Neste domingo, se comemora o Dia do Agricultor. E em 24 de julho, foi a vez do Dia da Suinocultura. Diante dessas datas importantes no contexto do agronegócio, a pergunta que não quer calar é: há motivos para comemorar? Para encontrar essa resposta, a equipe de reportagem do Jornal O Paraná conversou com entidades do setor e especialistas para entender melhor o comportamento da atividade e quais os principais desafios.
A carne suína se destaca na mesa do consumidor. Comparada a outras proteínas, como por exemplo, a carne bovina, é mais barata e tem a preferência da família brasileira. Recente pesquisa da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal) revela a predileção pela carne suína. O consumo per capita anual do brasileiro está em 18,3 kg.
No ano passado, a produção nacional recorde atingiu 5,16 milhões de toneladas, correspondente a 4% do total mundial. No ranking global de maiores produtores, o Brasil ocupa a quarta posição, atrás da China, União Europeia e Estados Unidos. De toda a carne produzida no Brasil, 75% é para atender o mercado interno e o restante, é destinado para o exterior. De toda a produção global comercializada, 3% é do Brasil, gerando uma receita de US$ 2,8 bilhões.
De todo o total exportado, a região Sul responde por 91,7%. Dos três estados, Santa Catarina é responsável por 54,6%, seguido pelo Rio Grande do Sul, com 23,1% e o Paraná, com 14%. Em relação ao Valor Bruto da Produção, a atividade gera R$ 34,5 bilhões.
Não é por acaso que Toledo, município da região Oeste distante 42 quilômetros de Cascavel é conhecida como a capital do suíno. O município detém o maior plantel do Paraná e porque não dizer, do Brasil. São 1.209.338 leitões.
A equipe de reportagem do Jornal O Paraná conversou com o secretário do Agronegócio, Inovação, Turismo e Desenvolvimento Econômico, Diego Bonaldo, para saber sobre as principais conquistas e desafios da atividade neste ano. A suinocultura é a principal atividade econômica e carro-chefe do agronegócio do vizinho município.
“É uma atividade que move o desenvolvimento de Toledo desde a década de 1960, com a implantação de um frigorífico que se tornou a maior planta industrial do Brasil de abate de suínos”, comenta Bonaldo. Os mais de um milhão de suínos produzidos e criados em Toledo, ajudam a combater a evasão rural. “Tal relevância levou a administração pública a dedicar uma atenção especial ao suinocultor, elevando a qualidade de vida e garantindo, por exemplo, a pavimentação asfáltica de pelo menos 400 km de estradas rurais”, pontua. Além de garantir o escoamento da produção, o asfalto proporciona segurança no transporte dos alunos. A suinocultura é a maior geradora de ICMS de Toledo, revertendo em benefícios para os cerca de 150 mil habitantes do município.
O aproveitamento de dejetos suínos como fonte de geração de energia limpa consiste atualmente em um dos principais desafios de Toledo. “Seja o suinocultor ou qualquer produtor rural do Brasil, há uma consciência ambiental e na verdade, é quem preserva a maior parte do nosso ecossistema”.
Essa utilização dos dejetos é apontada como um dos principais gargalos. “Realizamos a destinação correta. Entretanto, o entrave consiste na transformação desse dejeto em um produto rentável”. Há uma capacidade enorme de criar um mercado atrativo para o produtor, de forma a gerar mais renda no campo. “Já temos algumas tecnologias e agora é preciso dar viabilidade”. Em 2023, o VBP (Valor Bruto da Produção) de Toledo somou R$ 4,592 bilhões. Desse total, a suinocultura responde por 39,2%, ou seja, R$ 1,8 bilhão.
O modelo de produção e acesso ao mercado por integradoras é o adotado por mais da metade dos suinocultores do Paraná. Depois vêm aqueles ligados a cooperativas, mas também há quase mil produtores que atuam de forma independente.
Os modelos integrado e cooperado estabelecem vínculo entre o produtor e a entidade que os congrega, o que garante fluxo de produção e venda mais estáveis, pois se destinam às agroindústrias das próprias empresas. Já os independentes tomam todas as decisões técnicas e financeiras de forma individual, o que possibilita flexibilidade em negociações, apesar de mais sujeitos a flutuações de mercado.
Segundo a Adapar (Agência de Defesa Agropecuária do Paraná), 2.105 produtores de suínos (51% do total) acessam o mercado por meio de integradoras, outros 1.078 (26%) estão em cooperativas e os restantes 969 (23%) são independentes.
A integração é modelo mais frequente nas regiões Oeste, Sudoeste, Sudeste e Centro-Oriental do Paraná, totalizando 97 municípios. Toledo lidera o sistema, com 405 produtores, seguido por Nova Santa Rosa, com 135. As mesmas regiões concentram os cooperados, presentes em 68 cidades. Novamente Toledo está à frente, com 175 estabelecimentos, vindo a seguir Marechal Cândido Rondon, com 135.
História da suinocultura
A domesticação e criação de suínos têm origens em regiões da atual Europa e Oriente Médio, por volta de 8000 a.C. Esses primeiros animais, descendentes de javalis europeus e asiáticos, chamavam atenção pela rusticidade. No Brasil, a criação de suínos teve início com a chegada dos colonizadores europeus, que trouxeram os primeiros animais ao país, que foram cruzados e adaptados ao clima e às condições ao longo do tempo. Hoje, a suinocultura é altamente tecnificada e importante, com o Brasil estando entre os maiores produtores e exportadores globais da proteína.
A finalidade principal da produção passou por uma mudança significativa ao longo de sua história. Os porcos eram criados, inicialmente, para obter gordura e banha, produtos muito utilizados na culinária e na fabricação de sabão e velas. No entanto, em meados dos anos 60, para atender a demanda populacional por produtos mais saudáveis e com menos gordura, em paralelo à introdução dos óleos vegetais no Brasil, os produtores de material genético começaram a selecionar as linhagens de porcos com maior eficiência na conversão de alimentos em carne magra, e não em gordura.