Agronegócio

Pecuária projeta prejuízo de US$ 500 mi com suspensão de exportações de carne

Bovinocultura de leite,Vaca, leite
Bovinocultura de leite,Vaca, leite

Cascavel – A suspensão das exportações de carne bovina para a China, atribuída ao caso atípico de EEB (Encefalopatia Espongiforme Bovina), mais conhecida como “mal da vaca louca”, tem potencial de provocar um prejuízo de cerca de US$ 500 milhões ao Brasil. A previsão é da AEB (Associação de Exportadores Brasileiros), considerando o valor a uma interrupção de 30 dias. A quantia é inferior às perdas originadas pelos dois casos de “mal da vaca louca” entre setembro e dezembro de 2021, que alcançaram a cifra de US$ 1 bilhão e levou à suspensão das exportações por 90 dias.

Dados apurados junto à Abrafrigo (Associação Brasileira dos Frigoríficos) referentes à 2022, mostram uma receita aproximada de US$ 8 bilhões. O montante representa mais de 60% da receita total de exportações para o setor. A China absorve 57% da proteína animal exportada pelo Brasil. Na sequência, aparece os Estados Unidos, com 9,4%. A carne brasileira sacia os paladares em 102 países mundo afora.

A tensão gira em torno do reflexo ocasionado pelo surgimento do caso atípico de vaca louca em um frigorífico de Marabá, no Pará. O presidente da Padrão Beef, Lindonez Rizzotto, explica que o mal da vaca louca é resultado de uma mutação de uma proteína normal, observada em animais com mais idade. “A China compra animais do Brasil com no máximo 30 meses de idade”, salienta.

Segundo Rizzotto, o caso ainda não gera reflexos no preço da arroba do boi nos principais estados produtores. Na região oeste, por exemplo, o valor sofreu uma sensível majoração, chegando a R$ 280 a arroba. “O que convém salientar é que o Brasil tem um risco ínfimo de mal da vaca louca típica, uma vez que, tradicionalmente, o rebanho é alimentando exclusivamente de proteína vegetal”. A forma atípica do mal da vaca louca é uma mutação espontânea. A partícula proteica infecciosa fica alojada no organismo dos animais por 10 anos, por isso, o surgimento em animais com idade mais avançada. As amostras do animal infectado foram encaminhadas para o Laboratório em Alberta, no Canadá. “Essa forma atípica não causa problema nem em pessoas e muito menos em outros animais que estão juntos”.

O que diz a Adapar

O gerente de Sanidade Animal da Adapar (Agência de Defesa Agropecuária do Paraná), Rafael Gonçalves Dias, disse em entrevista concedida ao Jornal O Paraná que o caso atípico de mal da vaca louca no Pará não se trata de um problema sanitário, mas, sim, de uma situação normal. “Não tem nada a ver, por exemplo, com os casos típicos da doença, registrados na década de 1990, no Reino Unido”. Vale ressaltar que o Brasil nunca notificou casos típicos da doença.

Para Gonçalves Dias, a confirmação do caso tem dois lados. Aquele em que vem à tona e o considerado positivo, pois mostra todo o cuidado que o Brasil tem com a sanidade e a investigação com rigorosos exames feitos nos animais nos frigoríficos. “Quem investiga acha. É uma mutação natural em animais mais velhos”.

Para o gerente da Adapar, o ruim é porque mexe com o mercado, mas em contrapartida, comprova que o Brasil leva a sério a prevenção da EEB. “Infelizmente, é o efeito colateral de se fazer um trabalho bem feito envolvendo esses animais destinados ao abate”. O caso atípico é originário de um touro com nove anos de idade.

Rafael Gonçalves Dias disse ainda que a doença não provoca transmissão coletiva. “Não é igual a febre aftosa, com a necessidade de sacrificar o animal e o rebanho”. Segundo ele, o grande problema dessa doença é se o animal abatido ou resíduos dele, sejam transformados em alimentação para outros ruminantes em forma de farinha como suplemento nutricional alimentar. “Como houve o resultado positivo, esse animal foi retirado e incinerado, eliminando quaisquer riscos”.

Foto: ABR

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Um único animal de nove anos

O Ministério da Agricultura forneceu mais detalhes sobre o caso. Segundo a pasta, a doença atingiu um animal macho de nove anos, idade considerada avançada para bovinos, numa pequena propriedade em Marabá (PA). O animal era criado em pasto, sem ração, e teve a carcaça incinerada na fazenda, que foi interditada pelo governo do Pará em caráter preventivo.

Segundo o ministério, o caso foi comunicado à OMSA (Organização Mundial de Saúde Animal). As amostras foram enviadas para o laboratório referência da instituição em Alberta, no Canadá. Após análise o laboratório poderá confirmar se o caso é atípico, ou seja, sem risco de transmissão para outros bovinos e para humanos.

“Todas as providências estão sendo adotadas imediatamente em cada etapa da investigação e o assunto está sendo tratado com total transparência para garantir aos consumidores brasileiros e mundiais a qualidade reconhecida da nossa carne”, ressaltou o ministro Carlos Fávaro, em nota.