Cotidiano

Com verba escassa para reforma e até manutenção, prédios da UFRJ se deterioram

ufrjpredio.jpgRIO – Daqui a dois anos, o Museu Nacional completa 200 anos. Como presente de
aniversário, a reitoria da UFRJ pretende entregar à população o palácio, que foi
residência de dom João VI, dom Pedro I e dom Pedro II, totalmente restaurado.
Transformar o desejo em realidade, no entanto, é o X da questão. Com um
orçamento de cerca de R$ 460 milhões este ano para manutenção e investimento na
universidade, que ainda convive com o fantasma dos cortes, não só é difícil
preservar seu patrimônio, como fazer o mínimo: conservar os edifícios, em
especial os históricos. A UFRJ, mais antiga universidade do país, conta com 12
conjuntos tombados, como mostra o livro ?Conservação e reativação do patrimônio
arquitetônico universitário?, lançado mês passado. Só para iniciar as obras
emergenciais de que todos eles necessitam, a instituição precisaria de R$ 25
milhões a mais no orçamento, conforme cálculos do reitor Roberto Leher.

Nesses edifícios, funcionam um quarto das unidades
acadêmicas e a administração central. Alguns estão em estado crítico, como a
Capela São Pedro de Alcântara, dentro do Palácio Universitário, na Praia
Vermelha, inaugurado em 1852 e tombado pelo Iphan. Em março de 2011, a igrejinha
foi consumida por um incêndio. Até hoje, a restauração não saiu.

As edificações da UFRJ perpassam três séculos. Os
organizadores do livro ? Andréa Borde, coordenadora do Laboratório de Patrimônio
Cultural e Cidades Contemporâneas, do Programa de Pós-Graduação em Urbanismo da
instituição, e Paulo Bellinha, vice-diretor do Escritório Técnico da
Universidade (ETU) ? dividem as construções tombadas e as com potencial de
tombamento em três grupos: as grandes estruturas do século XIX; as pequenas
estruturas dos séculos XIX e XX; e as grandes estruturas do século XX.

PROJETO SE ARRASTA DESDE 2004

Na primeira lista, estão o Instituto de Filosofia e
Ciências Sociais (IFCS), primeira construção erguida no país a partir de 1812
para abrigar disciplinas hoje de nível superior (a Academia Real Militar, base
do ensino de engenharia no país), no Largo de São Francisco; o Museu Nacional; o
Palácio Universitário e o prédio do atual Instituto de Atenção à Saúde São
Francisco de Assis, inaugurado em 1879, na Cidade Nova. Todos são tombados pelo
Iphan.

Dos prédios mais antigos, o Palácio Universitário e o
São Francisco de Assis passam por uma lenta recuperação, que tenta ultrapassar
as barreiras da burocracia e da falta de recursos. No caso do palácio, as
discussões sobre o projeto para telhados, em situação precária, e fachadas
começaram em 2004, depois de 50 anos da última reforma. Somente em 2010,
conseguiu-se a verba e as obras foram iniciadas, mas logo depois ocorreu o
incêndio. No fim do ano passado, os trabalhos foram retomados. Até agora, dos 14
blocos de telhados, três foram concluídos. O projeto, de R$ 17 milhões, é
custeado com verba da própria universidade, que, de 2014 para cá, teve cerca de
R$ 140 milhões do seu orçamento contingenciados pelo governo federal.

ufrjmaispredio.jpg? Nosso esforço inicial é recuperar telhados, fachadas e
a infraestrutura elétrica desses prédios. Temos um lindo teatro na Escola de
Música (no Passeio), mas é inviável mantê-lo com concertos sem ar-condicionado ?
diz Leher, que vem propondo ao Ministério da Educação e debatendo com outros
reitores a criação de um fundo fora da matriz da Associação Nacional dos
Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior, de financiamento das
universidades federais, para preservação do patrimônio histórico, por meio de
chamadas públicas para projetos.

Se a ideia for para frente, o plano da UFRJ é, em dez anos, recuperar de
forma ampla os prédios tombados.

? Esse patrimônio não é da UFRJ, é do país. O Museu Nacional é uma
instituição que está na origem da própria ciência no Brasil ? critica o reitor,
que busca no BNDES verbas para o restauro do museu, um projeto de R$ 11
milhões.

A dívida atual da universidade com fornecedores chega a R$ 120 milhões.

O segundo grupo de imóveis históricos inclui edifícios
como os da Faculdade de Direito, do Centro Municipal de Artes Hélio Oiticica, da
antiga Escola de Eletrotécnica (cedido ao Iphan) e da Escola de Música. No
último, por exemplo, são necessários trabalhos como as reformas da parte
elétrica (incapaz de sustentar um sistema de refrigeração na sala de concertos)
e de murais (como o de Ivan de Freitas na parede externa voltada para a Lapa).
Há um ano, foi iniciada, com recursos próprios (R$ 1,5 milhão), a obra nos
telhados e na fachada do edifício das salas de aula.

Já o terceiro grupo inclui dois edifícios modernos, não
tombados, dentro da Cidade Universitária, ambos projetos premiados, de autoria
do arquiteto Jorge Moreira. Um é a sede do Instituto de Puericultura e Pediatria
Martagão Gesteira e o outro é o da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU).
Os dois estão em mau estado de conservação.

Apesar dos problemas, Andréa Borde defende o tombamento dos edifícios, que
ainda não foi pedido aos órgãos oficiais. Aliás, nenhum edifício do Fundão é
preservado.

? Esses são bens que, sem salvaguarda, correm risco ? afirma a professora.