Cotidiano

Xenofobia populista eleva tensão racial nos EUA

A violência racial nos EUA atingiu níveis inéditos nos últimos dias, na esteira da morte de mais dois homens negros ? Alton Sterling e Philando Castile ? por policiais brancos, em Louisiana e Minnesota, na semana passada. As duas ocorrências foram registradas em vídeo e, no caso de Castile, transmitida ao vivo pela namorada. Estatísticas oficiais e pesquisas de opinião confirmam o que a população já sabe por vivência: as mortes de Sterling e Castile não são casos isolados, e sim parte da realidade social americana, onde negros têm muito mais chances de serem mortos pela polícia do que um branco, apesar de representarem apenas 13% da população total. É certo, porém, que há mais negros em áreas pobres e violentas.

Mas, nos EUA, o racismo só começou a desaparecer das instituições nos anos 1960, a partir das marchas comandadas por líderes como Martin Luther King, na luta pela por direitos civis para a população negra. De lá para cá houve avanços importantes, mas o racismo persiste como uma doença difícil de erradicar, inclusive nas relações mais cotidianas.

Basta ver o grau de ressonância que alcançou o discurso de Donald Trump, candidato republicano à Presidência, ao invocar um populismo retrógrado e xenófobo, nesta campanha eleitoral. Não à toa, grupos que defendem a supremacia branca, como a Ku Klux Klan, estão ressurgindo das sombras. E não se trata de um fenômeno restrito aos EUA. Ele também aparece de forma alarmante em movimentos ultranacionalistas na Europa, contra a presença de imigrantes e a integração regional. Este foi, aliás, o argumento central dos defensores da saída do Reino Unido da UE no plebiscito que culminou com o chamado Brexit.

Nos EUA, porém, há agravantes. A total liberdade para a compra de armas e munições potencializa a ocorrência de tragédias, inclusive aquelas com motivações raciais. Basta lembrar, por exemplo, do massacre promovido pelo jovem branco Dylann Storm Roof, em uma Igreja Metodista de Charleston, na Carolina do Sul, em que nove membros da igreja, todos negros, foram mortos por Roof, inclusive o pastor daquela congregação, reverendo Clementa Pinckney.

A tolerância diante do evidente despreparo da polícia americana se esgota. No último fim de semana ocorreram manifestações em várias cidades, com confrontos com a polícia, resultando em feridos e cerca de 300 manifestantes detidos, inclusive um dos líderes do movimento Black Lives Matter, que luta contra a brutalidade policial.

Mas a violência alcançou um patamar inédito, depois que Micah Johnson, ex-soldado negro de 25 anos do Exército americano, com atuação no Afeganistão, atacou policiais brancos que acompanhavam um protesto em Dallas, matando cinco e ferindo sete. Foi a primeira vez que esse tipo de reação ocorreu, e preocupa que gesto de Micah inspire novos ataques. O presidente Barack Obama exortou a sociedade americana a buscar o entendimento. É o único caminho.