Região Oeste

Calor castiga e impacto econômico começa a ser sentido no campo e na cidade

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Cascavel – Como se já não bastasse o calor e a escassez hídrica, agora Cascavel convive com uma densa fumaça resultado das queimadas espalhadas por todo o Brasil. De acordo com informações apuradas junto ao site de monitoramento da qualidade do ar, as partículas de poeira presentes na atmosfera da cidade estão 17,2 superiores ao preconizado pela OMS (Organização Mundial da Saúde).

Segundo o meteorologista do Simepar, Samuel Braunn, somente as chuvas localizadas nos principais focos das queimadas no Brasil, como Amazônia e no Centro-Oeste, poderá atenuar a concentração de fumaça no ar em todo o país. Mas é preciso chover consideravelmente e essa não é a previsão. Ao que tudo indica, toda a fumaça hoje concentrada no Paraná será levada pelo vento em direção ao Sudoeste brasileiro.

Historicamente, o Paraná nunca viveu uma situação como essa. De janeiro a agosto deste ano, o Corpo de Bombeiros registrou pelo menos 10 mil focos de incêndio. O período crítico é atribuído às queimadas florestais, resultado da ação desmedida e criminosa do ser humano. A falta de chuvas e a baixa umidade relativa do ar também são fatores responsáveis por tornar a ambiência crítica, tanto para a população como para a agricultura e pecuária.

A mais recente análise do Cemaden, o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais revela um dado alarmante: 2024 será o ano com a seca de maior extensão territorial e intensidade do país das últimas sete décadas. São cerca de 5 milhões de km² com alguma condição seca, ou seja, o equivalente a 58% do território brasileiro. Como não poderia ser diferente, vários setores da economia já sentem o impacto da seca severa.

A equipe de reportagem do Jornal O Paraná conversou com representantes dos segmentos empresarial e do agronegócio para entender melhor os reflexos da estiagem na cidade e no interior.

Emergência no campo

Na agricultura, o presidente do Sindicato Rural de Cascavel, Engenheiro Agrônomo Paulo Orso, comenta que a seca extrema aliada às baixas temperaturas registradas dias atrás, inclusive com a ocorrência de geadas, trará um impacto extremamente grande. “Na lavoura, já estamos aptos e liberados para poder plantar nesse período, que seria o início do plantio”, comenta. “Dentro desse plantio previsto nesse período de setembro até dezembro, ideais de plantio, não podemos nem fazer as operações que antecedem ao plantio, para a preparação desse terreno, seja ele na aplicação de defensivos, seja na preparação”.

Para Orso, outra área bastante afetada é a de rentabilidade. “É preciso plantar com segurança e estamos perdendo as melhores janelas de plantio. O risco de ficar com uma produtividade aquém do esperado é iminente”, aponta.

Uma dúvida frequente. A perda da janela poderá afetar ou comprometer o seguro da área? “Não, porque o seguro já está dentro dessa extensão”. Em contrapartida, há o risco da subsistência do seguro, prejudicado porque não há recurso da União.

Orso defende um decreto de situação de emergência para que o produtor rural tenha respaldo para tomar as medidas cabíveis no caso de perdas ocasionadas pelas intempéries climáticas.

Na pecuária, as atenções são para a falta de pastagens. A maioria está seca e correndo risco de incêndio. “Se o fogo atingir essas áreas, será preciso, no mínimo, três anos para recuperá-las, pois tudo aquilo que vinha se construindo em nível de solo, de cobertura, é prejudicado comprometendo os resultados das próximas safras”.

Para o Oeste paranaense será um impacto estrondoso, principalmente econômico. “Vai faltar alimentação na pecuária, para o gado leiteiro, gera escassez hídrica para abastecer as propriedades por conta do calor, gerando um tripé de problemas”. Conforme Paulo Orso, o produtor novamente está à mercê do tempo. “As temperaturas altas podem queimar as sementes. É preciso cuidado para fazer o investimento de plantio, é necessário plantar com segurança, e plantar com seguro”.

