BRASÍLIA ? Mesmo empunhando a bandeira de defesa das minorias, a ministra Cármen Lúcia conseguiu, com um comentário, provocar entidades dedicadas ao autismo já na primeira semana na presidência do Supremo Tribunal Federal (STF). Em entrevista à GloboNews, Cármen Lúcia disse que a sociedade poderia esperar o empenho dos integrantes do tribunal, porque eles não eram autistas, e sim cidadãos ? e, por isso, queriam rapidez nos julgamentos. Nas redes sociais, choveram críticas à ministra, dizendo que o uso do termo tinha sido ofensivo a quem vive com essa condição. Cármen Lúcia divulgou nota pedindo desculpas.
?Em entrevista concedida há alguns dias, fiz uso ? sem qualquer motivação de ofensa ou desqualificação ? à condição autista. Recebi manifestações ? justas e motivadas ? de que o uso era indevido e poderia ser interpretado como ofensivo?, escreveu a ministra. ?Diante da repercussão, sei agora que não poderia ter feito uso da palavra, pois poderia ensejar má interpretação?, completou.
Na nota, Cármen Lúcia informou que tem uma pessoa ?linda e querida? na família vivendo com autismo, sem especificar o parentesco. Por isso, argumentou, jamais teria a intenção de ofender essas pessoas. ?Peço desculpas por isso e esclareço, ainda uma vez, que jamais tive qualquer intenção de ofender ou de manifestar discriminação, no meu caso impossível, como disse, pela experiência familiar?, afirmou.
Depois da entrevista à GloboNews, concedida na segunda-feira, o Projeto Colabora, que trabalha com autistas, divulgou carta aberta à presidente do STF dizendo que muitos pais se sentem ?dando murro em ponta de faca?, pela dificuldade em vencer o preconceito e as dificuldades em lidar com a condição. ?É assim que nos sentimos, excelência. Abandonados e desrespeitados. Brigamos por serviços básicos, brigamos por uma vaga na escola, brigamos por medicamentos mais baratos, brigamos por ajuda médica, brigamos, brigamos
Em outro trecho da carta, a associação afirma que, ?para a presidente da mais alta instância do Judiciário, existem classes diferentes de pessoas e que os autistas (talvez os deficientes em geral), não estão contemplados no grupo dos cidadãos. E a garantia de sucesso do trabalho do Supremo, na sua opinião, é o fato de os ministros não serem autistas?.
Ao final, a entidade diz que ?a situação do Brasil ? o Judiciário incluído ? estaria melhor se alguns autistas estivessem no poder?. Depois do pedido de desculpas da ministra, o Projeto Colabora publicou, em sua página na internet: ?Antes tarde do que nunca?. E completou: ?Não aceitar comentários pejorativos sobre autismo é a arma mais poderosa para combater o preconceito?.