Reportagem: Cláudia Neis
Cascavel – O preço da saca do trigo é o melhor da história, 30% maior que o registrado ano passado: R$ 60 a saca de 60kg. Impulsionada pela alta do dólar, a valorização do grão tem impacto direto no preço dos seus derivados, inclusive o pãozinho. “O preço do trigo nesse patamar é excepcional para o produtor, é o melhor da história. Tivemos um pico em 2013 em que o preço ficou próximo do que está agora. O dólar alto vem influenciando nos derivados da commodity, pois, como estamos em período de entressafra, estamos importando o trigo argentino, e o reflexo já se sente nos supermercados e nas panificadoras. Levantamento da Seab/Deral [Secretaria de Agricultura e Abastecimento/Departamento de Economia Rural] mostra que o pão francês está 16% mais caro que no ano passado. Só neste ano a alta é de 7%”, explica o analista de trigo da Seab Hugo Godinho.
Além da alta do dólar, as medidas restritivas devido à pandemia impuseram uma mudança pontual de comportamento do consumidor. “Por conta do isolamento social, o consumidor tem optado pela compra de farinha de trigo, para produzir seu próprio pão em casa, e pão fatiado, que tem uma durabilidade maior e evita que tenha que se deslocar à panificadora diariamente. Com isso, o consumo do pão francês teve ligeira baixa em algumas localidades e a farinha subiu de modo geral”, ressalta o analista.
A expectativa é de que não haja retração nem aumento no consumo do grão no País este ano, devem se manter nas 12,5 milhões de toneladas consumidas ano passado. O Brasil produz cerca de 6 milhões a 7 milhões de toneladas anualmente.
Oeste tem maior área em 11 anos
Com os problemas na safrinha de milho e a alta cotação do trigo, a região oeste deve cultivar este ano 229 mil hectares do grão, a maior área desde 2009, que somou 231 mil hectares.
“O aumento de 24% na área de trigo em relação ao ano passado na região oeste tem relação direta com a estiagem registrada ano passado, que atrasou a colheita da soja e, consequentemente, atrasou o plantio do milho safrinha, ou impossibilitou a semeadura dentro da janela de zoneamento, que garantia o seguro agrícola. Essa situação toda impulsionou o produtor que não conseguiu plantar o milho a optar pelo trigo. Para se ter uma ideia, mesmo com o preço 30% mais alto que ano passado, o aumento de área no Estado foi de 5% em relação a 2019, então fica claro que a estiagem colaborou para esse aumento de área no oeste”, garante Hugo Godinho.
Mas o clima pode novamente interferir no campo, pois o trigo precisa de chuva no início: “A planta precisa de chuva, especialmente para a germinação, por isso, com o registro dos últimos dias, deve haver uma aceleração no plantio. Em Cascavel já foi plantada 45% da área estimada, de 180 mil. Em Toledo, 70% dos 49 mil hectares já estão semeados. Alguns produtores arriscaram a semeadura no pó mesmo, mas contando com os milímetros que estavam previstos. Agora, o produtor torce para que a chuva continue aparecendo e o frio não venha na hora imprópria e comprometa a planta”, afirma o analista.
No Estado, 35% da área estimada de 1,080 milhão de hectares de trigo já está plantada e o cenário inicial é bom para a cultura, mas o clima é um fator determinante.
O analista afirma ainda que o preço pago ao produtor deve cair com o início da safra de trigo no hemisfério norte, em julho.