Cotidiano

TAG cria clube da leitura e faz sucesso

Em agosto de 2014, um grupo de jovens egressos da Escola de Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) fundou uma empresa inspirada nos clubes de assinatura de vinhos e cerveja. Em vez bebida, queriam vender literatura. Mensalmente, os sócios da TAG Experiências Literárias receberiam um livro escolhido e comentado por curadores consagrados, como Luis Fernando Verissimo e Luiz Ruffato, além de um presente relacionado à obra selecionada.

Embora a ideia soasse promissora para os fundadores, todos com menos de 30, o primeiro ano não foi bom. Apenas 550 pessoas haviam se associado quando o projeto completou o seu primeiro aniversário. A TAG dava prejuízo e a situação do mercado editorial brasileiro não era animadora. No entanto, a empresa tem muitos motivos para comemorar a chegada deste agosto. Nos últimos 12 meses, eles acumularam dados expressivos.

O número de assinantes saltou para 10 mil. Eles pagam uma mensalidade de R$ 69,90. O kit de julho, com o romance ?O vermelho e o negro?, de Stendhal, foi o primeiro a ser editado com exclusividade pela TAG, em parceria com a Dublinense. Atualmente, eles empregam 20 pessoas, em um espaço de 360 m² na capital gaúcha. A situação do mercado editorial brasileiro segue ruim, mas a TAG está no azul.

? O começo foi bem difícil. Investimos R$ 10 mil e precisamos fazer novos aportes para manter a empresa. Não podíamos subir o preço, porque sabíamos que ninguém pagaria ? diz Tomás Susin, que comanda a empresa ao lado de Gustavo Lambert, Arthur Dambros, Pablo Valdez e Álvaro Englert. ? Sabíamos que havia potencial, porque a taxa de cancelamento era baixa. Desde então, conseguimos espalhar a ideia. Primeiro no Sul, depois no Rio, em São Paulo e no Nordeste. Virou uma minifebre.

DE FAULKNER A JANE AUSTEN

Ao longo dos dois anos, diferentes livros chegaram à casa dos leitores, escolhidos por um corpo heterogêneo de curadores. Mario Sergio Cortella, Frei Betto, Mario Prata, Gregorio Duvivier já se revezaram no cargo, e Heloisa Seixas é a responsável pela edição de agosto. Por conta disso, livros como ?O intruso?, de William Faulkner, ?Noite do oráculo?, de Paul Auster, ?Orgulho e Preconceito?, de Jane Austen, e ?Neve?, de Orhan Pamuk, já estiveram entre os escolhidos pelos especialistas convidados.

Ruffato, responsável por escolher e comentar ?O vermelho e o negro?, é só elogios à iniciativa. No entanto, não vê a TAG como um modelo a ser seguido para superar os desafios impostos à cadeia produtiva do livro.

Afinal de contas, a recente pesquisa Retratos da Leitura, divulgada em maio, revelou que o brasileiro médio lê 4,96 livros por ano. E que 30% da população sequer comprou um livro na vida.

? Sempre acho que casos de sucesso são casos de sucesso. Há dois anos, todo mundo riu da cara deles. Mas eles apostaram em um nicho e deu certo. Significa algo além disso? Não sei. Sei te dizer o seguinte: o índice de leitura do brasileiro é baixíssimo, o mercado editorial está em crise, e a elite brasileira tem desprezo profundo pela cultura letrada ? diz Ruffato.

De certa forma, a TAG se assemelha ao extinto Círculo do Livro, que fez algum sucesso nos anos 1970 e 1980. No entanto, os livros do clube de assinaturas gaúcho chegam de surpresa aos assinantes, enquanto os exemplares do Círculo eram escolhidos por quem pagava a conta. Susin garante que o mistério é parte fundamental do processo.

? Se revelar antes o nome do livro do mês, eles ficam chateados. Tem gente que diz que, quando o livro chega do correio, se sente como tivesse recebido um presente.

Ele explica que o aumento expressivo de assinantes poderá dar gás para a realização de novos projetos. Além de mais edições exclusivas, eles pretendem investir em um aplicativo:

? Hoje em dia, temos um grupo no Facebook para que os leitores discutam o livro. Mas é precário. Queremos fazer uma rede social para os assinantes.