Sabe aquele enfeite que você já não gosta mais, mas que permanece sobre seu criado-mudo? Ou aquele porta-retrato envelhecido que ainda não saiu do aparador da sala? Ou mesmo um quadro antigo que você gostava no passado, mas que segue pendurado no seu corredor? Muitas vezes, esses objetos não são descartados porque seus donos têm algum apego — não o suficiente para ainda se interessar por eles.
Nos últimos anos, no entanto, uma técnica nova tenta dar conta desses objetos: o upcycling. Ele consiste em reformar ou reciclar qualquer coisa que seria jogada no lixo, dando uma nova função a ela. Geralmente, uma coisa que passou pelo processo de upcycle normalmente mantém uma qualidade igual a anterior ou melhor até melhor.
Os benefícios sustentáveis são vários: redução da quantidade de resíduos em aterros sanitários e da exploração de matéria-prima para a geração de novos produtos, menos petróleo explorado (para o caso de objetos de plástico), menos árvores derrubadas no caso da madeira e, no caso do metal, menos mineração, além de uma economia grande de recursos como água e energia.
Em Minas Gerais, o coletivo AU é um dos mais famosos ateliês de upcycling do país: tocado por cinco pessoas entre 35 e 39 anos, eles garimpam objetos como móveis e artefatos antigos, dão nova roupagem a eles com a ajuda de uma máquina de solda, uma lixadeira e alguns potes de tinta e verniz e recolocam no mercado posteriormente. Hoje, eles alinham iniciativas semelhantes na Europa e nos Estados Unidos.
Exemplos como o AU mostram como, além de ecologicamente correto, o upcycling é uma tática de negócios: a marca Cavalera, por exemplo, lançou uma linha com mais de 50 modelos de bolsas e carteiras feitas com sacos de cimento usados. Há artesãos que fazem brincos e jóias com cápsulas de café usadas, integrando o resíduo na chamada Economia Criativa. A Inglaterra já está nessa há pelo menos uma década: a London College of Fashion tem desde 2007 um setor que estuda o upcycling como uma das alternativas para o mundo da moda e ainda conta com apoio governamental.
Upcycling ou reciclagem?
Upcycling não é a mesma coisa que reciclagem, mas a evolução dela. A ideia original dele é reaproveitar, manter vida útil de um objeto, não transformá-lo completamente. No processo de reciclagem, essa transformação chega a envolver produtos químicos, enquanto o upcycle de um artefato passa por sua ressignificação como algo que não tem mais valor para algo valioso, a reutilização de um material que se tornaria lixo, aproveitando suas propriedades originais, sem a necessidade de intervenções químicas, além de representar uma alternativa com custo mais baixo.
Até o termo é mais novo: ele foi usado pela primeira vez em 1994 pelo empresário e ambientalista alemão Reine Pilz, mas só chegou ao grande público em 2002, quando o livro Cradle to Cradle: Remaking the Way we Make Things, dos britânicos William McDonough e Michael Braungart, chegou às livrarias. Na obra, eles falam sobre o desperdício de materiais potencialmente úteis que, por meio do processo, podem reduzir o consumo de novas matérias primas durante a criação de novos produtos e o consumo de energia, a poluição do ar e da água e as emissões de gases de efeito estufa, resultantes dos processos industriais da reciclagem.