Agronegócio

Chuva não dá trégua e pode afetar janela de plantio de soja e milho

Chuva não dá trégua e pode afetar janela de plantio de soja e milho

Cascavel – A chuva não tem dado trégua nos últimos dias no Paraná e no oeste do Estado. Como faz semanalmente, a Seab (Secretaria Estadual da Agricultura e Abastecimento), por intermédio do Deral (Departamento de Economia Rural), divulgou ontem (27), o boletim mais atualizado das condições das lavouras no Paraná.

Mesmo com o excesso de umidade, o trigo já alcançou 37% de área plantada. Do total, 76% apresentam boas condições, 22% em situação média e 2% ruins. Em relação aos grãos, 45% se encontram em fase de maturação, 39% em frutificação e 13% em floração. Do total, 3% estão em desenvolvimento vegetativo.

A umidade também tem comprometido o plantio de soja no Paraná. O índice é de 9%. Do total, 78% estão em germinação e 27% na fase de desenvolvimento vegetativo. Com relação ao milho primeira safra, 58% dos grãos já foram plantados. Já as lavouras de feijão, 41%.

Para entender melhor esse impacto das chuvas em excesso nas lavouras, a equipe de reportagem do O Paraná conversou com o engenheiro agrônomo Thiago Augusto da Costa. “A chuva que não para de cair já vem comprometendo a qualidade do trigo, reduzindo o PH do grão pronto para colher”, comenta. Segundo ele, alguns produtores já conseguiram adiantar bem a colheita no fim de semana. O trigo já vem de uma série de intempéries climáticas, atribuídas à estiagem e geada. “Para ter uma noção desse impacto, em uma lavoura que presto assistência, os grãos colhidos antes das chuvas torrenciais apresentaram um PH bom, superior a 79. Em contrapartida, em uma determinada parcela da área, já atingida pela chuva, além da redução de colheita, o PH oscilou entre 69 e 71, bem inferior ao recomendável, que é de 78”. A queda, após as chuvas, foi de 20% do rendimento na produtividade.

O engenheiro agrônomo chama a atenção para outro fator relevante. Em muitas lavouras, o trigo apresenta um estado chamado de acamamento em virtude do excesso de chuva. “Alguns trigos prontos para colher já começam a apresentar apodrecimento e isso dificultará a colheita, agravando ainda mais as perdas”.

SOJA

Trazendo a questão para a umidade nas lavouras de soja no Paraná, muitos agricultores obtiveram êxito com a semeadura, com produtores conseguindo cobrir mais de 60% da área, de acordo com Thiago Augusto da Costa. Porém, as condições atuais tornam o solo mais úmido, inapropriado para a semeadura da soja. “Em algumas lavouras, as plantas emergiram de forma satisfatória, mas na sexta-feira, com as baixas temperaturas, houve interferência direta no desenvolvimento das plantas”.

O agrônomo destaca que nas áreas que ele tem acompanhado de perto, a soja não morreu, mas há danos já visíveis. “Sem contar que esse período de frio prejudica o desenvolvimento da cultura da soja, uma vez que a semente precisa do acúmulo de calor para complementar os estágios fenológicos e, consequentemente, atender o ciclo de forma ideal”. Se a semente é colocada em solo muito úmido, ela pode embeber rápido demais e perder a qualidade. Ela precisa “respirar” para ter seus processos de germinação e emergência.

Sem cessar, a chuva tende a comprometer o período de semeadura da soja e afetar a janela de plantio do milho safrinha. “Além de reduzir a janela, vamos ter menos milho plantado e muito milho plantado fora da época, sob a ameaça de ser atingido por períodos críticos, como a geada, reduzindo o potencial produtivo”.

La Niña

Para concluir, o engenheiro agrônomo destaca o risco de uma estiagem intensa após esse período longo de chuva. “Estamos enfrentando a La Niña e quando a chuva parar, será que não vamos nos deparar com um período longo de seca?”, deixa a pergunta no ar.

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Trigo: Ministro da Agricultura volta a falar em autossuficiência

Foz do Iguaçu – O ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Marcos Montes, participou ontem (27) da cerimônia de encerramento do 29º Congresso Internacional da Indústria do Trigo, em Foz do Iguaçu. O evento é uma realização da Abitrigo (Associação Brasileira da Indústria do Trigo).

No evento, o ministro destacou a alta da produção de trigo no país, graças ao investimento em pesquisa e inovação, em especial a atuação da Embrapa. Ele citou, como exemplo, que a média nacional é a produção de 2,8 de toneladas por hectare. Porém, há produtores que já alcançaram 9 toneladas por hectare. “Achamos o caminho para produzir trigo, o que nos levará a autossuficiência e também aumentar a exportação”, disse o ministro.

A estimativa é que o Brasil alcance esse cenário dentro de dez anos. Para chegar a autossuficiência, umas das frentes é a expansão do cultivo no Cerrado, com potencial de produção de trigo para 1 milhão de hectares em sistema irrigado e incorporação de mais 2,5 milhões de hectares no sistema de sequeiro. Isso representa cerca de 4 milhões de toneladas do grão a mais no país, conforme a Embrapa.

Na safra 2021/2022, a produção de trigo está estimada em 9,4 milhões de toneladas, com área plantada de 290,6 mil hectares (crescimento de 10,6%), de acordo com o 12º Levantamento de Grãos, divulgado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).