O primeiro evento ocorreu nesta terça, em Cascavel, no auditório da Acic (Associação Comercial e Industrial de Cascavel), e o segundo, será nesta quarta, em Marechal Cândido Rondon, na Acimacar - Foto: Vandré Dubiela/O PARANÁ
O primeiro evento ocorreu nesta terça, em Cascavel, no auditório da Acic (Associação Comercial e Industrial de Cascavel), e o segundo, será nesta quarta, em Marechal Cândido Rondon, na Acimacar - Foto: Vandré Dubiela/O PARANÁ

Cascavel e Paraná - A sanidade animal está no centro das atenções no Oeste do Paraná. Nesta terça e quarta, produtores rurais, médicos veterinários, técnicos e gestores públicos têm a oportunidade de aprofundar o debate sobre brucelose e tuberculose, doenças que ameaçam não apenas os rebanhos, mas também a saúde humana e a economia da região.

Os encontros integram o Fórum Conexão: Brucelose e Tuberculose, promovido pela Câmara Técnica de Sanidade Agropecuária do Programa Oeste em Desenvolvimento, com apoio de instituições públicas e privadas do setor.

O primeiro evento ocorreu nesta terça, em Cascavel, no auditório da Acic (Associação Comercial e Industrial de Cascavel), e o segundo, será nesta quarta, em Marechal Cândido Rondon, na Acimacar.

Mais do que uma discussão técnica, o fórum tem foco estratégico. A brucelose e a tuberculose bovina representam sérias barreiras sanitárias e comerciais, impactando a competitividade da pecuária leiteira e de corte. Além das perdas produtivas diretas — como queda na fertilidade, descarte de animais e redução na produção de leite —, as doenças podem inviabilizar exportações de produtos de origem animal. Esse inclusive é um dos temas da palestra “Principais entraves para a exportação de lácteos”, proferida por Eduardo Portugal, médico veterinário da Frimesa com longos anos de experiência no segmento da cadeia de produção leiteira. Em entrevista à equipe de reportagem do Jornal O Paraná, ele afirmou que o ponto de equilíbrio é a qualidade e o padrão da matéria-prima, a começar pelo que é feito porteira adentro. “É uma junção de fatores sanitários indispensáveis para nos tornarmos competitivos no mercado global”. Segundo ele, é preciso se readequar para alcançar a plenitude de serviços. Portugal chamou a atenção também para os cuidados que precisam ser adotados nas fronteiras, com o fortalecimento das barreiras sanitárias.

Avanços e desafios no Paraná

Já a médica veterinária Marta Freitas, da Adapar, apresentou o painel “Brucelose e Tuberculose: onde estamos e onde queremos chegar”, traçando um panorama dos avanços e desafios do Paraná no controle dessas enfermidades. O Estado é referência em vigilância sanitária, mas ainda enfrenta desafios quanto à testagem sistemática e ao manejo sanitário adequado em propriedades menores. No ano passado, o Paraná registrou 882 casos de brucelose. O trabalho de monitoramento não para. Atualmente, o Estado é o que mais conta com médicos-veterinários no País. “Com base na nossa realidade, precisamos de no mínimo 10 anos para alcançar 80% de vacinação e somente a partir disso, podemos pensar em parar de vacinar o plantel”, descreve. Em 2024, o Paraná produziu 4,56 bilhões de litro de leite e o Brasil, acima de 35 bilhões de litros.

No Paraná, 155.789 propriedades contam como bovinos. Deste total, 36% têm aptidão para comercialização de leite. A produção aproximada ao dia é de 12 milhões de litros. Ao todo, o Estado conta com 117 propriedades certificadas como livre da brucelose e tuberculose em 46 municípios. Entre os principais desafios, consta a instabilidade na oferta de insumos e vacinas; falhas na execução de testes diagnósticos e falta de analise epidemiológica nos locais de maior ocorrência.

O tema também foi analisado sob o enfoque da saúde única — conceito que integra os cuidados com a saúde animal, humana e ambiental, por meio da 10ª Regional de Saúde. Em foco, os impactos da brucelose e tuberculose na saúde humana, destacando os riscos de contaminação em populações rurais e em trabalhadores que lidam diretamente com o gado ou produtos de origem animal.

Para Paulo Vallini, coordenador da Câmara Técnica de Sanidade Agropecuária do Programa Oeste em Desenvolvimento, a proposta é fortalecer a consciência regional sobre a importância da prevenção e da vigilância. “O controle efetivo dessas doenças é condição básica para garantir mercados, proteger a saúde pública e preservar o patrimônio pecuário do Oeste paranaense”. Ao reunir agentes do setor produtivo, veterinários e profissionais da saúde, o evento busca integrar esforços em toda a cadeia, desde o manejo nas propriedades até a segurança dos alimentos que chegam à mesa do consumidor. Em uma região que é referência nacional em produção de leite e proteína animal, a sanidade dos rebanhos não é apenas uma questão veterinária — é um pilar econômico e social. Inscrições gratuitas e informações completas estão disponíveis nos sites da Acic e da Acimacar.