Paraná - O anúncio recente de possível taxação por parte dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros acendeu um sinal de alerta entre líderes do setor agropecuário. Para o Departamento Técnico e Econômico da FAEP (Federação da Agricultura do Estado do Paraná), caso a proposta avance, os reflexos serão especialmente danosos ao agronegócio paranaense.
“Existe uma preocupação significativa com essa taxação. Se confirmado, vai impactar de forma negativa o agro paranaense”, alerta Anderson Sartorelli, do Departamento Técnico e Econômico da FAEP, ao conceder entrevista para a equipe de reportagem do Jornal O Paraná. Ele afirma que o momento exige responsabilidade nas tratativas com o governo norte-americano. “É preciso ter cautela nas negociações. Precisam ser bem pensadas, mas, ao mesmo tempo, com firmeza na defesa dos interesses dos setores produtivos do Paraná e do Brasil”, destaca.
A medida, encampada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e reiterada em sua recente Carta ao Brasil, vem acompanhada de um argumento de proteção da economia americana. No entanto, para Sartorelli, essa justificativa não se sustenta diante dos dados da balança comercial entre os dois países. Há indícios de que seja uma decisão amparada por questões políticas. Ele lembra que os norte-americanos exportam significativamente mais para o mercado brasileiro do que o contrário e, por isso, a tentativa de caracterizar a relação como injusta não encontra respaldo nos números.
Nesse sentido, a FAEP reforça a necessidade de diálogo técnico, com base em fatos e estatísticas, como caminho para tentar reverter a ameaça. “É preciso conversar. Colocar na mesa os elementos econômicos. Tentar mostrar que não existe uma relação injusta, como foi tratada na Carta ao Brasil. Os Estados Unidos exportam muito mais para nós do que o contrário. São superavitários em relação a essa parceria comercial. É preciso argumentar que essa taxação será ruim para ambos os países”, afirma Sartorelli.
“Ferro e fogo, não”
Outro ponto que entrou na pauta de discussão foi a chamada Lei da Reciprocidade, sancionada em abril e que autoriza o Brasil a retaliar comercialmente países que impuserem barreiras às exportações nacionais. Ainda que a legislação represente um marco na política comercial brasileira, Sartorelli avalia que sua aplicação, neste caso, deve ser medida com cuidado.
“Foi uma vitória importante e contou com apoio de diversas frentes políticas. Só que, nesse caso, é bem complexo. Temos a lei que nos garante o direito de impor a taxação no mesmo patamar que nos é aplicada. Mas se colocarmos nossa taxa nesse mesmo índice, poderemos encarecer a nossa produção”, alerta. Para ele, o uso da reciprocidade em termos rigorosos pode acabar sendo contraproducente. “Não podemos utilizar essa filosofia a ferro e fogo nessa situação, pois podemos dar um tiro no pé”, completa.
“Diante desta situação, o Sistema FAEP pede que o governo federal abra um canal de negociação, buscando preservar nossos acordos comerciais e minimizar os impactos sobre quem trabalha no campo. O setor produtivo precisa de segurança e previsibilidade para continuar gerando emprego, renda e desenvolvimento”, destaca o presidente interino do Sistema FAEP, Ágide Eduardo Meneguette.
Os Estados Unidos são o segundo principal parceiro comercial do Paraná, com exportações totalizando US$ 1,58 bilhão em 2024. Considerando o primeiro bimestre de 2025, o país é o terceiro principal destino das exportações paranaenses, com US$ 214 milhões. Os principais produtos vendidos ao país norte-americano envolvem produtos florestais (madeira, celulose, papel), café, couros, pescados e diversos itens alimentícios, todos vulneráveis ao tarifaço.
Paraná lidera crescimento da safra de grãos, com alta de 447 mil toneladas
O Paraná registrou a maior variação positiva nas estimativas da produção agrícola de grãos para 2025 no Brasil, segundo dados divulgados durante a semana pelo IBGE. O acréscimo foi de 447 mil toneladas em relação ao levantamento de maio, desempenho 150% superior ao registrado pela Bahia, o segundo colocado no ranking nacional, cuja variação foi de 177 mil toneladas.
Com o aumento estimado, a atual safra de grãos do Estado deve ser de aproximadamente 45,3 milhões de toneladas, de acordo com o órgão federal.
Com esse crescimento, o Paraná mantém a segunda posição no ranking nacional da produção de grãos, com 13,6% de participação, atrás apenas do Mato Grosso (31,5%). O Paraná ainda responde por mais de metade da colheita de grãos na região Sul, que equivale a 25,4% da produção brasileira.
Os novos números do IBGE reforçam a relevância da agricultura paranaense em algumas das cadeias mais relevantes do setor. Com um volume estimado em 865,3 mil toneladas, o Paraná é o maior produtor de feijão do Brasil, além de liderar com folga a produção nacional de cevada, com 423 mil toneladas previstas, o que representa 77,5% da safra do País.
O Estado ainda responde por 33,6% da produção brasileira de trigo, com 2,7 milhões de toneladas, e ocupa a 2ª colocação na produção nacional de soja, com 21,3 milhões de toneladas, e de milho da segunda safra, com 16,5 milhões de toneladas.
Recuperação
Apesar de pequenas variações mensais em algumas culturas, os números apontam uma recuperação sólida em relação ao desempenho de 2024, que foi impactado negativamente por condições climáticas adversas.
Na cevada, por exemplo, o crescimento é de 47,3% em relação ao ano passado. Já no feijão – cuja produção em três safras deve atender plenamente a demanda interna do Brasil em 2025 – o Paraná lidera com 26,8% de participação nacional, com estimativa 4,2% superior à do ciclo anterior. O trigo também apresenta crescimento anual de 13,5%, enquanto a soja tem alta de 14,2%. No milho da segunda safra, o avanço é de 31,7%.
Outro destaque é a cultura de aveia, que deve atingir 248 mil toneladas, um salto de 48,9% em comparação com 2024. O rendimento médio das lavouras cresceu 39,4%, chegando a 2.441 quilos por hectare, o que fortalece a cultura especialmente nas regiões Sul e Centro-Sul do Estado.
Com os resultados mais recentes, o Paraná se consolida como um dos principais vetores do crescimento do agronegócio brasileiro, cuja safra nacional de grãos está estimada atualmente em 333,3 milhões de toneladas em 2025. O Estado integra o grupo das seis maiores potências agrícolas do País – ao lado de Mato Grosso, Goiás, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais –, que juntas respondem por 79,5% da colheita nacional.