Cotidiano

Campanha começa em São Paulo mirando 2018

FOTOELEIÇÃO1608.jpgSÃO PAULO – Assim que os principais candidatos à prefeitura de São Paulo começarem nesta terça-feira o corpo-a-corpo nas ruas, uma nova configuração da política nacional passa a ser desenhada. Mais do que a conquista da maior prefeitura do país, PT, PMDB e PSDB entram na eleição paulistana tendo a corrida presidencial em 2018 na mira. Eles avaliam que o vencedor em outubro terá somado pontos importantes para a caminhada rumo ao Palácio do Planalto.

Para o PT, a reeleição do prefeito Fernando Haddad é prioridade e um dos únicos caminhos para reabilitar o partido depois da avalanche do impeachment e da Lava-Jato. Os petistas acreditam que existe um movimento do governo Temer para tirar Haddad do segundo turno, seja com Marta Suplicy ou com Celso Russomanno, e liquidar as pretensões do partido para a eleição de 2018.

– Derrotar o PT em São Paulo é o primeiro passo para tentar reduzir nossas chances de vitória em 2018 – discursou Paulo Fiorilo, um dos coordenadores da campanha de Haddad, na última sexta-feira, em evento com o ex-presidente Lula.

O impeachment de Dilma Rousseff também é um problema para o prefeito de São Paulo. Antes mesmo do início oficial da campanha, Haddad criou mal-estar com militantes, na semana passada, ao declarar que “golpe” era uma palavra muito forte para se referir ao processo contra a presidente afastada. Em um vídeo divulgado na segunda-feira por petistas, gravado em um encontro com grupos de esquerda, o prefeito mudou o tom para tentar se reconciliar com os petistas e disse:

– É golpe, p…, estão descumprindo a constituição num quesito básico.

No PSDB, o resultado da eleição tende a pesar na escolha do próximo candidato do partido à Presidência da República. Se o governador Geraldo Alckmin fizer de seu afilhado, o candidato João Doria, o novo prefeito da cidade, pontos preciosos o tucano terá acumulado para a disputa interna daqui dois anos. Alckmin não pode mais se reeleger e tem como principal projeto político disputar novamente a eleição presidencial. Já o ministro José Serra, embora tucano, aposta todas as suas fichas na dobradinha Marta Suplicy (PMDB) e Andrea Matarazzo (PSD), amigo de Serra. Uma vitória da chapa pode aumentar o poder de negociação do ministro para voltar a ser um presidenciável num entendimento com o PMDB.

A candidatura de Marta Suplicy (PMDB), por sua vez, congrega três forças nacionais potencialmente protagonistas na disputa para presidência em 2018. Marta é uma das apostas do presidente interino para levar a principal capital do país e se cacifar para as eleições presidenciais daqui a dois anos. Aliados de Temer afirmam que, embora não seja uma “obsessão” do presidente, sua intenção é bater o PT na capital e admitem que, se o plano de governo traçado por ele der certo, será candidato natural à reeleição. Em uma costura com Serra e Gilberto Kassab, do PSD, ambos com pretensões eleitorais para 2018, Temer alocou Matarazzo na vice da chapa. Com a costura, Kassab amarrou para si a vaga de candidato ao Senado daqui a dois anos e Serra deu um duro golpe nas intenções do governador Geraldo Alckmin para a capital.

A candidatura de Marta simboliza o momento partidário conturbado do país. Petista histórica e uma das mais aguerridas defensoras de Lula, ela deixou o PT dizendo-se cansada de corrupção e ingressou no PMDB de braços dados com o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, abatido pelos escândalos da Lava-Jato. Enquanto isso, Matarazzo, tucano de carteirinha, abandonou a legenda para poder ser candidato mas suas intenções acabaram liquidadas pelos planos de ascensão de Kassab, que já foi aliado de Serra, de Dilma e é agora ministro de Temer.

Embora não seja o candidato oficial do governo do presidente interino Michel Temer, Celso Russomanno (PRB) tem ligações com o grupo político que assumiu a Presidência da República. O PRB foi o primeiro partido a debandar da base de Dilma Rousseff. Em 16 de março, o partido colocou o cargo no Ministério do Esporte à disposição e passou a articular apoio ao impeachment de Dilma na Câmara dos Deputados.

Além disso, o coordenador da campanha de Russomanno é o deputado Marcelo Squassoni (PRB-SP), um dos 15 vice-líderes do governo na Câmara dos Deputados. No PRB, Squassoni é tido como próximo ao governo federal. Assessores próximos a Russomanno dizem que o governo federal não tem influência nenhuma na campanha e que o apresentador não tem nenhum interesse nas disputas de 2018. A proximidade com o governo, no entanto, pode render um apoio em um eventual segundo turno em que Marta não faça parte.

Com a perda de força do PT por causa do impeachment e da Lava-Jato, a deputada federal Luiza Erundina (PSOL), que já foi prefeita da cidade, surge como uma força para personalizar a nova esquerda. Ela terá como principais dificuldades o pouco tempo de televisão, a falta de dinheiro e a possibilidade de ficar fora dos debates. As emissoras só são obrigadas a convidar candidatos de coligações com pelo menos dez deputados eleitos (o PSOL só tem seis). Elas podem convidar esses candidatos, mas só com o aval de dois terços dos garantidos por lei.

Questões nacionais como o impeachment da presidente Dilma Rousseff também devem ser abordadas na campanha. Por vezes, Erundina se mostrou mais aguerrida na defesa do mandato da presidente afastada do que os próprios membros do PT.

– A campanha de São Paulo é sempre muito nacionalizada. Claro que as questões sobre a cidade estão no centro, mas os assuntos nacionais aparecem e serão debatidos, não dá para ignorar – explicou o marqueteiro da campanha, Pedro Ekman.

Pesquisa Datafolha divulgada no mês passado mostrou o deputado Celso Russomanno (PRB) em primeiro lugar, seguido da senadora Marta Suplicy e a deputada Luiza Erundina, empatadas em segundo lugar, o prefeito Fernando Haddad (PT) em terceiro e João Doria na quarta colocação.

PONTOS FORTES E FRACOS DE CADA CANDIDATO

João Dória (PSDB)

Ponto forte: Apoio do governador Geraldo Alckmin e patrimônio para bancar a própria campanha

Ponto fraco: PSDB rachado e candidato ainda pouco conhecido

Fernando Haddad (PT)

Ponto forte: Possui a máquina da prefeitura

Ponto fraco: Desgaste do PT por conta das denúncias de corrupção

Marta Suplicy (PMDB)

Ponto forte: Marcas da gestão quando foi prefeita de São Paulo

Ponto fraco: Explicar porque trocou o PT pelo PMDB

Celso Russomanno (PRB)

Ponto forte: Boa votação nas duas últimas eleições e projeção na periferia

Ponto fraco: Falta de estrutura partidária

Luiza Erundina (Psol)

Ponto forte: imagem associada à honestidade

Ponto fraco: terá pouco tempo de TV