MANILA ? Um relatório divulgado nesta quinta-feira pela Human Rights Watch acusa a polícia das Filipinas de plantar provas para justificar execuções extrajudiciais, seguindo a política de guerra às drogas implantada pelo presidente, Rodrigo Duterte, que já provocou mais de 7 mil mortes em pouco mais de meio ano. Além disso, a ONG aponta o presidente como principal responsável pela matança e pede que as Nações Unidas instale uma investigação independente.
? Nossas investigações sobre a guerra às drogas nas Filipinas descobriu que a polícia, rotineiramente, mata suspeitos de tráfico de drogas à sangue frio e depois encoberta os seus crimes plantando drogas e armas na cena ? acusou Peter Bouckaert, diretor da Human Rights Watch e autor do relatório. ? O papel de Duterte nesses assassinatos o torna o principal responsável pela morte de milhares.
O relatório ?Licença para Matar? descreve, em 117 páginas, vários casos em que a polícia filipina executou suspeitos de tráfico e depois alegou legítima defesa, plantando armas, munições e pacotes de drogas no corpo das vítimas. A ONG afirma ainda que atiradores mascarados parecem trabalhar junto com a polícia, levantando dúvidas sobre as alegações do governo de que se tratam de justiceiros ou guerra entre grupos de traficantes.
Em alguns casos extremos, a Human Rights Watch relata casos de pessoas que foram levadas sob custódia da polícia e depois encontrados mortos, sendo classificados como ?corpos encontrados? ou ?mortes sob investigação?. Até o momento, ninguém foi investigado ou processado por mortes relacionadas à guerra às drogas.
O relatório contém entrevistas com 28 familiares de vítimas ou testemunhas dos homicídios cometidos por policiais, além de relatos de jornalistas e ativistas pelos direitos humanos. A ONG também apresenta documentos policiais sobre algumas mortes, que foram consistentemente desmentidos pela pesquisa de campo.
Paquito Mejos, pai de cinco filhos que trabalhava como eletricista, foi uma das vítimas. De acordo com familiares, ele fazia uso eventual de ?shabu?, uma metanfetamina popular nas Filipinas, e se entregou para a polícia após descobrir que estava na lista de suspeitos de tráfico de drogas. Dois dias depois, em 14 de outubro do ano passado, quatro homens mascarados invadiram a cada de Mejos, o levaram para a rua e o executaram com dois tiros.
Momento depois, investigadores da polícia chegaram e foram auxiliados pelos atiradores. No relatório sobre a morte, a polícia se referiu a Mejos como um ?suspeito de traficar drogas? que ?apontou a sua arma, mas os oficiais da polícia foram capazes de atirar primeiro e atingi-lo, provocando a morte instantânea?. Os investigadores anotaram ainda que Mejos portava um pacote de ?shabu? e uma arma.
? Mas paquito nunca teve uma arma, e ele não tinha ?shabu? naquele dia ? contou um familiar à ONG.
? Sob a bandeira das operações contra as drogas, a polícia de Duterte matou milhares de filipinos ? disse Bouckaert. ? Muitas das mortes de suspeitos de tráfico de drogas seguiram a mesma rotina e indicam um padrão de abuso policial.