BRASÍLIA – O alvo era o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas o tiro acabou acertando também as urnas eletrônicas brasileiras. O movimento Nas Ruas ? um dos que foram às ruas pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff ? protocolou nesta segunda-feira um documento na Organização das Nações Unidas (ONU) pondo em dúvida a credibilidade das urnas. O texto, com muitas críticas ao PT e a Lula, foi a forma encontrada para rebater argumentos do ex-presidente. Ele tinha recorrido ao Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos contra supostas arbitrariedades do juiz federal Sérgio Moro, responsável pelas investigações da Operação Lava-Jato.
“A sucessora de Lula, a senhora Dilma Rousseff, foi reeleita em meio a uma crise econômica que ela negou e encobriu durante a campanha eleitoral. Além disso, sua campanha foi financiada com recursos de propina; finalmente, ela foi eleita por uma pequena margem de votos (3%), por meio de um sistema eletrônico de votação não auditável operado pela Smartmatic International, companhia que foi processada por fraude em vários países, como os Estados Unidos e as Filipinas”, diz trecho do documento, que foi escrito em inglês e é assinado por outros 46 movimentos além do “Nas Ruas”. Dilma foi reeleita em 2014.
Carlos Haddad, diretor da Smartmatic no Brasil, refutou as acusações, destacando que, nas eleições de 2012, 2014 e 2016, a empresa apenas forneceu ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) as antenas para a transmissão de dados via satélite. A operação dos equipamentos, porém, ficou a cargo do próprio TSE. Quanto às acusações de fraudes nos Estados Unidos e Filipinas, ele informou que seria preciso esperar primeiro uma posição da sede da empresa, que não fica no Brasil. O TSE, por sua vez, sempre que é colocada em dúvida a integridade das urnas eletrônicas brasileiras, diz que o sistema é seguro.
No texto, os movimentos anti-Lula elogiam o trabalho de Moro e do Ministério Público Federal e criticam o ex-presidente, dizendo que ele tentou tomar controle político do Estado brasileiro ao indicar vários nomes de seu partido para postos estratégicos. Segundo o texto, os interesses do ex-presidente se relacionam com os do Foro de São Paulo, grupo de partidos de esquerda no continente, no objetivo de “implantar o socialismo nos países latino-americanos”. Para isso, teria recorrido à corrupção e a políticas populistas e economicamente insustentáveis. O texto compara a ação do PT à de uma organização criminosa que quer tomar conta do Estado, e refuta a ideia de que o impeachment de Dilma foi um golpe.