Desastres ambientais

Brasil desembolsou mais de meio bilhão em uma década

Brasil desembolsou mais de meio bilhão em uma década

Cascavel – A natureza tem reagido com fúria à ação predatória dos seres humanos e a negligência em processos industriais e de transporte. Em 10 anos, os desastres ambientais provocaram perdas significativas ao Brasil. Levantamento apresentado pela CNM (Confederação Nacional dos Municípios) mostra números alarmantes e o impacto econômico gerado em todo o País.


De 2013 a 2023, o Brasil soma um prejuízo de R$ 639,4 bilhões. Para se ter uma ideia, esses valores correspondem a PIB paranaense gerado pelas cadeias produtivas em 2023. Na última década, esses adventos climáticos atingiram diretamente 5.233 municípios, ou seja, 94% das cidades brasileiras, prejudicando 418,3 milhões de pessoas. Deste total, estão contabilizadas 2.667 mortes.


É importante ressaltar que dos mais de R$ 600 bilhões de danos, a maioria está atribuída à agricultura, chegando a R$ 271 bilhões – 42,4% do total. As questões relacionadas à seca e estiagem totalizaram R$ 347,4 bilhões e R$ 191 bilhões por conta das chuvas. A pecuária vem na sequência, com R$ 86,6 bilhões. Os danos em instalações públicas somam R$ 85,8 bilhões; abastecimento de água potável (R$ 45,3 bilhões), obras de infraestrutura (R$ 38,9 bilhões) e habitação (R$ 36,2 bilhões).


De tudo isso, os governos federais da época repassaram um terço dos recursos dedicados a ações de proteção e Defesa Civil. Em contrapartida, dos R$ 9,5 bilhões repassados para atender os atingidos pelos desastres ambientais nos mais variados segmentos, somente R$ 3 bilhões tiveram como destino os municípios.


A CNM chama a atenção para um dado alarmante: 68,9% dos municípios nunca receberam repasses para prevenção de eventos climáticos extremos envolvendo inundações, secas, alagamentos e deslizamentos. Na pesquisa feita pela Confederação Nacional dos Municípios, somente 20% alegaram já ter recebido alguma verba nesse sentido, sendo 13,2% de cunho federal e 6,8% estadual. A apuração ocorreu em 3.590 cidades de 1º de dezembro de 2023 a 24 de janeiro deste ano.


Duas ferramentas de monitoramento foram lançadas recentemente para intervir no trabalho de prevenção e gestão de risco aos municípios em relação aos sinistros ambientais.

“REGULARIDADE”
Em Cascavel, a equipe do O Paraná, conversou com o agrometeorologista Reginaldo Ferreira dos Santos. Ele recorreu aos dados meteorológicos das últimas décadas e percebeu um volume de eventos extremo diferente daquilo que era considerado como anormalidade em anos anteriores, agora caracterizados com mais regularidade. “Eventos extremos tendem a ocorrer distantes um do outro, mas não é isto que vem acontecendo”, pontuou.


O agrometeorologista também destacou que a concepção das obras já considera a possibilidade de eventos extremos, adotando ainda outros critérios para balizar os projetos. “Por exemplo, a barragem de Itaipu. Levou-se em consideração ali um evento que poderia ultrapassar aquela estrutura. Então todo o engenheiro projeta uma obra de grande porte, sempre considerando a possibilidade de um evento extremo”, relata, destacando que a obra precisa ter resistência e, paralelamente, economicidade: “É preciso considerar a vida humana e também econômica”.

DESCASO?
Tais eventos climáticos de grande intensidade têm sido mais frequentes, tanto em relação a temperaturas altas como baixas. Muitos relutam em acreditar nisso, segue Reginaldo, embora as catástrofes estejam aí. “As temperaturas têm aumentado de maneira brusca nos últimos tempos, muito por conta dos gases atribuídos ao efeito estufa”.


O agrometeorologista vê certo descaso quanto às políticas governamentais para mitigar esses desastres ambientais no País, com medidas de proteção e prevenção. “A mudança não é só estrutural. Precisa também ser intelectual, por meio da educação ambiental voltada à preservação do meio ambiente”.

RS: Prioridade é modernizar sistemas contra enchentes

Brasília – O governo federal anunciou, nesta semana, que vai priorizar a contratação e a execução de projetos de infraestrutura no Rio Grande do Sul que possam modernizar, requalificar e atualizar os sistemas de proteção já existentes contra as enchentes. A declaração foi dada em entrevista coletiva, em Porto Alegre, pelo ministro-chefe da Casa Civil da Presidência da República, Rui Costa, ao lado de outros ministros de Estado que integravam a comitiva federal que visitou o estado.


“Projetos que requalificam, trocam bombas [de drenagem], refazem diques [de contenção] ou seja, atualizam e requalificam o que já existe, estes terão prioridade para a gente buscar agilizar a contratação”, afirmou o ministro da Casa Civil. O ministro disse também que novos projetos de infraestrutura de sistemas de proteção já existentes contra as enchentes que estão em fase de pedido de financiamento pelo Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) deverão revistos, para considerar o que ocorreu nestas últimas enchentes no estado. “Nós queremos que esses projetos sejam revistos com os últimos dados. Porque não adianta licitar uma obra com os parâmetros anteriores ao que aconteceu porque estarão desatualizados”.


Para uma solução definitiva para os problemas de alagamentos, o ministro adiantou que será contratado um grande estudo elaborado por técnicos e especialistas de universidades que farão uma análise mais aprofundada da situação geral do Rio Grande do Sul para propor soluções estruturantes que evitem novas ocorrências como as do mês de abril e maio.

Sistema centralizado
Rui Costa revelou também que conversou com o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, para sugerir que o governo estadual assuma a gestão de um sistema integrado de prevenção a desastres e proteção contra enchentes dos rios. O governo federal ficará responsável pelos investimentos financeiros dessas ações.


“Gostaríamos que o governo do estado assumisse essa responsabilidade da gestão desse sistema. Entendemos que isso envolve várias cidades e não pode ser um somatório de cuidados pulverizados. Para manter esse sistema integrado funcionando, precisamos que todos funcionem corretamente, em conjunto, para proteger a todos. E nós entendemos que o lugar mais adequado é um órgão ou empresa estadual ou uma superintendência”.