A verticalização estrutural é uma realidade observada hoje em Cascavel. Por onde os olhos alcançam, é possível se deparar com algum edifício em construção. As obras estão cada vez mais sofisticadas e imponentes. Esse é um dos resultados do momento vivido pela construção civil, extremamente aquecido. Entretanto, na medida em que obras surgem por todos os cantos da cidade, aumenta também o rigor e a fiscalização quanto aos cuidados necessários para manter essas edificações bem longe de sinistros, como o que está ocorrendo em um prédio de 25 andares, na vizinha cidade paraguaia de Ciudad Este, na divisa com Foz do Iguaçu.
Em entrevista ao O Paraná, o gerente regional do Crea-PR (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná), engenheiro civil Geraldo Canci, destaca a seriedade do tema tratado pelos engenheiros civis, eletricista e de segurança no trabalho em Cascavel e nos municípios do oeste paranaense. Prova desse cuidado é a programação de encontros prevista para os próximos dias em Cascavel e Foz do Iguaçu. A primeira reunião com síndicos será no dia 12 de março, em Foz do Iguaçu, e em Cascavel, no dia 19 de março, na sede do Secovi (Sindicato da Habitação e Condomínios).
As atenções também são voltadas para os canteiros de obras, com participação e orientação constante dos engenheiros de segurança no trabalho.
400 sinistros
Com base em levantamento feito junto ao 4º Grupamento do Corpo de Bombeiros, com sede em Cascavel, em 2023, foram registrados perto de 400 sinistros envolvendo incêndios de todas as naturezas. Incêndio em obra ou construção, apenas uma. A maioria das ocorrências foi em residências, totalizando 61, e 57 em terrenos baldios. Incêndio em automóveis somaram 37 ocorrências. Em seguida, aparecem os barracões, com 12 e 10 no comércio.
Para o capitão André Eckermann, do Corpo de Bombeiros de Cascavel, como hoje em dia a fiscalização está “muito em cima”, o Corpo de Bombeiros acaba renovando todo o ano as licenças para utilização dos espaços comuns das áreas residenciais. “Isso acaba gerando sempre uma revisão do sistema preventivo, como por exemplo, a troca anual dos extintores, verificação das saídas de emergência; os incêndios em edificações prediais são muito raros”.
O último grande episódio envolvendo um prédio em Cascavel ocorreu no dia 11 de março de 2017, quando o vazamento de gás seguido de explosão destruiu um apartamento inteiro na região da Loteamento FAG, provocando a morte da estudante de Medicina, Maria Luisa Kamei, depois de 40 dias internada no Hospital Evangélico, em Curitiba.
Foto: João Martins Neto
Incêndio em edifício de 25 andares é controlado quase uma semana depois
Foram seis dias de trabalho intenso, mas finalmente, a ação conjunta dos bombeiros voluntários de Ciudad del Este (Cidade do Leste) com apoio dos bombeiros paranaenses, da Itaipu Binacional e de Porto Iguaçu, na Argentina, conseguiu controlar o incêndio no prédio de 25 andares da Flytec, no Paraguai. Os bombeiros de Cidade do Leste emitiram uma nota informando que o fogo do edifício foi extinto às 2h30 da madrugada de sexta-feira (16), com o último foco no 16º andar controlado, finalizando os trabalhos nas primeiras horas da manhã do mesmo dia. O próximo passo, agora, é a realização de uma perícia para descobrir as causas do sinistro.
O incêndio iniciou perto do meio-dia na última segunda-feira (12). As suspeitas são de um curto circuito, provocando as chamas que se concentraram do 12º ao 16º andar. Informações extraoficiais dão conta de que algumas das salas já serviam como depósito de eletroeletrônicos e de bobinas de fibra óptica.
A reportagem do Jornal O Paraná conversou com um especialista em grandes estruturas de Foz do Iguaçu, que preferiu não se identificar. O edifício foi construído por intermédio de uma técnica conhecida como estruturas protendidas, compostas por concreto e aço. A resistência oferecida pelo concreto protendido é de duas a três vezes maior do que as utilizadas em concreto armado.
O risco de o prédio ruir existia caso esse controle das chamas demorasse mais tempo, no entendimento do profissional. Porém, para isso acontecer, seria necessária uma combinação de fatores, como por exemplo a alta temperatura e o peso existente nos andares. A preocupação inicial era com a presença das bobinas de fibra óptica que podem pesar até 350 quilos cada uma. Pelo que foi apurado inicialmente, essas bobinas mais pesadas estariam nos andares inferiores. Na parte superior, estariam os eletroeletrônicos.
A necessidade de controlar as chamas o quanto antes era fundamental para evitar o desabamento. Nas próximas 24h, a estrutura já deverá recuperar a resistência, segundo informações do especialista. Outra característica do edifício é que ele é composto por lajes nervuradas, ou seja, trata-se de uma laje maciça com nervuras de concreto interligadas, recomendada para obras com grandes vãos, como é o caso do edifício de Cidade do Leste.
O calor intenso deve ter provocado deformações de algumas lajes, o que estaria aumentando o risco do chamado efeito dominó, em que uma laje cede, derrubando as inferiores e resultando no desmoronamento da estrutura. Na zona de incêndio, as temperaturas oscilaram entre 700 e 800 graus.
Uma inspeção no edifício deverá ser realizada pelos engenheiros responsáveis neste fim de semana.
estacionamento e “criptomoedas
A ocupação do Edifício Flytec seria da seguinte forma: os sete primeiros andares, dedicados à estacionamento; no meio, depósitos de mercadorias e na parte superior, salas comerciais. A estrutura já estava praticamente pronta e a fase atual era a de colocação de vidros na fachada. Todas as ruas no entorno foram bloqueadas para garantir a segurança de comerciantes e turistas. Outras informações dão conta de que nos andares do meio, funcionava uma mineradora de criptomoedas.
Foto: Reprodução/Redes Sociais
Ajuda brasileira
O Jornal O Paraná, conversou com o capitão Misael Duarte, do Corpo de Bombeiros de Foz do Iguaçu. Ele classificou o incêndio de “complexo e de difícil acesso”, por se tratar de uma localização íngreme, tornando mais delicada à logística de adequações de viaturas a serem empregadas no local. O comando de toda a operação foi dos bombeiros voluntários paraguaios. A incompatibilidade de acoplagem dos materiais usados pelos paraguaios e brasileiros foi outro entrave que dificultou o controle da situação.
Somente de Foz do Iguaçu, foram 25 bombeiros, além de quatro viaturas leves para transporte, equipamentos e dois caminhões de incêndio.