Cotidiano

Policial preso admite varreduras contra grampos em telefones de senadores

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BRASÍLIA ? O policial legislativo Geraldo César de Deus Oliveira, um dos presos da Operação Métis nesta sexta-feira, confirmou que realizou varredura contra grampos telefônicos ordenadas pelo seu superior na Polícia do Senado, Pedro Ricardo, em endereços ligados aos senadores Fernando Collor (PTC-AL) e Gleisi Hoffmann (PT-PR), na do ex-presidente José Sarney (PMDB-AP) e do ex-senador Lobão FIlho (PMDB-MA).

PF Lava-jato – 21/10

Oliveira, que foi solto ainda nesta sexta pela Polícia Federal, disse que chegou a manter contato telefônico com a Procuradoria-Geral da República (PGR) para informar das varreduras. Ele afirmou que temia ser confundido com ?um espião? e também ser acusado de estar ?protegendo? parlamentares investigados pela Operação Lava Jato.

O policial contou que, para esses serviços, o Senado comprou dois aparelhos do modelo Oscor Green, ?que servem para leitura de radiofrequência e detecta dispositivos eletrônicos instalados internamente?, e dois aparelhos Talan, ?que servem para medida de contrainteligência em linha de telefone fixo e fiação elétrica?. Oliveira confirmou que, para aprender a manusear os aparelhos, ele e um colega, Antonio Tavares, viajaram aos Estados Unidos em 2015. Pouco depois de comprar os aparelhos, contou o policial, eles receberam aulas técnicas de servidores da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).

O agente afirmou que a Polícia do Senado recebe constantemente pedidos para realização de varreduras. ?Quem faz os pedidos são as autoridades, ou seja, os senadores?, afirmou. Segundo ele, ?por colaboração, já realizaram também varredura no gabinete do presidente da Câmara?. Oliviera não informou quando e quantas vezes foram feitas operações na Câmara.

Oliveira afirmou que os pedidos para fazer varreduras são feitos ?em gabinetes, residências oficiais e particulares?. Contou também que o grupo da Polícia do Senado realiza ainda ?uma espécie de ‘proteção especial?? ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) ?realizando varreduras onde quer que ele vá ter reuniões?.

INÍCIO DAS SUSPEITAS

A primeira varredura com esses aparelhos que despertou suas suspeitas, disse Oliveira, foi realizada na casa de Marcos Regada, segundo ele, um genro do ex-senador Lobão Filho. Ele disse à PF que a princípio não sabia, mas depois descobriu que a varredura não ?estava relacionada com o exercício do mandato de um senador?, mas sim com ?a campanha política de Lobão Filho ao governo do Estado?. Afirmou ainda que só depois descobriu que o trabalho fora feito na casa do genro do ex-senador, e não na residência de um parlamentar. A residência, disse era ?suntuosa? a havia até um helicóptero.

Na viagem até São Luís, Oliveira afirma que ?a equipe teve medo na hora do embarque com o equipamento, uma vez que tinham receito de serem flagrados no momento do raio-X do aeroporto, por exemplo, e serem tidos como os ?espiões? do Senado Federal pela mídia?. Oliveira disse as varreduras nas casas de Collor e Gleisi ocorreram logo depois de operações deflagradas pela Polícia Federal, em desdobramentos da Lava-Jato. Ele dá detalhes sobre os casos.

Na residência de Collor, foram recebidos por um assessor, chamado apenas de Santana, que teria dito que o parlamentar ?estava inseguro de retornar para casa pois seus ambientes tinham sido devassados pela PF?. ?De fato causou estranheza e receio por parte do interrogado (Geraldo), porém acreditava até então que estava cumprindo uma ordem legal?, disse Oliveira à PF.

ORDEM QUESTIONADA

Com relação à varredura na casa do ex-presidente José Sarney, Oliveira contou que, após receber a ordem, decidiu questioná-la. Mas, afirma, Pedro Ricardo respondeu que ele ?deveria ir, simplesmente por ser uma ordem já que o pedido havia sido feito por um ex-presidente e que, acaso um dia isto fosse questionado, poderia ser dito que tal medida foi realizada como precursora para uma visita do presidente do Senado, o que legitimaria a ação da ‘contramedida’ de segurança?

Gleisi também teria dito à Polícia do Senado, segundo Oliveira, que estava insegura e ?só voltaria para casa após a realização da varredura eletrônica?. O policial conta que resistiu à essa ordem, assim como seu chefe imediato, Everaldo Bosco, ?que não estava seguro em realizar a varredura na casa da senadora, por ser em Curitiba e temer dar aparência de que a Polícia do Senado estaria protegendo parlamentares?.

?Na verdade, nesse momento, somadas todas as circunstâncias anteriores, desconfiava muito do real interesse nas ordens recebida?, registra o depoimento à PF.

Oliveira também ainda que tentou um contato com procuradores da República para informou sobre o que estava ocorrendo. Disse que deixou ?essa tentativa de contato no sistema SPOL/Bolo, um subsistema de registro de boletim de ocorrência? como ocorrência administrativa. No entanto, teria recebido como resposta do procurador que a equipe do Senado poderia ir, mas ?não vão achar nada?, em referência a grampos telefônicos, ?porque a polícia federal não utilizaria esse tipo de serviço?. O policial disse que ?nunca recebeu vantagem econômica extra para fins de realização dessas varreduras?.

*Estagiário, sob supervisão de Francisco Leali