Respeitando as indicações do Zoneamento Agrícola, o plantio de trigo nas lavouras do Paraná teve início oficialmente em 1º de abril. Historicamente, o Paraná é considerado o maior produtor nacional do cereal, mas de uns tempos para cá, vem perdendo esses status para o Rio Grande do Sul. Em entrevista concedida à reportagem do Jornal O Paraná, o analista de trigo do Deral (Departamento de Economia Rural), ligado à Secretaria Estadual da Agricultura e Abastecimento, engenheiro agrônomo Hugo Godinho, comenta que o Rio Grande do Sul tem produzido mais e plantado uma área maior, em comparação com o Paraná.
O Brasil continua a ser depende de outros polos produtores da América Latina para suprir a sua demanda interna. Já o Paraná, tinha ficado bem menos dependente nos últimos anos, e importava mais por conta de uma parceria estabelecida com o Paraguai, muito mais inclusive do que o trigo argentino. “Nessa safra, por conta de uma série de fatores, temos uma expectativa de produção menor que a nossa capacidade de moagem”, antecipa Godinho.
Ação do clima
O Paraná vinha tendo um bom desempenho nos últimos anos, recorrendo a uma área maior de plantio, chegando a 1,4 milhão de hectares. “Mas apresentamos problemas recorrentes em relação ao clima”. Nos anos de 2016 e 2022, a produção foi considerada boa. “Para esse ano, se produzirmos bem, vamos chegar a três milhões de toneladas, entretanto, nossa capacidade de moagem é para 4 milhões de toneladas”, explica o analista de trigo do Deral. Para suprir a demanda restante, será preciso novamente recorrer ao Paraguai, Argentina e até mesmo ao Rio Grande do Sul. “O trigo vem perdendo espaço, por que sempre foi uma cultura de risco”.
O cereal é substituído pelo milho segunda safra. “Questão climáticas e recorrentes ao longo do tempo, desanimam o produtor. Quando ele consegue plantar e colher, não consegue preço. E quando consegue plantar e aproveitar um mercado favorável, é afetado pelo clima. Isso tem gerado um desestímulo ao plantio”, completou.
Sem segurança
Os produtores também sentem alijados de uma política de incentivo e segurança no campo. “Nos últimos anos, tivemos um aperto na questão dos seguros. Muitas safras com problemas e com isso, as seguradoras acabaram tendo dificuldades para cobrir as perdas ano após ano”, relata. “Diante disso, ocorreram algumas mudanças nas regras do seguro e hoje é mais difícil acessar o prêmio”.
A junção de fatores leva o produtor a olhar com mais atenção para o milho em vez do trigo. “O milho é uma cultura mais simples, com menos problema de qualidade de uma liquidez maior”. Em relação aos preços, não estão em um patamar ruim, conforme o analista do Deral. “Se for observar, o preço está melhor que no mesmo período do ano passado, porém, os riscos variados fazem o produtor recuar em relação ao plantio”.
Retração
A expectativa para a safra de 2025 aponta uma retração significativa na área destinada à cultura. A estimativa inicial prevê redução de 20% na área plantada, caindo de 1,14 milhão para 910 mil hectares. Apesar de o plantio seguir permitido até junho, o cenário atual não favorece um aumento significativo na área de cultivo. Caso a estimativa de plantio se confirme, esta será a menor área de trigo no Paraná desde 2012.
(retranca)
Produção brasileira revisada para baixo
A produção brasileira de trigo na safra 2025/26 foi revisada para baixo pela consultoria StoneX. A nova estimativa é de 8,6 milhões de toneladas, o que representa uma queda de 4,2% em relação à projeção do mês anterior.
Segundo a consultoria, a retração se deve, principalmente, à redução de área plantada no Paraná. As intenções de plantio no Estado apontam para uma diminuição de 16% em comparação à safra passada, com área estimada em 1,05 milhão de hectares. A StoneX atribui essa queda à tendência de substituição do trigo pelo milho safrinha, especialmente entre os produtores da região norte do Estado. A consultoria destaca que a dificuldade de acesso a seguros e financiamentos, somada à descapitalização após frustrações com a soja, tem gerado cautela entre os produtores. Em contrapartida, outra parcela do setor acredita na manutenção da área plantada, mesmo com investimentos mais enxutos.