erro de medição? Não teve erro de medição, a empresa precisa fazer o serviço para que o Município possa lá e fazer a medição”, reiterou.

De área rural para urbana

A luta dos moradores para melhorias no Lago Azul é antiga. Uma lei aprovada pela Câmara Municipal em 2018 transformou a área rural em urbana, o que incentivou os moradores a cobrarem por mais infraestrutura para o bairro, que conta com cerca de 800 moradores, segundo dados do último Censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Por lá, além da falta de asfalto, ainda há problemas com fornecimento de energia elétrica e com o abastecimento de água.

A Copel está ampliando as redes de energia do bairro e dois trabalhos de construção de redes estão em andamento, para reforçar o sistema de distribuição de energia no bairro. Nas ruas é possível ver postes novos e a previsão é de conclusão dos trabalhos em setembro. O bairro é margeado pela BR-369, com várias empresas instaladas e se destaca pelos grandes lotes (“chácaras”).