Graves problemas nas pastagens

A seca tem provocado graves problemas em relação às pastagens. O alerta é do presidente da Sociedade Rural do Oeste do Paraná, Devair Bortolato, o Peninha. Em entrevista ao O Paraná, ele relata que logo após as geadas, que prejudicaram as culturas, tudo secou. “Na entrada da primavera, é hora de começar a brotar a pastagem para o gado se alimentar”, afirma.

Segundo ele, com o calor excessivo e a falta de chuva, a terra seca mais rapidamente, impossibilitando qualquer plantio. “Cada dia que se passa, é um pouco de germinação que deixa de ter, menos pastagem, o gado vai emagrecendo e desencadeando problemas que vão refletir lá na frente”.

Conforme Peninha, essa perda de tempo já comprometeu no mínimo um mês de pastagem no período 2024/2025, que se encerra no mês de maio do próximo ano. “A brotação começaria em setembro e seguiria até o inverno de 2025 com pasto bom, mas já temos comprometido metade de setembro e até começar a brotar, vai para o fim deste mês”. Isso representa no mínimo 10% a menos de produtividade de pastagem nesse ano. Toda essa junção de fatores começa a gerar problema para a economia regional, na ótica de Peninha.

“A cidade sofre com isso, por quê? Porque deixa de gerar dinheiro, o comércio, o serviço sofre bastante com essas secas e com essas perdas de produtividade. Além do fogo e esse mal-estar que você sente com essa fumaça. O perigo do fogo nos ronda pra todo lado aí. Então essa seca já resultou em 10% de perda, não no valor financeiro, mas 10% de perda no potencial de pastagem, que também reflete financeiramente”, complementa o presidente da Sociedade Rural do Oeste do Paraná.

Estiagem gera preocupação entre classe empresarial

Cascavel – A estiagem prolongada está gerando grande preocupação entre os empresários e líderes locais em Cascavel e na região Oeste do Paraná. Silvio Canabarro, presidente da Associação Comercial e Industrial de Cascavel, expressou sua apreensão quanto aos impactos da seca na economia local, que é fortemente dependente da agricultura.

“A gente enxerga com uma preocupação muito grande, pois vivemos numa região onde a agricultura e a agroindústria são pilares fundamentais. A cidade de Cascavel, em particular, depende enormemente da agricultura. Se a agricultura vai bem, o comércio, o varejo e a indústria também prosperam. No entanto, se a agricultura enfrenta dificuldades, o dinheiro circula menos, o que pode levar a problemas significativos no varejo e em outros setores econômicos”, destacou Canabarro.

A estiagem não só afeta diretamente as atividades agrícolas, mas também provoca consequências indiretas, como a diminuição das vendas no varejo e uma possível crise econômica local. O presidente da Acic ressaltou que, apesar de a região Oeste ser conhecida por sua robusta atividade industrial, a dependência da agricultura ainda exerce uma grande influência sobre a economia local.

Além da seca, a fumaça das queimadas em estados vizinhos, como o Mato Grosso, também afeta a qualidade do ar em Cascavel, apesar de ainda não haver grandes incêndios na região. “Estamos começando a sentir os efeitos da fumaça que vem de outras áreas. Embora ainda não tenhamos queimadas significativas em nossa região, a situação já é perceptível e preocupa a todos nós”, observou Canabarro.

Com o cenário atual, Canabarro espera uma mudança no clima nos próximos dias para mitigar os impactos negativos e ajudar a reverter o quadro econômico. A colaboração e o monitoramento das condições climáticas serão essenciais para apoiar a agricultura e, consequentemente, a economia local de Cascavel.

Alerta para cuidados no calor

Em recente passagem por Cascavel, o presidente da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), Ricardo Santin, também teceu comentários ao Jornal O Paraná sobre o calor extrema e as consequências para o setor de proteína animal. “Precisamos reforçar ainda mais as práticas de sustentabilidade. Cada um precisa fazer sua parte. Redobrar os cuidados nas granjas, nas empresas, incentivando a adoção de energia renováveis”.

Ele chama a atenção para as ondas de calor extremas, que acabam elevando a mortandade das aves e dificulta a conversão. “Então tem que cuidar muito com a temperatura da água, para que se hidrate mais, consuma mais ração e se manter resistente”.