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Os esclarecimentos acerca da morte do escritor são parte de uma investigação da juíza federal Maria Servini de Cubria sobre os alegados crimes contra a humanidade cometidos pelas forças do general Francisco Franco durante a guerra (1936-1939), sob a ditadura que ele encabeçou e durante os dois anos seguintes a sua morte, em 1975.
Máximo Castex, o advogado que conduz a investigação sobre o assassinato de um dos maiores gênios da literatura espanhola, disse na sexta-feira disse à Associated Press que a juíza solicitou um relatório da polícia espanhola fechado em 1965, a partir do qual se poderá tomar medidas processuais que “joguem luz” sobre a detenção e morte do poeta.
De acordo Castex, se o governo e a justiça da Espanha encaminharem para o juíza o relatório da Terceira Brigada da polícia de Granada, no sul da Espanha, “será a primeira vez que pode analisar um documento sobre quem teria prendido García Lorca e analisar algumas questões que estiveram sempre duvidosas”. A juíza também pediu ao Ministério do Interior espanhol todos os documentos relacionados com o assassinato.
O advogado reconheceu que “é muito difícil de encontrar os autores vivos”, mas sublinhou que isso “não impede de saber quem foi o autor de seu assassinato”. Historiadores espanhóis afirmam ter encontrado a identidade dos autores do assassinato do poeta, o que ainda não foi determinada pelos tribunais.
Castex representa a Associação para a Recuperação da Memória Histórica, com sede na Espanha, autora da denúncia no caso sobre os crimes do franquismo. A partir da descoberta, em 2015, da existência do documento da polícia, ele apresentou em abril uma queixa à juiza argentina para tentar desvendar as circunstâncias da morte do dramaturgo.
Segundo o advogado, o pedido foi viabilizado por um princípio de jurisdição universal que permite a um país para investigar crimes contra a humanidade, desde que não faça na nação onde perpetrado.
A juíza ainda não recebeu uma resposta das autoridades espanholas. De acordo com o relatório da polícia, o autor de “Bodas de Sangue” foi morto no final de julho ou início de agosto de 1936, pouco depois do início da guerra civil, com outra pessoa cuja identidade é desconhecida. O relatório definiu o escritor espanhol como “socialista” e “maçom” e acusou-o de “práticas homossexuais”.
O documento contém informações diferentes da versão que é tida como válida até então, segundo a qual três outros morreram com ele nas mãos de tropas de Franco.
O local do sepultamento daquele que é um símbolo dos milhares de vítimas de Franco também difere de alguns locais identificados pelos historiadores e onde escavações infrutíferas foram realizadas para encontrar seu corpo.