Cascavel e Paraná - Durante o lançamento do Plano Safra da Agricultura Familiar 2025/2026, na segunda-feira, o governo federal anunciou a criação do Pronara – Programa Nacional de Redução de Agrotóxicos. Instituído por decreto presidencial, o programa tem como objetivo promover a “redução gradual e contínua do uso de agrotóxicos” no Brasil. A medida gerou reações imediatas de entidades do setor produtivo.
A CropLife Brasil, entidade que representa os segmentos de defensivos químicos, bioinsumos, sementes melhoradas e biotecnologia, demonstrou surpresa com o anúncio. Segundo a organização, nem a indústria nem os produtores rurais — usuários finais das tecnologias envolvidas — foram convidados a participar da elaboração da proposta.
Para a entidade, trata-se de um equívoco que compromete o potencial de uma política pública mais equilibrada e eficaz. “Esses atores têm conhecimento técnico e experiência prática que poderiam contribuir significativamente para a formulação de diretrizes realistas, baseadas em manejo responsável, como já ocorre amplamente em diversas cadeias produtivas do país”, destacou a CropLife em nota oficial.
Boas práticas
Nos últimos anos, o setor agrícola brasileiro tem demonstrado forte adesão a boas práticas, com foco em segurança alimentar, sustentabilidade e respeito ao meio ambiente. Um dos exemplos de avanço no campo é o MIP (Manejo Integrado de Pragas), estratégia que combina tecnologias como defensivos químicos, agentes biológicos e sementes geneticamente melhoradas.
Esse modelo busca não apenas reduzir riscos e preservar recursos naturais, mas também potencializar resultados, respeitando a realidade de cada propriedade rural. Segundo a CropLife, “o agricultor é o principal tomador de decisão no campo”, por ser quem melhor compreende as necessidades específicas de cada lavoura e tem a responsabilidade de definir, com base em conhecimento técnico e realidade local, a melhor estratégia de manejo.
Ainda conforme a entidade, as novas moléculas aprovadas pelas autoridades brasileiras apresentam perfis toxicológicos e ambientais cada vez mais aprimorados. “São produtos mais seletivos, eficazes em doses menores e que, se tiverem sua análise regulatória acelerada, podem ampliar a competitividade da agricultura brasileira com segurança.”
Marco rigoroso
A CropLife também destacou que o Brasil já possui uma das legislações mais exigentes do mundo em relação aos defensivos agrícolas. Antes de chegarem ao campo, os produtos passam por rigorosas análises realizadas por três órgãos federais: o Ministério da Agricultura e Pecuária, o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
Essas instituições conduzem a Avaliação de Risco, etapa obrigatória que garante a segurança do uso dos insumos do ponto de vista ambiental e toxicológico. “Esse processo já é, por si só, um filtro altamente técnico que impede o uso de produtos inadequados, contribuindo para a proteção da saúde humana, dos alimentos e do meio ambiente”, pontua a entidade.
Ao criticar a forma como o Pronara foi instituído — sem consulta prévia ao setor —, a CropLife alertou para os possíveis impactos da medida sobre a pesquisa, o desenvolvimento e a inovação agrícola no Brasil. Para a entidade, decisões unilaterais que restrinjam o acesso a tecnologias essenciais podem afetar negativamente a produtividade no campo, elevar os custos de produção e prejudicar, a longo prazo, a oferta de alimentos para o consumidor brasileiro e internacional.
“É preciso garantir que qualquer política voltada ao uso de defensivos agrícolas seja embasada em critérios científicos sólidos, com equilíbrio entre produtividade, inovação e sustentabilidade”, ressalta a nota. A entidade reforça que o setor privado tem atuado intensamente na promoção do uso responsável, seguro e regulado dos agroquímicos, e que a educação e o treinamento dos agricultores são parte fundamental desse esforço.
Diálogo e cooperação
Entidade representativa de diversas empresas, a CropLife Brasil, concluiu sua manifestação reafirmando o compromisso com a sustentabilidade e a inovação tecnológica no campo, colocando-se à disposição do governo para o diálogo construtivo. “Acreditamos que, por meio do incentivo à ciência e à inovação, o Brasil pode continuar sendo um líder global na produção de alimentos, abastecendo tanto o mercado interno quanto os mercados internacionais com produtos em quantidade, qualidade e diversidade.”
A entidade ressalta que soluções sustentáveis para a agricultura exigem não apenas boa intenção política, mas também conhecimento técnico, cooperação institucional e valorização do papel estratégico que a agricultura desempenha na economia brasileira e na segurança alimentar mundial.
Com o decreto em vigor, o desafio agora é estabelecer um canal de escuta ativa entre governo, setor produtivo, comunidade científica e sociedade civil, para que o Pronara possa se desenvolver com base em dados técnicos, diálogo transparente e responsabilidade compartilhada.