Toledo – Em tempos de crise, o principal jargão é: transforme a crise em oportunidade. Para isso, a receita é inovar. Especialistas recomendam que a inovação é o caminho para ampliar negócios e conquistar mercados. O problema é que a prática não é tão fácil assim. A falta de conhecimento de onde buscar dinheiro ou de linhas específicas de crédito disponíveis de forma mais acessível, com juros menores e menos burocracia têm mantido os industriais paranaenses apenas no sonho.
Na região oeste não é diferente. Aqui, seis em cada dez (58% do total) industriais utilizaram recursos próprios para inovar. Na média estadual, esse índice chega a 67% e se engana quem pensa que isso ocorreu pela existência de pendências financeiras ou jurídicas. Esse ponto foi um entrave para apenas 10% dos entrevistados, enquanto os demais relataram as dificuldades em se articular com o mercado financeiro e/ou a falta de conhecimento específico no assunto.
Essas são apenas parte das estratificações divulgadas ontem (31) na pesquisa do Observatório Sistema Fiep, a Bússola da Inovação que chega à sua quarta edição. O estudo abrange 906 indústrias de 21 setores em 113 municípios do Paraná.
Do oeste, participaram 151 indústrias de 19 cidades e 21 segmentos. O triplo do registrado no levantamento anterior.
Das indústrias envolvidas no oeste, 30 delas (21%) são da tecnologia da informação, seguidas pelos segmentos de alimentação e bebidas e construção civil, cada uma respondendo por 14% do total.
Cenário atual
Segundo o estudo, a região está acima da média de todas as dimensões de inovação, com destaque maior em investimentos, atividades de inovação e métodos de proteção, mas ainda há um longo caminho a se percorrer para conquistar mercados e consolidar marcas, produtos ou serviços.
E como os entraves para chegar ao crédito aparecem com relevância no levantamento, fomentadores passaram a integrar a cadeia de debate, como o BRDE e a Fomento Paraná. Houve, inclusive, alterações nos editais de modo que se pudesse simplificar o acesso às linhas existentes, em uma forma de desburocratização dos recursos à inovação.
Os dados relevam mais. No Paraná, 52% dos industriais realizam atividade de pesquisa e desenvolvimento, e, no oeste, 61%. Porém, isso aparece com alta prioridade para 11% das empresas do oeste e 9% às estaduais. “Esse ainda é um desafio: precisa-se incentivar o processo de inovação e ele precisa ser prioridade porque vai se reverter em ganho de mercado”, explica o pesquisador Augusto Machado, do Observatório.
Bons exemplos
Entre os bons desempenhos está o de melhoramento de produtos existentes ou desenvolvimento de algo novo, condição apontada por 57% dos entrevistados. Ao menos 49% ampliaram a eficiência de processos internos e implantaram melhores práticas de gestão, mas apenas 14% investiram em novos processos de distribuição.
“Outro importante desafio é a evolução de competências técnicas e emocionais, ter capacidade e conhecimento técnico, mas é fundamental buscar parceiros, outras instituições, além da interação com os atores do ecossistema com melhorias no processo de inovação”, completa o pesquisador. “Mas, na região oeste, encontramos um cenário promissor, com empresas comprometidas com a inovação, exemplos encontrados em municípios como Toledo, Cascavel, Palotina, Terra Roxa…”
Métodos de proteção não são prioridade
No cenário estadual, os métodos de proteção, procedimentos que garantem segurança às inovações, dificultando cópias e imitações também aparecem em destaque com uma baixa adesão, o que pode colocar em risco práticas inovadoras implementadas pelas empresas.
O meio mais utilizado, em 36% dos casos, é a marca registrada. Os acordos confidenciais, uma estratégica de caráter informal, são empregados em 21% delas. O registro de desenho industrial e de patentes foi sinalizado por apenas 7% dos pesquisados. “Esse é um ponto que preocupa porque não garante a exclusividade de exploração da inovação, o que pode comprometer os ganhos da empresa, o valor percebido pelo cliente e pelo mercado, e a própria competitividade”, alerta a gerente executiva do Observatório, Marília de Souza.
“As empresas não estão conseguindo inovar para fora, para o mercado, para o mundo… Muitas não chegam a interagir nem com consumidores nem com fornecedores. Essa troca de informações é de fundamental importância para o sucesso de uma inovação”, ressalta Marília.
Vale destacar que 81% das participantes da pesquisa são empresas de pequeno e de médio porte.
Estratégias e planejamento
Para o presidente do Sistema Fiep, Edson Campagnolo, o objetivo do estudo tem sido avaliar o nível de esforços, de gestão e os resultados com implantação de projetos inovadores podendo assim reavaliar o planejamento das empresas e ter mais segurança ao tomar decisões. “Com os dados em mãos, nossas indústrias podem recorrer a fontes adequadas de crédito para investirem em tecnologia, em produtos de alto valor agregado, em adequação de processos, em melhorias de gestão. Tudo isso vai gerar um ganho significativo de competitividade”, garante.
Reportagem: Juliet Manfrin