BRASÍLIA. A secretaria-executiva o Ministério da Educação (MEC), Maria Helena de Castro, criticou, sem citar nomes, escolas do país que selecionam os seus melhores alunos, formando turmas especiais para inscrever no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e, assim, obter melhores notas na prova. De acordo com ela, até mesmo escolas públicas federais estão fazendo isso.
– Escola que seleciona alunos já está avaliando antes do Enem. Não dá para comparar escolas que selecionam com outras escolas públicas que têm que receber todos, que têm que ser abertas, até porque é assim que tem que ser mesmo – disse Maria Helena durante a entrevista coletiva sobre a divulgação das notas por escola obtidas no Enem de 2015.
As pontuações obtidas por 14.998 escolas no Enem do ano passado foram divulgadas nesta terça-feira pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionas Anizio Teixeira (Inep), órgão vinculado ao MEC. Ao todo, mais de 25 mil colégios tinham alunos matriculados no 3º ano do ensino médio em 2015, mas só foram computados nesta análise os dados das instituições com ao menos dez alunos participantes do Enem e cuja adesão ao exame foi igual ou maior que 50%. No total, foram contabilizadas as notas de 1,2 milhão de estudantes que, no ano passado, estavam concluindo o ensino médio.
Entre as escolas com os melhores desempenhos no exame, muitas criam turmas especiais com os seus melhores alunos, com o objetivo de prepará-los para se sair bem na avaliação. Para Maria Helena, principalmente no que se refere às escolas públicas, a seleção deveria passar pelos alunos mais vulneráveis, para que possam ter oportunidade de acesso ao curso superior.
– Conheço vários colégios de aplicação, ligados à universidades, que têm grau de qualidade muito grande, e na hora da seleção só por desempenho acaba que os de maior nível socioeconômico, com acesso a bens culturais e com pais com ensino superior completo, têm mais chance do que os que têm nível socioeconômico inferior e com pais sem curso superior completo. Não faz sentido que os colégios federais preparem os alunos filhos dos professores livres docentes das mesmas universidades. Talvez cotas, critérios sociais. Faz por ordem de chegada, sorteio – disse a secretária executiva do MEC.
A presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas (Inep), Maria Inês Fini, falou também da desigualdade social entre os alunos e da necessidade de levar em conta não apenas o desempenho do estudante nas provas que servem de acesso ao ensino superior público no país.
– Os contextos relativos ao tamanho da escola, ao nível socioeconômico dos alunos, à formação adequada do professor e à taxa de permanência do aluno do terceiro ano na mesma escola nos ajudam a explicar os resultados. O resultado do desempenho sozinho não possibilita uma classificação das escolas. Temos que compreeder esse desempenho no conjunto dos fatos. O nível socioeconômico do aluno é determinante para o aluno ter sucesso. Não que a escola não seja. Tanto que o outro fator é a formação adequada dos professor, que tem uma incidência muito significativa no trabalho. Não temos alunos que são personagens de livros. Eles têm história, tem família – disse.