RIO – O presidente interino Michel Temer sabe que não que terá o apoio das centrais sindicais quando seu governo, caso seja confirmado o impeachment de Dilma Rousseff, enviar ao Congresso a proposta de reforma da Previdência. Ele prevê ?uma luta feroz a ser enfrentada? antes mesmo antes das eleições de outubro, mas garante que projeto vai a voto assim que as negociações estiverem concluídas. Apesar de não adiantar quais mudanças serão sugeridas no texto, ele se mostra a favor da mulher continuar se aposentando mais cedo que o homem, porém, com uma diferença de idade menor.
A declaração de Temer vem um dia depois da polêmica fala de seu ministro da Saúde, Ricardo Barros, ter dito que os homens procuram menos serviço de saúde porque trabalham mais que as mulheres.
? Sabidamente as mulheres hoje vivem mais que os homens, mas tem essa coisa da dupla, tríplice jornada. Na minha cabeça, tem que haver uma pequena diferença, se o homem se aposenta com 65 a mulher pode se aposentar com 62 ? disse em entrevista concedida ao ?Valor? e publicada nesta sexta-feira.
Ao fazer um balanço dos três meses de governo interino, Temer afirma ter até somente bons resutlados à frente da cadeira presidencial.
? Eu não encontro derrotas. Eu vejo um sucesso extraordinário ? disse.
Confira os principais trechos da entrevista:
GOVERNO PÓS-IMPEACHMENT
?Tenho feito distinção entre a figura física do presidente e a instituição Presidência da República. Por exercer a presidência, faço o que deve ser feito pelo titular. Amanhã faço 90 dias, e nesse período, fizemos coisas aparentemente ousadas: a fixação da meta [fiscal] de R$ 170 bilhões, encaminhamos a aprovação da DRU que estava há mais de dez meses para na Câmara por falta de interlocução, a moralização das indicações para cargos nas estatais?.
DÍVIDA DOS ESTADOS
?Nós chegamos aqui, havia pressão de todo lado, e percebemos que era importante. Eu tenho a concepção de que a União só será forte se os Estados forem fortes. Os Estados ganharam um fôlego extraordinário. O teto dos gastos foi aprovado?
LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL
?O governador não pode deixar de cumprir isso, sob pena de perder o cargo. Por isso falo na reconstitucionalização do país, para que possamos restabelecer as instituições, porque veja a confusão que deu. Quando vimos que esse dispositivo poderia impedir a aprovação do projeto fixador do teto, olhamos a Constituição e dissemos pode tirar. Estamos fazendo cocada com o coco do coqueiro?.
REAL X CÂMBIO
?Temos que manter um certo equilíbrio. Nem pode ter o dólar num patamar elevado, nem um dólar derretido.Ontem veio um grupo aqui – de 15 grandes empresários e banqueiros – e um dos temas que conversamos era sobre isso. Mas eles vieram aqui para dar apoio?.
POLÍTICA INDUSTRIAL
?Montada como projeto, não tem… Mas devo registrar, convenhamos, estou fazendo três meses. Tivemos que organizar o governo em sete dias. Não tivemos transição. Quando chegamos aqui tinha uma mocinha sentada na sala e nada mais, nada de histórico ou memória. O único lugar que realmente tinha era Banco Central, Fazenda, Planejamento, Banco do Brasil?.
CAIXA DOIS X PROPINA
?Acho, em primeiro lugar, que as medidas contra a corrupção, principalmente aquelas que estão na comissão especial, são úteis para o Brasil. Eu verifiquei que havia um sistema anterior pelo qual as empresas podiam doar. Percebi que depois que se proibiu a doação de pessoas jurídicas, que as doações formalmente legais entraram no partido e do partido saíram para o candidato A, B, C ou D. Essas doações estão sendo criminalizadas. Por que? Não pelo seu aspecto formal, mas pelo seu aspecto mais indutivo, achando que aquilo entrou porque havia propina. Então, vai precisar provar que aquele valor que entrou no partido e que houve prestação de contas, que aquilo é fruto de propina. É uma questão a ser examinada?.
CITAÇÃO DE ODEBRECHT
?Eu não tenho medo dessas coisas. Por exemplo, o [Marcelo] Odebrecht disse que esteve comigo – eu até pedi ao Márcio [assessor] para confirmar – em 2014. Eu era presidente do partido e ele acertou uma contribuição. Até se falou em R$ 10 milhões, mas na verdade foram R$ 11,3 milhões que ele entregou ao partido – tem a prestação de contas para todos os candidatos a governador…A coisa vai para a imprensa e você não sabe se é fruto da delação, se é fruto do advogado, você não sabe de onde veio. Então, o que eu faço? Eu não vou negar que ele esteve comigo, como tantos outros empresários estiveram comigo.?
MUDANÇA NA LEI DA DELAÇÃO
Não vejo motivo para mudar. Delata quem quer, tanto que tem gente que não delata. Tanto que tem advogados que não advogam para delator. Mas está previsto no sistema legal.