Onda de furacões provoca perdas acima de US$ 12 bilhões no agronegócio dos EUA

Depois de Helene, agora o Milton. A onda de furacões que tem assolado os Estados Unidos e deixando um rastro de destruição, também provoca reflexos no agronegócio.

Em conversa com a equipe de reportagem do Jornal O Paraná, o especialista na área de gerenciamento de riscos da StoneX, Leonardo Martini, diz que em um primeiro momento, não vê maiores impactos com relação à passagem do Furacão Milton pela Flórida, nos Estados Unidos. “Talvez atrasos nos embarques de soja e milho”, comenta. Questionado sobre possíveis estragos na infraestrutura dos portos, afirma desconhecer qualquer informação nesse sentido.

Já quando o assunto é o Furacão Helene, o roteiro é outro. Os fortes ventos resultaram em perdas nas lavouras do meio-oeste americano, provocando também o fechamento de fábricas de crush (esmagamento de soja). “O mercado subiu forte nos dias que o Helene atingiu o solo americano”, comenta o consultor da StoneX, em entrevista ao O Paraná.

Levantamento apresentado pela American Farm Bureau estima perdas na ordem de US$ 12 bilhões na agropecuária por conta da passagem do Helene pelo sudeste americano.

O segmento mais prejudicado é o da avicultura. O furacão alcançou áreas em que a produção das granjas de aves e ovos gira em torno de US$ 6,3 bilhões. Essa localização usa como base o Censo de Agricultura dos Estados Unidos. 80% da produção de aves se concentram na região duramente castigada pelo Helene, dias atrás.

Entre os locais mais afetados, figuram os estados da Geórgia e Carolina do Norte. Ambos respondem por um quarto do valor de oferta de frangos de corte nos EUA. Conforme apuração feita pelo estado da Geórgia, mais de 107 aviários sucumbiram à força dos ventos. Já na Flórida, 1 a cada 7 granjas de frangos de corte foram parcial ou totalmente destruídos.

A preocupação ainda é com o risco elevado de contaminações e proliferação de doenças nas aves sobreviventes.  Outros estragos provocados pelo furacão Helene foram registrados na produção de vegetais, leite, milho, nozes, gado, algodão, soja, trigo, suínos e tabaco. Somente na área de frutas e nozes, a produção anual rende US$ 1,9 bilhão.

Devastação

Nos Estados Unidos, a Florida é responsável por 13% da produção de morango. As fazendas dedicadas ao cultivo sofreram inundações. As áreas já estavam preparadas com os canteiros elevados em plástico, visando o plantio nas próximas semanas.

A devastação atingiu ainda as lavouras de nozes. Árvores maduras não suportaram os ventos. A recuperação de todas essas áreas atingidas deverá levar no mínimo uma década. O declínio da produção a longo prazo é certo. Outro agravante são as doenças fúngicas, a saturação do solo e o comprometimento das raízes.

Por sua vez, as hortaliças rendem ao ano US$ 1,1 bilhão. Elas também foram duramente castigadas pelo Helene. Grande parte da produção comprometida por fungos e bactérias, em virtude do excesso de umidade.

Na pecuária, tanto de corte como de leite, as perdas somam US$ 1 bilhão em produção de gado e mais US$ 500 milhões em laticínios. As enchentes encobriram vastos campos cultivados com pastagens, além de quilômetros de cercas perdidos. Por conta disso, muitos proprietários tentam, sem muito sucesso, encontrar animais sobreviventes levados pelas águas.

“Milton” deixa mercado de fertilizantes em alerta

O furacão Milton, que inicialmente foi classificado como categoria 3, reduzido para categoria 1, trouxe preocupações significativas para a produção de fertilizantes nos Estados Unidos.

A região afetada abriga 62% das plantas americanas de fosfatados, essenciais para a agricultura. Com enchentes devastadoras em diversas cidades, o furacão já deixou dezenas de mortos, intensificando a urgência de avaliações sobre os danos às infraestruturas.

A Mosaic, uma das principais empresas do setor, já havia enfrentado dificuldades após o furacão Helene, que atingiu a área no final de setembro. Embora os estragos reportados na ocasião tenham sido considerados mínimos, a unidade de Riverview foi temporariamente fechada para reparos, com previsão de reabertura em 10 dias. Contudo, antes que esse prazo se esgotasse, o furacão Milton atingiu a Flórida, levantando novas preocupações sobre a continuidade das operações.

Mercado abalado

A situação é ainda mais complicada quando se considera o impacto do furacão Ian em 2022, que resultou em uma redução de 250 mil toneladas na produção da Mosaic. Essa queda na produção ocorreu em um contexto de mercado já abalado pela guerra entre Rússia e Ucrânia, conforme destacado pela consultoria Agrinvest.

Além da Mosaic, a Nutrien, que possui uma unidade em White Springs, ao norte de Tampa, também foi afetada pelo furacão Helene. No entanto, a empresa não divulgou informações sobre os danos recentes causados pelo furacão Milton.

As incertezas em torno da produção de fertilizantes na região se somam a um panorama já desafiador, alertando para possíveis repercussões no setor agrícola nos meses seguintes. A recuperação das operações e os esforços para mitigar os danos serão cruciais para garantir a estabilidade do mercado de fertilizantes nos EUA.