Saúde

Volta às aulas: diretores relatam dificuldades; para prefeitos, falta dinheiro

A reportagem conversou com profissionais que atuam em colégios de diversas regiões do Estado

Volta às aulas: diretores relatam dificuldades; para prefeitos, falta dinheiro

Reportagem: Cláudia Neis

Cascavel – A discussão sobre a volta das aulas nas escolas divide opiniões. Na rede pública, o problema vai além da situação da pandemia: é a evidente falta de estrutura e condições de reverter a situação. Enquanto quem trabalha nas escolas alertam para as dificuldades estruturais, inclusive de pessoal, os gestores municipais reconhecem que não há dinheiro para equipá-las nem atender a todas as propostas já apresentadas.

A reportagem conversou com profissionais que atuam em colégios de diversas regiões do Estado. Na região de Curitiba, que atende cerca de 3 mil estudante, um servidor conta que, além de a estrutura da instituição ser antiga e o espaço reduzido, há um problema mais grave e que por ora sem solução prevista. “As janelas não abrem por completo, são antigas demais e não há circulação de ar. Só seria possível o retorno de um terço dos alunos por período e turma, pois somente assim o espaçamento entre as carteiras poderia ser cumprido. Mas o maior problema mesmo é a falta de água. Antes tínhamos rodízios diários e em alguns dias tínhamos que dispensar os alunos por causa disso; agora, o rodízio foi ampliado. Então, a menos que caminhões-pipa abasteçam a escola diariamente, não poderíamos garantir nem o mínimo de higiene aos alunos”.

Outra servidora, que está à frente de um colégio com pouco mais de 400 alunos, levanta a questão de falta de profissionais: “Contamos com cinco funcionários para limpeza e merenda, três deles são do grupo de risco e estão afastados. Dos dois funcionários do administrativo, um também é do grupo de risco e está em teletrabalho. Temos professores no grupo de risco também. Outra questão é o espaço físico. A escola é superpequena. Inclusive, o refeitório não comporta número de alunos por turno, que chega a 200 estudantes. Enfim, se formos seguir as exigências de protocolo da saúde quanto aos cuidados e aos EPIs [Equipamentos de Proteção Individual], é completamente impossível atender a essa demanda exigida”.

Ela dá sua opinião: “Não vale o risco que correríamos. Pensamos em terminarmos o ano da forma como estamos, de forma remota. Pois hojve investimento para implantar o sistema e agora os alunos estão mais familiarizados”.

Já a dirigente de outra instituição, que atende pouco mais de 100 alunos, também reforça a preocupação com recursos humanos para atender a todas as exigências do protocolo de saúde. “Não temos recursos que atendam à volta sem a vacina. Tenho duas pessoas que cuidam da limpeza. Se as duas não tiverem nenhuma complicação de saúde e voltarem a trabalhar, teríamos que contratar pelo menos mais duas pessoas para ajudá-las. Tudo tem que ser higienizado o tempo todo, banheiros, refeitório, salas… Não sabemos se o Estado vai contratar mais gente. Sem contar que, na nossa região, o calor é insuportável, e não há ventilação na escola senão com uso do ventilador, que não se sabe se poderá ser usado. É um cenário muitíssimo complicado. Precisamos focar na segurança e na saúde de todos, sem isso, não dá para voltar agora”.

Outro servidor sugere que apenas alunos com mais dificuldades no aprendizado tivesse aulas presenciais, por enquanto. “Além do cenário de contágio, existe a necessidade de implementação de recursos com relação ao que está estipulado no protocolo e tempo para aquisição dos insumos e consolidação desse protocolo. Acredito que um retorno só seria possível com a redução drástica de alunos. Os que encontram maiores dificuldades no aprendizado vêm até a escola, consultam os professores, tiram dúvidas e retornam ao ensino remoto. Aqueles que estão com bom rendimento on-line optem por não vir, que continuem em casa. Acredito que seja essa a melhor forma de acabar bem o ano letivo”.

 Sem dinheiro

Enquanto servidores enumeram as demandas, os gestores fazem as contas. E já é consenso: não há dinheiro para tudo o que for necessário.

O presidente da Amop (Associação dos Municípios do Oeste do Paraná) e prefeito de Matelândia, Rineu Menoncin, ressalta essa questão: “As despesas extras que os municípios teriam com a compra de máscaras, álcool, luvas, muitos outros produtos de precaução, transporte em duplicidade, mais professores e servidores… sendo que o Fundeb [Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica] não está sendo suficiente para as despesas com a educação. Precisaríamos de um adendo de pelo mínimo de 20% para custear isso”, lista.

 Diversos cenários

A Seed (Secretaria de Educação do Estado do Paraná) informou que trabalha com diversos cenários de retorno, que podem fazer com que a quantidade de insumos, como EPIs e pessoal, varie.

Reafirmou que deve fornecer EPIs para a rede estadual fazer as adaptações e seguir o protocolo, mas ressaltou que tudo vai depender do cenário em que estiver o Paraná quando o retorno for autorizado e lembrou que isso vai ser definido pela Secretaria da Saúde, com base nos dados da pandemia no Estado.

Volta da rede municipal indefinida

Em Cascavel, a secretária de Educação, Márcia Baldini, convocou a imprensa ontem para esclarecer uma confusão: nada há definido a respeito da volta às aulas; nem quando voltam, nem se só voltam ano que vem.

Ela afirma que o cenário precisa ser mais seguro e que uma pesquisa com os pais e a testagem dos servidores devem começar na próxima semana. “Vamos enviar questionários aos pais para ver se eles enviariam os filhos para a escola. E vamos iniciar a testagem dos servidores, para que possamos ter uma ideia de quantos já têm anticorpos, para nortear a organização de uma possível volta. Acredito que a volta das aulas só poderá acontecer na segunda quinzena de outubro e com os números muito menores do que os registrados hoje”, ressalta.

De qualquer forma, ela já descartou o retorno do ensino presencial das crianças de menor idade e dos Cmeis (Centros de Educação Infantil) para 2020. “A possível volta seria das crianças um pouco maiores, que já conseguem seguir os cuidados necessários. Nos Cmeis, não há possibilidade”.

Por outro lado, ela diz que não há problemas financeiros para o retorno: “Nós temos um planejamento cuidadoso nesse sentido e não teríamos esse tipo de problema. Nossa questão é com a segurança dos estudantes e dos servidores”.

Retorno mantido na rede privada

Enquanto a discussão se acirra na rede pública, pelo menos em Cascavel, escolas da rede privada se preparam para receber de volta os alunos a partir do dia 14. O último decreto municipal, baixado dia 19 de agosto, libera a volta das atividades a partir dessa data para Ensino Médio, e, para o Ensino Fundamental, a partir do dia 28 deste mês.

Por enquanto, apesar do aumento recente dos casos em Cascavel e região, a informação do Município é que essa programação está mantida.