Saúde

Ala Covid-19: Após dois meses, tratamento ainda é incerto e sequelas já são identificadas

Confira a entrevista completa com o médico Gabriel Afonso Dutra Kreling, um dos responsáveis pela Ala Covid-19 no HU de Cascavel sobre o protocolo de atendimento adotado na Unidade.

Gabriel Kreling: “Cada caso é um caso. É tudo muito novo.” - Foto: Fábio Donegá
Gabriel Kreling: “Cada caso é um caso. É tudo muito novo.” - Foto: Fábio Donegá

Reportagem: Cláudia Neis

Cascavel – Dois meses depois do início dos treinamentos e da preparação para o enfrentamento da covid-19 em Cascavel, ainda se sabe pouco sobre a doença e o tratamento dos casos mais graves.

Em entrevista ao Jornal O Paraná, o médico Gabriel Afonso Dutra Kreling, um dos responsáveis pela Ala Covid-19 no HU (Hospital Universitário) de Cascavel, falou sobre o protocolo de atendimento adotado na Unidade.O tratamento tem que ser individualizado. Existem os protocolos recomendados pelo Ministério da Saúde, mas cada paciente tem suas comorbidades e histórico, e isso tem que ser levado em conta nesse momento. Ainda não se sabe como o vírus age e isso também difere de paciente para paciente. Enfim, é tudo muito novo”, resume.

Questionado sobre a administração da cloroquina, o médico é enfático: “A cloroquina está disponível, mas é preciso deixar claro que ela não é a cura da doença. Ela auxilia de diversas maneiras nesse tratamento e existem pelo menos quatro formas de ação da cloroquina que são propostas, mas o benefício que se viu até agora é mais em pesquisa não clínica. Já nas pesquisas de resultados clínicos ainda não há como saber o resultado, pois elas estão em andamento e os resultados que temos são muito insipientes estatisticamente para se ter uma base nesse sentido”.

Ele explica que o medicamento não é indicado para todos os pacientes, pois existem contraindicações. “Justamente por essa falta de informações sobre a real ação da cloroquina [no combate à covid] é que precisamos ser cautelosos. Em alguns pacientes o medicamento não é utilizado porque há uma série de contraindicações, por isso a individualização do cuidado é extremamente importante”, ressalta.

 

Sequelas

Se os efeitos no organismo ainda são desconhecidos, as sequelas que a covid-19 pode deixar nos infectados é mais ainda. Em Cascavel, os pacientes do HU com a doença ainda estão sendo tratados no local, mas já há registros em outras localidades de problemas pulmonares. “O acometimento pulmonar é a característica mais presente nos casos mais graves da doença, e, nos pacientes que têm esse comprometimento, alguns já tiveram o registro de fibrose pulmonar e cicatrizes no pulmão causadas pela inflamação muito grande que a doença causa. Assim como para a covid, ainda não há como dizer se existe um tratamento para essas situações. É preciso realizar a reabilitação e estudar as consequências pós-doença para avançar nesse sentido”.

Como é passar pela doença?

A reportagem do Jornal O Paraná conversou com um paciente que foi infectado com a covid-19. Apesar de não ter havido a necessidade de internamento, os sintomas foram severos.

Questionado sobre o que difere a covid de uma gripe normal o paciente afirmou: “Os casos se apresentam de maneiras diferentes e depende muito da pessoa e de caso a caso. No meu caso, a doença apresentou sintomas semelhantes a uma gripe, porém com sintomas exacerbados – febre, muita dor no corpo, dor em articulações, tosse inicialmente seca e depois produtiva, coriza, dor de garganta, dor de cabeça, dor abdominal, diarreia e vômito. Todos esses sintomas que tive podem haver num quadro gripal, a diferença é que perdi temporariamente o olfato, o paladar e tive uma grande falta de ar”.

A reportagem questionou o momento pelo qual decidiu procurar ajuda médica. “Resolvi buscar ajuda quando se iniciaram os sintomas respiratórios [dor de garganta, coriza, febre, tosse, dor no corpo]. No meu caso, eu já imaginava que estava com a doença, mas quem não imagina que possa estar contaminado precisa ficar atento ao aparecimento da falta de ar aliada a outros sintomas. É muito importante não se automedicar e buscar orientação médica. No meu caso, conforme a orientação da vigilância epidemiológica, me mantive em isolamento sem ter contato com o meio externo, fiquei em repouso, fiz uso de antitérmico e cuidei da hidratação, conforme orientação do médico pneumologista que me examinou ao fazer a coleta para diagnóstico e fiquei atento aos sinais e aos sintomas, e fui monitorado via telefone pela vigilância epidemiológica. Com o passar dos dias, os sintomas foram diminuindo e notei melhora. Eu me sentia muito fraco, pois foram 12 dias com febre na cama e com demais sintomas. Agora, não tenho mais nenhum sintoma, apenas fraqueza”, acrescenta. Ele já está recuperado e de volta ao trabalho e diz não ter percebido sequelas.

Ele relatou ainda a apreensão durante o isolamento: “Não é fácil, principalmente eu, que moro sozinho. Você fica apreensivo, pois você vê na mídia que é uma doença nova, grave e que mata e vê que não tem tratamento específico. Eu procurei não ficar pensando muito e focar na recuperação e atento se teria piora dos sintomas”.

Veja a entrevista completa com o médico Gabriel Afonso Dutra Kreling, um dos responsáveis pela Ala Covid-19 no HU: