Cotidiano

Crítica: em terceiro álbum, Ed Sheeran se divide para voltar a multiplicar

65233855_Singer Ed Sheeran performs on stage at the Brit Awards 2017 in London Wednesday Feb 22 2017 (1).jpgRIO – Mais do que a maioria dos cantores e compositores, o inglês Ed Sheeran é bom em matemática. Seus dois álbuns que venderam milhões e fizeram sua cabeça ruiva tornar-se, em movimento exponencial, uma das mais reconhecidas no planeta foram intitulados tão somente de “+” (2011) e “x” (2014). À meia-noite desta sexta-feira, ele soltou nas plataformas digitais o terceiro, “÷, cujo significado possível não é o de que ele vá dividir seu trono com ninguém ? mas que chegou a hora de cindir-se em vários Ed para poder conquistar ainda mais territórios.

Nas 12 faixas do novo disco (16 na edição “Deluxe”), ele ainda é o velho contador de histórias, o cara das canções, um sujeito comum se equilibrando nesse mundo conturbado. Mas é também o analista frio que surfa no big data e que, à base de cálculos, tenta agradar à maior quantidade de almas que ainda possam ser tocadas pela música pop. “÷”, de Ed Sheeran

Com produção dos peritos Benny Blanco e Steve Mac, Ed Sheeran vai no sentido oposto de sofrência da conterrânea Adele (a grande vendedora de discos da temporada passada, com o álbum “25”) e joga com a positividade, em uma seleta de canções que tem um pouco para todos os gostos ? e nada com um gosto particularmente saboroso.

A faixa de abertura de “÷” é “Eraser”, rap-confissão que é apenas uma das faixas auto-referentes do disco (“e quando o mundo está contra mim é que eu eu realmente ganho vida”, prega ele na letra). Volta de Ed à cena depois de um ano longe das redes sociais, o disco tem logo em seguida as duas músicas que ele lançou em janeiro, e que bateram recordes no Spotify, com mais de seis milhões de audições cada uma, apenas no primeiro dia: “Castle on the hill” e “Shape of you”. Ed Sheeran – Castle On The Hill [Official Video]

Não poderiam ser mais diferentes. “Castle” é um rock moderno, sem um fio de cabelo fora do lugar, em que o cantor fala da volta, vitorioso, à cidade natal de Framlingham, em Suffolk. Já “Shape” é um balanço com letra safada e hedonista (“estou apaixonado pelo seu corpo”), bem ao que se esperaria de um Justin Bieber. Na outra faixa mais sacudida do disco, “New man”, Ed adota um papel radicalmente diferente, o do cara bacana que foi trocado pela namorada por um tipo fanfarrão, mas que não perde a fé de que ela vai voltar: “Eu sei que você está sentindo falta de todo esse tipo de amor.” Ed Sheeran – Shape of You [Official Video]

Uma espécie de canção soul das antigas, “Dive” parece indicar que o cantor jogou algum tempero raro para dar sabor ao seu fast food, mas no fim das contas é só uma cantada barata, sub-Bruno Mars. E daí em diante ele se afunda nas baladas românticas, que são muitas: “Perfect” (meio anos 1950, feita para a namorada), “Happier”, “Hearts don’t break around here”, “How would I feel (paean)” e a de encerramento (e de auto-ajuda) “Save myself” (“antes que eu ponha a culpa em alguém, tenho que me salvar / antes de amar alguém, tenho que me amar”).

O que há de incomum no disco está longe de ser o importante ? e tem mais a ver com uma atabalhoada tentativa de ganhar a atenção de determinados setores demográficos. Ed Sheeran joga um violino irlandês tanto em “Galway girl” (que ele teve que brigar para botar no álbum) quanto em “Nancy Mulligan”. E usa todos os clichês latinos imagináveis em “Barcelona” (“Quero você solamente”) e na caribenha “Bibia be ye ye”. Afinal, vai que cola, né?

Cotação: Regular.