Representantes da Ocepar (Organização das Cooperativas do Paraná) e de técnicos de 11 cooperativas do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina e do Paraná que possuem moinhos se reuniram nesta semana com pesquisadores da Embrapa, em Londrina, para promover a troca de experiências sobre a tomada de decisão da produção à pós-colheita do trigo.
A participação de técnicos que atuam em moinhos foi uma oportunidade para o intercâmbio informações e principalmente para o entendimento de como o segmento vem trabalhando questões relacionadas à qualidade, à segregação e à pós-colheita. Levantamento da Embrapa Trigo indica que cooperativas participantes de capacitações em convênio com a OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras) respondem por 60% da produção de trigo do Brasil e congregam 85% dos produtores do cereal.
“Nosso objetivo é promover o networking e dar condições para que os diferentes participantes apresentem como está estruturada a produção de trigo, a partir da atuação dos moinhos”, destaca Adão da Silva Acosta, analista da Embrapa Trigo. “A ideia é compartilhar os principais aspectos relacionados à tomada de decisão, seja na relação com os associados e as equipes técnicas, seja no entendimento dos mecanismos de fomento para promover a cultura no âmbito de cada cooperativa”, destaca Acosta.
Acosta destacou a dinâmica de flutuação de área semeada com a cultura e cenários para a produção de trigo e depois foi feito painel onde colocaram suas experiências e suas demandas para a pesquisa. “Debatemos os vários aspectos que impactam no setor como a escolha de cultivares, as dinâmicas de recebimentos de grãos, os testes para avaliação da qualidade dos grãos, enfim, aspectos técnicos que apoiam as tomadas de decisão”, disse.
Seleção
Edenilson Carlos de Oliveira, gerente de produtos agrícolas da Coamo (Cooperativa Agrícola de Campo Mourão), apresentou como realiza o processo de originação de trigo, desde a orientação na seleção de cultivares ao recebimento do grão. A projeção da Coamo para 2018 é de receber 540 mil toneladas de trigo, o que representa aproximadamente 11% da produção nacional.
A Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) estima que o Brasil irá produzir 4,9 milhões de toneladas na safra atual.
Na avaliação de Oliveira, o mercado vem mudando na direção de exigir melhor qualidade da matéria-prima e dos produtos. Já no campo o produtor vem percebendo que a escolha de uma cultivar precisa ter mais do que boas características agronômicas. “Esta percepção é mais recente entre os produtores, mas eles entendem ser necessário conciliar características como produtividade, sanidade e mais recentemente qualidade industrial”, diz o representante da Coamo.
Qualidade
Na cooperativa, a qualidade do trigo é avaliada no recebimento e depois no beneficiamento, etapa em que são realizados diversos testes que analisam desde força de glúten à proteína. “Fazemos testes no momento da recepção do trigo para segregarmos um trigo bom daquele que apresente qualidade inferior. Estamos sempre em busca de qualidade para destinar a matéria-prima que melhor vai atender a produção de pão e massa, produtos elaborados no moinho da Coamo”, destaca.
Moinho de 61 anos
Também participou do evento o gerente da Área de Agroindústria da Cotrisal (Cooperativa Tritícola Sarandi), Vilmar Bonfante. Segundo ele, o moinho da cooperativa é pequeno e foi criado com a cooperativa há 61 anos para atender às demandas dos produtores por troca de farinha por trigo. “Nosso objetivo não era entrar no mercado de farinhas, mas sim atender os produtores que produzem trigo”, diz.
Em 2017, a Cotrisal recebeu aproximadamente de 1,5 milhão de sacas de trigo e, deste total, apenas 40 mil sacas foram destinadas internamente à produção de farinha. O restante foi repassado a grandes moinhos. Bonfante diz estar avaliando a possibilidade de ampliar a atuação do moinho e transformá-lo em um negócio. “Até agora a produção de trigo estava focada em produtividade, para que nosso produtor pudesse ter maior rentabilidade”, diz. “Não temos um trabalho de avaliar a qualidade e segregar o trigo para destiná-lo à produção e biscoito ou massa, por exemplo. Mas vejo que isso é viável”, diz Bonfante.
Na avaliação de Bonfante, o primeiro passo nesta direção será promover um estudo sobre as variedades de trigo com potencial e qualidade para atender as exigências dos moinhos e assim agregar valor na venda. “Acho importante fazermos parceria com os moinhos para entendermos este mercado de farinhas, no sentido de produzirmos para os diferentes nichos. O importante é que o produtor, ao agregar valor ao produto, possa ser bonificado pela matéria-prima de qualidade que irá entregar para a indústria”, avalia.