Cotidiano

Hipertensão na meia-idade pode ter relação com demência na velhice

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RIO ? Uma mente sã em um corpo saudável. A antiga citação latina acaba de ganhar mais
um reforço de peso. Em declaração publicada ontem em nome da Associação
Americana do Coração (AHA, na sigla em inglês), um painel de especialistas
recomendou o controle da pressão alta, em especial a partir da meia-idade, para
ajudar a proteger a cognição. A pedido da AHA, o grupo de médicos revisou a
literatura científica disponível em busca de evidências que ligassem a saúde
cardíaca à mental, encontrando diversas indicações de que a hipertensão
influencia no desenvolvimento de doenças como o mal de Alzheimer, derrames e
incapacitação cognitiva vascular, uma ampla gama de condições desde moderadas
até mais severas.

Segundo os especialistas, embora os muitos estudos
revisados não tenham investigado diretamente a ligação entre pressão sanguínea e
cognição ? o que impossibilitou que elaborassem um protocolo que guiasse
profissionais de saúde sobre como tratar pacientes com hipertensão e algum tipo
de demência ? foram achadas várias instâncias em que a hipertensão pode ter
colaborado para o desenvolvimento de problemas de memória, falhas nas funções
executivas e redução na velocidade de processamento. Por exemplo, a pressão alta
alteraria a configuração das artérias e arteríolas que alimentam as regiões
subcorticais do cérebro, levando ao desenvolvimento da chamada ?doença dos
pequenos vasos,? que é a maior causa de derrames hemisféricos e danos à
substância branca no órgão. Além disso, a perda dos microvasos detonada tanto
pela hipertensão quanto pelo envelhecimento reduziria progressivamente o fluxo
de sangue para o cérebro, prejudicando seu funcionamento e ajudando a promover a
morte neuronal.

? Muitos estudos observacionais sugerem que o tratamento
da hipertensão pode diminuir o impacto cognitivo da pressão alta, especialmente
no que diz respeito à incapacitação cognitiva vascular, mas estudos
observacionais não são desenhados para provar a relação de causa e efeito ?
ressalta Costantino Iadecola, professor de neurologia, diretor do Instituto de
Pesquisas do Cérebro e da Mente da Faculdade Médica Weill Cornell e líder do
painel, cujas conclusões foram publicadas no periódico ?Hypertension?, editado
pela própria AHA. ? Sabemos que tratar a pressão alta reduz os riscos de doenças
cardíacas, como ataques do coração, insuficiência congestiva cardíaca e derrame,
e é importante que ela continue a ser tratada para reduzir os riscos dessas
doenças. Mas também precisamos de estudos controlado randomizados, que provam
causa e efeito, para determinar se o tratamento da pressão alta, especialmente a
partir da meia-idade, também vai reduzir o risco de incapacitação cognitiva mais
à frente na vida.

Outra dificuldade enfrentada pelo painel foi o longo
período que costuma separar a época em que o paciente começa a ter hipertensão
da que passa a apresentar sintomas cognitivos que levam ao diagnóstico clínico
de demência. Assim, também seriam necessários estudos de longo prazo para
abordar questões como quando iniciar o tratamento da pressão alta de forma a
proteger o cérebro, que nível de pressão seria o ideal e que remédios seriam os
mais indicados. Iadecola, porém, destacou pelo menos uma grande pesquisa neste
sentido atualmente em curso. Chamado SPRINT-MIND, subgrupo de ensaio clínico
iniciado em 2010 com 2,8 mil pacientes com mais de 50 anos investiga se um
tratamento intensivo para reduzir a pressão a níveis ainda menores que os
atualmente recomendados também teria algum efeito na preservação das funções
cognitivas.

? O SPRINT-MIND talvez nos dê respostas para algumas das
questões em aberto da relação entre o tratamento da pressão alta e a redução nos
riscos de alguma incapacitação cognitiva ? conclui Iadecola.