Rio e Los Angeles – Aos críticos que acreditavam que o discurso protecionista de Donald Trump era, em grande parte, apenas um recurso retórico, o presidente eleito quer dar uma resposta já em seu primeiro dia de governo. Segundo memorando elaborado pela equipe de transição do republicano e obtido pela rede de TV americana CNN, a primeira medida de Trump após sua posse, em 20 de janeiro, será iniciar o processo de reformulação do Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (Nafta, na sigla em inglês), que inclui México e Canadá. O documento deixa claro que Trump avalia seriamente a possibilidade de os EUA saírem do tratado, que seria substituído por acordos bilaterais com os dois países.
De acordo com a CNN, o memorando é um rascunho e alerta que seu conteúdo pode ser alterado até o dia da posse. Mas ele foi distribuído entre os membros da equipe do novo presidente e mostra que as propostas de campanha do magnata nova-iorquino estão sendo tratadas como base para os primeiros 200 dias de governo de Trump.
O memorando mostra que o objetivo de Trump é refutar os princípios que nortearam a política comercial americana nas últimas décadas, como a busca por acordos multilaterais e a aderência a regras internacionais de comércio. Em seu lugar, o bilionário deseja estabelecer acordos bilaterais. Paralelamente, Trump planeja acusar, em organismos internacionais, práticas comerciais que considera desleais.
?O plano de Trump para a área de comércio rompe com as alas pró-globalização tanto do partido Republicano quanto do Democrata?, afirma o texto, de acordo com a rede de TV. ?O governo Trump vai reverter décadas de políticas comerciais conciliatórias. Novos acordos comerciais serão negociados visando a atender primeiro os interesses dos trabalhadores e das empresas americanas.?
No primeiro dia de governo, segundo o memorando, Trump planeja encomendar ao Departamento de Comércio e à Comissão de Comércio Internacional dos EUA (ITC, na sigla em inglês) um estudo sobre os desdobramentos de uma retirada do Nafta e quais medidas legislativas tal decisão demandaria. Além disso, Trump quer que México e Canadá sejam oficialmente notificados de que os EUA querem propor emendas no tratado, entre elas a inclusão de medidas contra manipulação cambial.
acusações contra a china
O rascunho do documento também mostra que, ao cabo de cem dias de governo, enquanto devem continuar as negociações sobre o Nafta, a equipe de Trump planeja mirar a China. O presidente eleito aventa a possibilidade de acusar oficialmente a China de manipulação cambial.
Após 200 dias, segundo o documento, espera-se que Trump esteja considerando a saída formal do Nafta, enquanto busca acordos bilaterais com México e Canadá para compensar os efeitos negativos da retirada.
Segundo a CNN, a equipe de transição de Donald Trump não se pronunciou sobre os detalhes do documento.
Ford: ?impactos substanciais?
Ontem, o diretor-executivo da Ford Motor, Mark Fields, criticou a imposição de tarira de importação de 35% sobre automóveis produzidos no México, uma das propostas anunciadas por Donald Trump durante sua campanha. Segundo Fields, a barreira tarifária seria prejudicial para a economia americana.
? Uma tarifa dessas seria imposta sobre todo o setor automotivo e teria impactos substanciais sobre a economia americana ? disse Fields a jornalistas, após a conferência AutoMobility, em Los Angeles.
Durante a campanha, Trump criticou o plano da Ford de mover para o México toda sua produção americana de carros populares. Para evitar movimentos como esse, Trump prometeu impôr a tarifa de 35% sobre a importação de automóveis fabricados no país vizinho.
Segundo Fields, a Ford tem mantido contato com a equipe de transição do republicano Donald Trump.
? Sigo convencido de que as medidas corretas vão prevalecer, porque eu acho que todos nós compartilhamos o mesmo objetivo, que é uma economia americana vibrante e saudável ? afirmou Fields. ? Esperamos trabalhar de forma bastante efetiva e positiva com o governo do novo presidente, assim como com o novo Congresso.
Após as ameaças de Trump, a Ford teria voltado atrás em seu plano de mover unidades para o México. Segundo fontes ouvidas pela agência Bloomberg, a fábrica de Wayne, no estado de Michigan, que perderia a produção do modelo mais básico do Focus e do híbrido C-Max, passará a fabricar mais unidades da pickup Ranger e uma nova versão do clássico Bronco. A Ford afirmou que não haverá corte de vagas na unidade de Wayne.
O presidente-executivo da fabricante, Bill Ford ? bisneto do lendário fundador Henry Ford ?, chegou a se encontrar com Trump durante a campanha, mas o republicano não parou com suas críticas contra a fabricante de automóveis.
? Nós somos tudo o que ele deveria estar celebrando sobre este país ? afirmou Bill Ford em setembro.
Ontem, o diretor-executivo da gigante das peças automotivas mexicana Rassini, Eugenio Madero, disse considerar improvável a saída dos EUA da Nafta. De acordo com ele, o custo de uma dissolução do tratado seria pago pelo consumidor.