Reportagem: Juliet Manfrin
Cascavel – Há 32 dias a região oeste do Paraná não registra chuvas uniformes nem significativas. Aliás, este mês de agosto se desenha como o mais seco dos registros do Simepar (1997). Para se ter ideia, os meses de agosto mais secos foram 1999 (1,5 milímetro) e 2012 (1,8 milímetro). E agora, desde o dia 1º, foi registrado apenas 0,4 milímetro. Segundo o meteorologista Reinaldo Kneib, a média histórica é de 85mm.
A secura tem sido tanta que, para onde se olhe, a paisagem parece amarelada, mas boa parte já foi consumida pelo fogo. Por todo o Estado, segundo registro do Corpo de Bombeiros, houve quase 1,7 mil ocorrências de incêndio na primeira quinzena deste mês, além de 2,4 mil em todo o mês de julho. E elas não param de aumentar.
A má notícia é que tudo isso vai permanecer assim pelas próximas semanas. E pode até piorar. Até havia previsão de chuva ontem, mas ela não veio. “A frente fria desta semana não teve força para quebrar o bloqueio atmosférico no oeste e trazer umidade. Também não deverá esfriar, só as temperaturas máximas vão cair um pouco e a umidade do ar sobe, de resto, nada mais muda”, explica Reinaldo.
Dentre os problemas mais sérios já identificados está o do abastecimento urbano de água. A Sanepar alerta que ficará comprometido se não chover de forma expressiva nos próximos 20 dias. Ou seja, os problemas de abastecimento poderão ser sentidos em três semanas.
Em Cascavel, o nível do Rio Cascavel teve redução de cerca de 40% nas últimas semanas. Isso exigiu que a companhia aumentasse a vazão de saída do vertedouro, para dar conta do abastecimento.
Ainda não há registro de municípios com desabastecimento no oeste. Contudo, a Sanepar informa que o consumo dos últimos dias tem sido muito similar ao do verão. E reforça: a regra é usar a água com consciência.
Efeito imediato: clínicas e consultórios lotados
Outro resultado da falta de chuva é visto nas clínicas e nos consultórios médicos. Eles estão lotados daqueles que sofrem até para respirar. A secura tem atacado todas as idades.
O pneumologista Humberto Golfieri Junior destaca que o consultório está cheio e não são pacientes com sintomas iniciais. “Os pacientes já tentaram alguma medicação comum caseira que não resolveu e chegam com um processo alérgico instalado, o que era só uma tosse, agora já tem secreção, o que era só uma renite, se transformou em uma sinusite… Só que, enquanto não chover, isso não vai mudar”, alertou.
Para sobreviver, a dica é “criar” umidade. O pneumologista Humberto Golfieri Junior recomenda: hidratação constante, muita água e outros líquidos, soro fisiológico, toalhas úmidas pela casa, recipientes com água no quarto à noite e manter a residência fechada em dias de muito vento. “Além disso, é preciso ter os cuidados básicos com a limpeza da casa”, sugeriu. “Curiosamente, no ano passado, tivemos o inverno mais chuvoso. Existe um agravante: em setembro essas condições se potencializam porque temos o pólen das plantas que também agravam as doenças respiratórias. Temos um período de muitos cuidados pela frente”.
El Niño não veio; chuva só no dia 31
A única previsão de chuva para as próximas semanas é para o dia 31 de agosto e menos de 10mm. E olha que isso ainda pode mudar.
Um sinal de que as previsões falham, e bastante, diz respeito justamente ao que era esperado para este inverno. No início da estação, os institutos meteorológicos alertavam que este seria um inverno muito quente. Até aí, tudo certo porque as temperaturas estão mesmo mais elevadas do que nos anos anteriores. Mas a previsão também indicava muita, muita chuva. Além de ela não aparecer em julho nem em agosto, a secura vai se estender até a primeira quinzena de setembro, pelo menos. Quem faz o alerta é o meteorologista Reinaldo Kneib, do Simepar: “A previsão errou. Acreditava-se que iria chover muito com a influência do El Niño, mas ele acabou se dissipando. A umidade da região amazônica não consegue avançar até o Sul e fica mais concentrada sobre o Centro-Oeste e o Norte do Brasil. Então, por enquanto, não devemos contar com chuva por aqui”.
Aumento de queimadas agrava situação
Quem tem tido bastante trabalho é o Corpo de Bombeiros do Paraná. Um exemplo do esforço intenso diz respeito à ação integrada para apagar as chamas que consumiram mais metade do Parque Nacional de Ilha Grande do dia 8 até o último domingo (18). No sábado a situação ficou crítica com ventos que chegaram a 100 km/h e alastraram as labaredas. Populares se uniram à equipe, composta por quase 80 profissionais, para tentar cessar as chamas. No domingo, o incêndio foi dado como controlado.
Além dos veículos em solo, duas aeronaves tentavam controlar a queimada com jatos de água. Ainda não foi feita avaliação completa de tudo o que se perdeu com o fogo, mas se estima que 35 mil dos 76 mil hectares do parque, segundo o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), tenham sido atingidos. O instituto é responsável pela administração do parque que fica nos municípios de Altônia, São Jorge do Patrocínio e Alto Paraíso, todos no noroeste do Paraná.
O Corpo de Bombeiros tem alertado que “no Paraná, possuímos uma vasta área de agricultura e uma grande parte de Mata Atlântica preservada que nas estações de outono e inverno sofrem com uma diminuição significativa das chuvas. Nesse período, o solo e os vegetais ficam mais secos, propiciando de forma mais facilitada o início de um foco de incêndio que pode ser provocado pela ação humana e também pode ser provocado por fenômenos naturais como com a queda de raios e combustão espontânea. Por isso, é extremamente importante termos consciência em nossas atitudes para que não ocorram incêndios cuidando assim da proteção da natureza”, completa o alerta da corporação.