
Esses dados são revelados por pesquisadores da Áustria, que realizaram o estudo utilizando um modelo matemático com base em informações da Organização Mundial de Saúde (OMS) e outros estudos de larga escala sobre nascimento. Segundo eles, historicamente, esses genes não teriam sido passado de mãe para filha, pois ambas teriam morrido durante o parto.
O pesquisador Philipp Mitteroecker, do departamento de Biologia Teórica da Universidade de Viena, disse que esta tem sido uma questão de longa data na compreensão da evolução humana.
? Por que é tão alta a taxa de problemas de nascimento, em particular o que chamamos de desproporção fetopélvica, que é basicamente o fato de o bebê não se encaixar no canal de parto materno? ? questionou ele. ? O que constatamos é que, sem a intervenção médica moderna, tais problemas eram frequentemente letais e isto é, de uma perspectiva evolucionária, uma seleção.
E é esta seleção natural que estaria comprometida, dizem os cientistas, com a disponibilidade de cesarianas.
? As mulheres com uma pelve muito estreita não teriam sobrevivido ao nascimento há 100 anos, e agora passam seus genes às futuras gerações, codificando uma pelve estreita para suas filhas. Nossa intenção não é criticar a intervenção médica. Mas isso teve um efeito evolutivo ? diz ele.
A pesquisa foi publicada nesta terça-feira na revista “Proceedings of the National Academy of Sciences”.
FORÇAS OPOSTAS
A cabeça de um bebê humano é grande em comparação com a dos outros primatas, o que significa que animais como chimpanzés podem dar à luz com relativa facilidade. Mas, hoje, bebês humanos nascem com a cabeça ainda maior do que costumavam nascer, enquanto as mães têm, cada vez mais, uma pelve mais estreita. Foram essas forças evolutivas opostas que os pesquisadores austríacos encontraram ao desenvolver o estudo.
A primeira tendência, que deve continuar, é que os bebês estão nascendo mais saudáveis, portanto maiores. E isso inclui o diâmetro de suas cabeças. No entanto, se eles crescem muito, ficam presos durante o trabalho de parto, o que historicamente tem provado ser desastroso para a mãe e para o bebê, e, se não fossem as cesarianas, seus genes não seriam passado.
? Um lado dessa força seletiva, que era a tendência para bebês menores, desapareceu devido às cesáreas ? destacou Mitteroecker.
TENDÊNCIAS PARA O FUTURO
Os pesquisadores estimam que a taxa global de casos em que o bebê não pode se encaixar no canal de parto materno passou, nos últimos 50 ou 60 anos, de 3% ? ou 30 em cada mil nascimentos ? para cerca de 3,6%, ou 36 em cada mil nascimentos. Isso representa um aumento de 20% da taxa original, devido ao efeito evolutivo.
? A questão premente é: o que vai acontecer no futuro? ? sublinhou Mitteroecker. ? Eu espero que esta tendência evolucionária continue, mas talvez apenas de forma mais lenta. Há limites, por isso não espero que um dia a maioria das crianças tenha que nascer por cesáreas.
A pesquisa foi publicada nesta terça-feira na revista, “Proceedings of the National Academy of Sciences” (PNAS).